SóProvas


ID
1659634
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Rio Pomba - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         Crônica da vida que passa

      Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.

      A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam‐se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, côa‐as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.

      Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz.

      E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê‐lo. Deixar‐se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo‐instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos.

      Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna‐se‐me inegável; parece‐me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos.

(PESSOA, Fernando. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.]. p. 66‐67.)

Considerando o trecho “[...] tornam‐se de vidro as paredes de sua vida doméstica; [...]" (2º§), é correto afirmar que o autor emprega como recurso da linguagem uma

Alternativas
Comentários
  • A metáfora também se baseia na relação de similaridade entre o sentido próprio e o figurado, mas emprega tais termos de forma que o conectivo comparativo fique omitido, subentendido.

    A Analogia traz consigo um conectivo comparativo, ou seja, um termo que une os objetos comparados e podem ser: que, do que (depois de mais, maior, melhor ou menos, menor, pior).


  • Resposta: Letra C.

    O trecho em análise é uma metáfora, visto que estabelece comparação implícita. Não é analogia, pois essa figura de linguagem apresenta conector comparativo -- como, tal qual, que nem etc. --, que não ocorre nessa parte do texto. Em relação a seu significado, a transformação das paredes da vida privada em vidro representa, simultaneamente, a exposição completa da vida doméstica e a fragilidade decorrente dessa exposição excessiva.

    Espero ter contribuído...

    Abraços!

  • 2 - Metáfora – compara seres com outros seres

    Trata do emprego da palavra fora do seu sentido básico, recebendo nova significação por uma comparação entre seres universos distintos.

    Exemplos:

    Senti a seda do seu rosto em meus dedos.

    Evanildo Bechara – uma fera da gramática – é o melhor atualmente.

    Trânsito: A cadeia alimentar.



    Fonte: Pestana

  • Até que enfim.. uma questão da IDECAN que tem lógica! 

  • GABARITO: LETRA C

    Metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

    “Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

    FONTE: BRASILESCOLA.UOL.COM.BR