SóProvas


ID
1659640
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Rio Pomba - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         Crônica da vida que passa

      Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.

      A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam‐se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, côa‐as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.

      Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz.

      E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê‐lo. Deixar‐se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo‐instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos.

      Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna‐se‐me inegável; parece‐me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos.

(PESSOA, Fernando. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.]. p. 66‐67.)

Dentre os trechos destacados a seguir, assinale o argumento utilizado para defender as ideias apresentadas no texto.  

Alternativas
Comentários
  • Entendo que as alternativas A e C demonstram trechos onde o autor dá sua opinião sobre a celebridade. A alternativa B expõe o sentimento do autor acerca das pessoas célebres. Apenas na alternativa D ele explica um dos motivos que o leva a essa opinião.

    Me corrijam caso haja qualquer engano.
  • a) “A celebridade é um plebeísmo." (2º§) >>> ideia 1

    b) “[...] sinto por eles toda a tristeza da celebridade." (1º§) >>> expressa o sentimento do autor em relação às pessoas célebres

    c) Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição." (3º§) >>> ideia 2

    d) [...] inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo [...]" (2º§) >>> ARGUMENTO que defende as ideias apresentadas

  • nessa questão fiquei entre AeC respondi a C por ser mais completa,,, na D há argumentos porém não tão centrais como a "C"