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ID
167344
Banca
FCC
Órgão
TJ-PI
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

        Nos anos 90, o Brasil estabilizou sua economia e deslanchou um importante processo de reformas estruturais, com o forte impulso dado à privatização e à reorientação da política social. Tais mudanças, não é preciso repetir, deram-se como resposta ao precedente modelo de crescimento via substituição de importações, por um lado, e à aceleração da globalização, por outro. Esse conjunto de transformações alterou profundamente as percepções e estratégias "normais" de ascensão social, cujo horizonte deixa de ser apenas individual para tornar-se coletivo. De fato, milhões de brasileiros passam a experimentar a mobilidade social em um contexto de mudança no plano das identidades coletivas; de mudanças que dizem respeito não apenas a taxas ou a padrões individuais de mobilidade, mas ao próprio sistema de estratificação social. A classe C deixa de ser "baixa" e começa a ser "média", disputando espaço com os estratos situados imediatamente acima dela - ou seja, as classes médias tradicionais.
         Na análise da ascensão da classe C, a questão central é a da sustentabilidade. Se a nova classe média resulta, em grande parte, do encurtamento de distâncias sociais em função da difusão do consumo, como irão seus integrantes gerar a renda necessária para sustentar os novos padrões? Serão sustentáveis ? ou antes, sob que condições serão sustentáveis - os índices de expansão do que se tem denominado a "nova classe média"?
        Dada a extrema desigualdade no perfil brasileiro de distribuição de renda, os bons e os maus caminhos bifurcam-se logo adiante. Por um lado, por si só a megamobilidade social a que fizemos referência implica redução das desigualdades de renda. Por outro, o risco de fracasso é alto, o que significa estagnação e, no limite, dependendo de circunstâncias macroeconômicas, até regressão na tendência de melhora na distribuição de renda.
      Deixando de lado a dinâmica macroeconômica, concentramos nossa atenção em fatores ligados à motivação e à autocapacitação (denominados fatores weberianos) na formação de novos valores sociopolíticos.
        De fato, o crescimento econômico dos últimos anos traduziu-se em forte expansão da demanda por bens e serviços. Mas as oscilações da renda familiar geradas por empregos pouco estáveis ou atividades por conta própria sinalizam dificuldades para as faixas de renda mais baixa manterem o perfil de consumo ambicionado. Endividando-se além do que lhes permitem os recursos de que dispõem, as famílias situadas nesse patamar defrontam-se com um risco de inadimplência que passa ao largo das famílias da classe média estabelecida.

(Amaury de Souza e Bolívar Lamounier. O Estado de S. Paulo, Aliás, J5, 7 de fevereiro de 2010, com adaptações)

Os autores do texto

Alternativas
Comentários
  • "De fato, o crescimento econômico dos últimos anos
    traduziu-se em forte expansão da demanda por bens e serviços".


    Imagino que a letra D), que é a resposta, se baseia em parte do texto acima transcrita,porém discordo do gabarito,pois, não há defesa e sim concordância, por parte dos autores, com o crescimento econômico devido a expansão de bens e serviços.
  • Questão complicada. De fato, o autor enaltece o crescimento do capital movimentado pelo setor de bens e serviços, mas faz uma ressalva logo em seguida, de modo que ele não apenas diz que essa seja a mola, mas também chama a atenção para o risco de estagnação que a instabilidade do trabalhador no seu emprego pode causar. Observe:
    "De fato, o crescimento econômico dos últimos anos traduziu-se em forte expansão da demanda por bens e serviços. Maaaaaaassssssssssss as oscilações da renda familiar geradas por empregos pouco estáveis ou atividades por conta própria sinalizam dificuldades para as faixas de renda mais baixa manterem o perfil de consumo ambicionado."
    Marquei a alternativa A. Apesar de o gabarito discordar de mim, eu entraria com recurso, e provavelmente ganharia.

  • As letras C, D e E estão corretas, ficando a cargo do candidato avaliar a opinião do avaliador, não do escritor do texto.

    A -> não apontam ganhos efetivos da classe média como um todo, apenas de uma parcela que passou a ser classe média, a classe C

    B -> não faz o menor sentido.

    C -> Sim: o texto fala em valores sociais "concentramos nossa atenção ... na formação de novos valores sociopolíticos" e há uma crítica ao consumo desenfreado "consumo ambicionado", apesar de não ser uma crítica ao consumo em si, por isto é dúbia.

    D -> Sim: é bem clara a opinião do autor. No entanto, a opção é dúbia pois a defesa de tal opinião não é a tese sendo defendida no texto; não é o ponto principal do texto;  é um mero pressuposto, dentre tantos outros, sobre o qual o autor constrói sua argumentação

    E -> Sim; é bem claro, há vários argumentos que corroboram para tal afirmação:  "... dificuldades para as faixas de renda mais baixa manterem o perfil de consumo ambicionado" "Endividando-se além do que lhes permitem .... ". 


    Não é verdade que provas discursivas de interpretação são bem menos polêmicas do que as objetiva?  O fato de errar questões objetivas de interpretação não significa ser mal leitor, o avaliador não é dono da verdade e você tem direito a ter sua opinião divergente. O grande ponto deste tipo de questão não é chegar na melhor resposta, mas sim focar na estratégia leve ao resultado: eliminar aquelas que certamente estão erradas e chutar rápido dentre aquelas que podem estar corretas. Não adianta perder tempo esmiuçando os enunciados rebuscados, que de tão confusos confundem aos próprios avaliadores, que também são seres humanos com suas limitações na sua

    capacidade de se expressar. Eu sou da opinião que interpretação de texto (entenda-se: a taxa de acerto de suas questões objetivas) é uma das poucas coisas que não melhora com o exercitamento.



  • "censuram a expansão sem controle do consumo, por ser fator de inadimplência de expressivo contingente da população."

     

    Meus pares, os elaboradores utilizaram a técnica da inferência empática com vcs, ou seja, hora nenhuma o texto falou da "expansão sem controle" do consumo.

    Essa hipérbole não está em lugar nenhum do texto, que fala sim em oscilação da renda familiar gerada por empregos pouco estáveis ou atividades por conta propria.

    E dívida além do que lhes permitem os recursos de que dispõem.

    Cuidado ao analisar o texto.