SóProvas


ID
1680427
Banca
FCC
Órgão
CNMP
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O sino d e ouro
    [...] − mas me contaram em Goiás, nessa povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são parados e doentes e indolentes, e mesmo a igreja é pequena, me contaram que ali tem − coisa bela e espantosa − um grande sino de ouro.
    Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grã-senhor − nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos tempos de antigamente.
    É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas sobre as matas e os cerrados, e as veredas de buritis, e a melancolia do chapadão, e chega ao distante e deserto carrascal, e avança em ondas mansas sobre os campos imensos, o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do mundo em procura de Deus − gemidos, gritos, blasfêmias, batuques, sinos, orações, e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as explosões − eles sabem que Deus, com especial delícia e alegria, ouve o som alegre do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem, o mais pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro. [...]
    Mas quem me contou foi um homem velho que esteve lá; contou dizendo: “eles têm um sino de ouro e acham que vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de ouro”.
    O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo deve ser ouvir um sino de ouro. Com certeza é esta mesma a opinião de Deus, pois ainda que Deus não exista ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrução*, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão.
        *corrução = corrupção (regionalismo)
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Global, 1999, 10 ed. p. 131-132)

O desenvolvimento do texto salienta, especialmente,

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C.

    Justifica o gabarito:

    Lembrança de antigo esplendor (aponta para a riqueza em tempos passados), gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grã-senhor − nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos tempos de antigamente.

     É apenas um sino, mas é de ouro (ou seja, não é qualquer sino - presença da conjunção adversativa "mas").

    “eles têm um sino de ouro e acham que vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de ouro”. Ou seja, a existência do sino desperta deslumbramento.


    Bons estudos!



  • Sobre a letra d:

    "O esforço de uma população que vive sem recursos..."

     

    Não se pode dizer que havia "esforço" da população, pois, segundo o próprio texto: “eles têm um sino de ouro e (...) vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver" (4º §, linha 12).

    Toda interpretação tem que ser baseada no texto, por isso é importante voltar e reler.

  • Maria Spinola, Mas na alternativa d) o esforço é em relação a demonstrar sua fé e não esforço de trabalhar, me corrijam se eu estiver errado, mas se uma comunidade para tudonão se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver" (4º §, linha 12). em razão de sua fé, então o esforço que, em ocasião normal, estaria sendo direcionado para o trabalho, esta agora sendo direcionado para sua fé ! então a alternativa d) está correta também !

    Sei que vai ter muita gente dizendo "que não adianta brigar com a banca etc etc etc...."  Mas tem coisa que nem "forçando a barra" da pra engolir. E se ninguem "brigasse" com a banca, teriamos que engolir essa enchurrada de questões anuladas que veem aparecendo nos ultimos tempos, ( basta procurar aqui no qc mesmo pelas questões anuladas), que alias só foram anuladas porque alguém resolveu "brigar com a banca".

    bom estudos a todos.