SóProvas


ID
1717480
Banca
IBFC
Órgão
EMBASA
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

                                            Os bolsos do morto

                                                                                                          (Luis Fernando Veríssimo)

      O morto não é exatamente um amigo. Mais um conhecido, mas daqueles que você não pode deixar de ir ao velório. E lá está ele, estendido dentro do caixão forrado de cetim, de terno azul-marinho e gravata grená, esperando para ser enterrado.

       Se fosse um amigo você ficaria em silêncio, compungido, lembrando o morto em vida e lamentando sua perda. Como é apenas um conhecido, você comenta com o homem ao seu lado - que também não parece ser íntimo do morto:

       - Poderiam ter escolhido outra gravata...

       - É. Essa está brava.

       - Já pensou ele chegando lá com essa gravata?

       - “Lá” onde?

       - Não sei. Onde a gente vai depois de morto. Onde vai a nossa alma.

       - Eu acho que a alma não vai de gravata.

       - Será que não? E de fatiota?

       - Também não.

       - Bom. Pelo menos esse vexame ele não vai passar.

       - Você é da família?

       - Não. Apenas um conhecido.

       Você examina o morto. Engraçado: ele vai partir para a viagem mais importante, e mais distante, da sua vida, mas não precisa carregar nada. Identidade, passaporte, nada. Nem dinheiro, o que dirá cheques de viagem ou cartões de crédito. Nem carteira!

       Você diz para o outro:

       - A coisa mais triste de um defunto são os bolsos. O outro estranha.

       - Como assim?

       - Os bolsos existem para carregar coisas. Coisas importantes, que definem sua vida. CPF, licença para dirigir, bloco de notas, caneta, talão de cheques, remédio para pressão...

       - Pepsamar...

       - Pepsamar, cartão perfurado da Sena, recortes de artigos sobre a situação econômica, fio dental... Isso sem falar em coisas com importância apenas sentimental. Por exemplo: um desenho rabiscado por uma possível neta que parece, vagamente, um gato, e que ele achou genial e guardou. Entende?

       - Sei.

       - E aí está ele. Com os bolsos vazios. Despido da vida e de tudo que levava nos seus bolsos, e que o definia. O homem é o homem e o que ele leva nos bolsos. Poderiam ter deixado, sei lá, pelo menos um chaveiro.

       - Você acha?

       - Claro. As chaves da casa. As chaves do carro. Qualquer coisa pessoal, que pelo menos fizesse barulho num bolso da fatiota, pô!

       Você se dá conta de que está gritando. As pessoas se viram para reprová-lo. “Mais respeito” dizem as caras viradas. Você faz um gesto, pedindo perdão. Sou apenas um conhecido, desculpem. Mas continua, falando mais baixo:

       - A morte é um assaltante. Nos mata e nos esvazia os bolsos.

       - Sem piedade.

       - Nenhuma.

Vocabulário:

Fatiota - roupa de melhor qualidade, usada em situações mais formais

Pepsamar - tipo de medicamento 

Considere o fragmento abaixo para responder a questão.

"- Claro. As chaves da casa. As chaves do carro. Qualquer coisa pessoal, que pelo menos fizesse barulho num bolso da fatiota, pô!“ (25°§)

Adjetivos ou locuções adjetivas são termos que acompanham substantivos caracterizando-os. Desse modo, assinale a única opção cuja palavra destacada NÃO cumpra esse papel caracterizador.

Alternativas
Comentários
  • Questão (C) - a palavra Barulho é um substantivo que se refere ao Verbo (fizesse).

  • O vocábulo barulho tem como classificação morfológica substantivo. Sendo assim, substantivo pode funcionar sintaticamente como núcleo do sujeito e complemento verbal. Na questão proposta, barulho complementa o verbo fizesse.

  • Há tá que BARULHO é advérbio.

     

    SE NÃO SABES, NÃO COMENTES.

  • So complementando, os termos destacados nas alternativas (a), (b) e (d) exercem papel adjetivo e funcao sintatica de Adjunto Adnominal. As alternativas (a) e (d) poderiam gerar duvida quanto a se tratar de Complemento Nominal (devido a presenca de preposicao). Entretanto, uma vez que os termos destacados se referem a substantivos concretos, exercem funcao sintatica de Adj. Adnominal. O mesmo ocorreria caso se referissem a substantivos abstratos com uma ideia passiva. Ja' se a ideia fosse ativa, seria caso de Complemento Nominal. E' bom saber bem a diferenca entre os dois casos, pois as bancas gostam de explora-la.

  • nessas questões, tenta flexionar para ver ser dar certo, barulho não flexionou kkkkkkkk

  • Vinícios, cuidado. Você está fazendo uma análise sintática (excelente por sinal), mas não é o que a questão pede. Ela pede análise morfológica e se você não cuidar bem de fazer essa diferença pode acabar caindo em alguma pegadinha. Ela só queria saber se BARULHO é adjetivo ou substantivo. É substantivo.

  • a) “As chaves da casa” ( UMA CHAVE ESPECÍFICA)

     b) Qualquer coisa pessoal” (UM ASSUNTO ESPECÍFICO) 

     c) “pelo menos fizesse barulho” (FIZESSE O QUE ? BARULHO OBJETO DIRETO, MORFOLOGICAMENTE SUBSTANTIVO, NESTE CASO)

     d) “num bolso da fatiota”  (NUM BOLSO ESPECÍFICO)

  • por isso que n comento, pra n falar besteira sem saber
  • Admito q não sabia o q significa Fatiota, nunca tinha ouvido falar.

  • A- As chaves da casa --- da casa preposição + substantivo - Locução Adjetiva.

    B- Qualquer coisa pessoal --- Adjunto adnominal - Substantivo + adjetivo

    C- Pelo menos fizesse barulho --- Verbo - Objeto direto - barulho seria substantivo

    D- Num bolso da fatiota --- da fatiota preposição + substantivo - Locução adjetiva