Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar
as pessoas a levar uma vida “correta" no maior número
possível das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa
tornou-se uma das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes
empenhados em arbitrar o que é realmente bom para
você. É uma provação permanente. Médicos, nutricionistas,
personal trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à
forma física, ambientalistas, militantes da produção orgânica,
burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e mais
uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho expedem
decretos cada vez mais frequentes, e cada vez mais severos,
sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato é que
toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções,
acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em
torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer
de comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer
certo. Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar
pouco para fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou
mais, praticamente sem ter feito uma única refeição decente
na vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo sombrio
de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e sabe-se
lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o que se ganha
em toda essa história. A perspectiva de morrer, um dia, no
peso ideal?
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o
autor,