SóProvas


ID
1744804
Banca
INSTITUTO CIDADES
Órgão
Prefeitura de Palmeiras de Goiás - GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                           Texto

                                                História de bem-te-vi

                                                                                                                           Cecília Meireles

   

  Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa só de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
      Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e "querejuás todos azuis de cor finíssima...". Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura...
       Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
      E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
       O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: "...te-vi! ...te-vi", com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
      Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão — como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? — animou-se a uma audácia maior Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: "...vi! ...vi! ...vi! ..." o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
      O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol — que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
      Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar E cantava assim: "Bem-bem-bem...te-vi!" Pensei: "É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!..." Depois, o passarinho mudou. E fez: "Bem-te-te-te... vi!" Tornei a refletir: "Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando..." E o passarinho: "Bem-bem-bem...te-te-te...vi-vi-vi!"
      Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: "Que engraçado! Um bem-te-vi gago!"
      (É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)

         Texto extraído do livro “Escolha o seu sonho", Editora Record – Rio de Janeiro, 2002, pág. 53

Segundo a autora, o que a leva a crer sobre os bem-te-vis é:

Alternativas
Comentários
  • Questão que exige muita atenção por parte do candidato, uma vez que a ideia sobre "especulação imobiliária" não está expressa no texto, mas subentendida. Vejamos este trecho: "Por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore". Devido à especulação, as casas são destruídas. Constroem-se apartamentos ou prédios comerciais, reduzindo-se as áreas verdes.

  • Extinção significa desaparecimento definitivo de uma espécie de ser vivo. 
    Se no texto ela menciona que encontrou alguns Bem-te-vis, então ele não está em extinção, logo, a letra A está errada.
    E como o próprio enunciado diz "Segundo a autora", a letra B se encaixa mais que a letra A.

    Se for pelo pensamento da Stephanie abaixo, o enunciado deveria ser sobre os antigos passarinho não mais vistos, ou então mudar a letra A para estão quase extintos por causa da especulação imobiliária. O que não foi o caso. Não concordo com o gabarito.

  • Amigos, também não consigo ver relação com o gabarito da questão, visto que no texto diz: ±  O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno,±.... logo da a entender que a alternativa B e a mais correta entre todas.


  • Quando o enunciado diz: "...o que leva a crer" representa uma inferência textual, ou seja, não estará contido expressamente no texto, portanto, "mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore" 

    Ou seja, infere-se que conforme forem deixando de existir esse modelo de casa com árvores, os bem-te-vis deixarão de existir no local. Logo, por meio da especulação imobiliária