SóProvas


ID
1744819
Banca
INSTITUTO CIDADES
Órgão
Prefeitura de Palmeiras de Goiás - GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                           Texto

                                                História de bem-te-vi

                                                                                                                           Cecília Meireles

   

  Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa só de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
      Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e "querejuás todos azuis de cor finíssima...". Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura...
       Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
      E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
       O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: "...te-vi! ...te-vi", com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
      Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão — como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? — animou-se a uma audácia maior Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: "...vi! ...vi! ...vi! ..." o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
      O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol — que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
      Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar E cantava assim: "Bem-bem-bem...te-vi!" Pensei: "É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!..." Depois, o passarinho mudou. E fez: "Bem-te-te-te... vi!" Tornei a refletir: "Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando..." E o passarinho: "Bem-bem-bem...te-te-te...vi-vi-vi!"
      Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: "Que engraçado! Um bem-te-vi gago!"
      (É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)

         Texto extraído do livro “Escolha o seu sonho", Editora Record – Rio de Janeiro, 2002, pág. 53

Marque a opção que traz as formas corretas quanto à norma culta para a substituição do que foi destacado em “ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa", respectivamente:

Alternativas
Comentários
  • onde. locuçáo =em que

  • O verbo auxiliar ("deve") também ficará na terceira pessoa do singular, acompanhando o verbo principal ("haver"), que, no sentido de existir, é sempre verbo impessoal, ou seja, não tem sujeito. Observe que na oração: "Ainda deve haver bairros afortunados", o sujeito é inexistente, e "bairros afortunados" exerce a função sintática de objeto direto da locução verbal "deve haver".

  • Gab: A.


    QUANDO SE DEVE USAR “ONDE” E “EM QUE”


    ONDE – Só equivale a EM QUE quando se refere a LUGAR FÍSICO.
    Exemplo:
    Está é a cidade ONDE nasceu Florisvaldo.
    NÃO se tratando de LUGAR FÍSICO, deve­se usar EM QUE, NO QUAL, NA
    QUAL, NOS QUAIS, NAS QUAIS.
    Exemplos:
    A cirurgia EM QUE atuei.
    O dia EM QUE nasceu Jesus.
    A reunião EM QUE se garantiu o acordo.
    Nas oportunidades EM QUE eles se encontraram.
    A norma EM QUE se baseou o relatório final.



    David Fares

    Enviado por David Fares em 01/12/2010
    Código do texto: T2647000
    Classificação de conteúdo: seguro


    http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/2647000

  • Por que o verbo não se flexionou?

  • GABARITO :  A

    “ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa" = ainda deve haver bairros afortunados em que haja uma casa.

     

    * O verbo haver com valor existencial é impessoal. Segundo as normas de concordância verbal, auxiliares de verbos impessoais ficam sempre na 3ª pessoa do singular, daí não haver flexão do verbo dever na substituição acima. 

    * Onde (pronome relativo) = em que

  • EXISTEM SINÔNIMO HAVER - EXISTIR NO SINGULAR =  HAVER 
    ONDE = EM QUE