- ID
- 1748878
- Banca
- UFF
- Órgão
- Prefeitura de São Gonçalo - RJ
- Ano
- 2012
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
1 Ponte Vecchio, tesouro arquitetônico e
coração turístico de Florença. A multidão ignora a
deslumbrante perspectiva das pontes que se
sucedem e se refletem no espelho do Rio Arno. Os
olhos se voltam para grosseiras imitações de
marcas famosas que imigrantes africanos, com os
olhos assustados e gestos nervosos dos sem
documentos, espalham pelo chão.
2 Um quarteirão adiante, a sede mundial de
um dos ícones da moda, instalada em um palácio
renascentista, garante a autenticidade de sua
marca, símbolo de elegância e nobreza. O palácio
é frequentado por poucos. A ponte é um
formigueiro humano. Verdadeira ou falsa, todos
usam a mesma marca.
3 A publicidade associa uma bolsa a um
estilo de vida como se dentro dela viessem a
felicidade e o refinamento. Quem não tem acesso
ao produto verdadeiro compra na calçada, ao
preço do camelô, a ilusão de uma vida que não tem
e não terá, mas encena como real. Assim é se lhe
parece.
4 Uma celebridade vende a peso de ouro sua
imagem para associar seu nome a uma
determinada marca. Marcas famosas não
precisam produzir beleza ou qualidade. O que elas
produzem passa a ser o padrão de beleza e
qualidade. Seu valor é simbólico, muito mais do
que real. Símbolos cobiçados mesmo sabendo
tratar-se de uma contrafação. Mas um dia o feitiço
se volta contra o feiticeiro.
5 Anders Breivik, assassino de jovens na
Noruega, sinistra celebridade pela carnificina que
provocou, ostenta orgulhoso as camisas de
renomada marca. No manifesto psicótico que
lançou na rede sugere que gente refinada como
ele deveria vestir-se assim. Sem
arrependimentos, apresenta-se como padrão de
elegância. A tentativa da empresa dona da marca
de impedi-lo de vestir sua camisa fracassou. Na
Noruega, o tratamento dado aos presos, por mais
repugnante que tenha sido o crime, é respeitoso.
Desastrosa reversão de expectativas, uma
anti-propaganda de alcance mundial.
6 Os promotores de marcas famosas sabem
− e é a chave do seu sucesso − que as
necessidades têm limites, mas os desejos, não.
Não previram que assassinos, corruptos,
mafiosos, cada vez mais numerosos e milionários,
se enfeitariam com suas grifes na tentativa de
ascender a uma suposta elite. Agora a publicidade
terá que rever suas estratégias e proteger as
marcas desvinculando-as de rostos − que ninguém sabe o que farão −, renunciando à sua
vocação de vendedora de sonhos e
aproximando-se do mundo real, terreno mais
seguro e convincente.
(OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. O Globo: 17/09/2011.)
No parágrafo primeiro, o adjetivo usado, não para fazer uma avaliação pessoal do que é visto em Florença, mas para documentar objetivamente a realidade observada, encontra-se em: