SóProvas


ID
1785682
Banca
CRS - PMMG
Órgão
PM-MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                Corda sensível

pequena Maria, apertando na mão uma fatia de pão com manteiga, olhava extasiada. A cor azul escura da casimira, sob a claridade noturna que enchia a sala, modelava macieza de veludo e fingia reflexos de roxo. Nas ombreiras do fardão poisavam as dragonas maciças, de grande gala, com o seu chuveiro de torçais de ouro; e na frente o papo se escancarava, deixando ver a tela de croché, com que se costuma proteger as mobílias. A um lado corriam-lhe os oito botões, cada um crescido como um olho-de-boi...
Mas, quando a pequena deu com o empastamento de condecorações que encobria lado a lado o peito ao fardão, não pôde resistir ao chamariz, e pondo um joelho à beira do assento e com os bracinhos estirados agarrando-se aos braços da cadeira, subiu, apesar do balanço. As mangas da farda começaram então um movimento de pêndulo, roçando no tapete os canhões encastoados pelas pesadas divisas de coronel. O amor ao equilíbrio forçou a pequena Maria a ir com a mão ao tope da cadeira, e aí, olha lá manteiga pelas abas.
Acode naquela cabecinha castanha uma ligeira idéia de remorso, e o que há de mais simples é deixar as coisas como estavam. A esse tempo brilhavam no escuro da rua, à altura do peitoril da janela, os olhos da filha do cabo de ordens, que espiava para dentro, pode ser que arrastada pelo cheiro da ceia, cujos tirlintintins se ouvia. Que ótimo desvio! E as duas começaram a conversar-se na janela, como pessoas sisudas; bem entendido, a pequena do cabo de ordens comendo o enfastiado pão com manteiga, a célebre fatia.
No dia seguinte, quando a criada veio sacudir os móveis, caiu das nuvens, coitada! Cada rombo deste tamanho, afora uma porção de relidinhas, na casimira do fardão, de modo que a intertela e os recheios do peitilho estava tudo estripado e esbrugado. Conseqüência: um ódio entranhado aos ratos. Os cantos da casa povoaram-se de ratoeiras. Era um nunca acabar.
Pois, senhores, roerem a mais linda, a mais garbosa, a mais rica, a mais nobre farda da província?! Ah! se o coronel pudesse estrepar toda a ratagem unânime das nações na ponta de seu gládio!
Em um amanhecer de abril, sofrivelmente belo, a criada, deixando para mais tarde a visita às ratoeiras, aconteceu que ajuntaram-se à pequena Maria o pequeno Manuel e o caçula, e foram despescar, por sua conta e risco, as da despensa. O cabeça do motim, que todos sabem ser a senhora dona Maria, como lhe chama a mãe quando se enfeza, não teve mais o que fazer, e, cercada pelos dois bargados consócios, assentou-se no chão, depondo a ratoeira sobre o pano do vestido que se fazia entre as duas perninhas abertas.
A ratoeira não era mais de que uma cúpula de arame cozida a uma rodelazinha de pinho. Dentro, porém, havia era um bicho cinzento e uma porção de bichinhos vermelhos, da cor dos dedinhos do caçula: fenômeno raro, que provocou uma gritaria hilariante, aliás inconveniente, porque atrás acudiram a criada, a mamãe e até o coronel, a ver o que fazia aquela troça de quenquéns.
Maria estava metendo a mão para abocanhar a bicharada – em tempo de ser mordida! – e o Manuel procurava também se havia outro buraco onde ele pudesse meter a dele.
– Virgem Maria! – vozeava a criada.
– Isto é o diabo! – roncava o coronel.
Recuaram todas as mãos, e a curiosidade das criancinhas foi achar nos olhos delas o desejado e inviolável refúgio.
A mamãe, porém, encarando o caso, juntou as mãos enternecidamente, e, cobrindo o marido e os três filhinhos com um daqueles olhares que só em mulheres se depara, exclamou cheia de profundo sentimento materno:
– Espera, que é uma ratinha que deu à luz na ratoeira!
O duro militar ficou basbaque. Enquanto a rata puérpera, impunemente, pacatamente, com o salvo-conduto de sua boa estrela de mãe, Saia, como um anão no meio de enormes gigantes de conto de fada, e galgava novamente as prateleiras prenhes de queijo. A ninhada se amontoava no regaço da pequena Maria, - uma porção de bichinhos vermelhos, da cor das carnes tenras do caçula, cujo corpinho nu estava ali acocorado, a alma de criança aberta nuns olhos admirativos, exclamando com jubilosa admiração:
– Uói! - apontando para os ratinhos com o dedinho vermelho.

PAIVA, Manoel de Oliveira. Corda Sensível. Rio de Janeiro: Graphia, 1993.
Disponível em: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos. Acessado em 30/10/2014.

Leia o extrato a seguir e responda qual é a figura de linguagem correspondente.

Enquanto a rata puérpera, impunemente, pacatamente, com o salvo-conduto de sua boa estrela de mãe, Saia, como um anão no meio de enormes gigantes de conto de fada."

Alternativas
Comentários
  • Saia, como um anão no meio de enormes gigantes de conto de fada."

    Comentário: Conjunção comparativa: "Ela saia, como se fosse ...". No caso da omissão do termo comparativo, poderíamos subentender uma metáfora.

    Ex. do período composto em questão, em espécie metafórica.

    "(Ela) Saia, parecendo um anão no meio enormes .."

  • Gabarito : Letra D. 

  • d) Comparação.

     

    Comparação - Consiste em pôr em confronto pessoas ou coisas, a fim de lhes destacar semelhanças, características, traços comuns, visando a um efeito expressivo. Na comparação os dois termos vêm expressos e unidos por nexos comparativos (como, tal, qual, assim como...).

     

    Exemplo: Eles não têm ideal: são como folhas levadas pelo vento. 

     

    FONTE: CEGALLA.

     

     

  •  Metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.Pode ser entendida como um artifício linguístico capaz de promover uma transferência de significado de um vocábulo para outro, através de comparação não claramente explícita.

    Exemplo:Aquela moça é uma “gata”. –  A metáfora ocorre porque implicitamente a moça é comparada a uma gata. Quer dizer que é encantadora, bonita, etc.

     

    Metonímia: consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido. 

    exemplos :Gosto de ler Machado de Assis= Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.

    Moro no campo e como do meu trabalho. = Moro no campo e como o alimento que produzo.

    Perífrase:Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. 

     Exemplo: A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.

    Comparação: Acontece quando é estabelecida entre palavras ou expressões uma relação comparativa explícita, marcada pela presença de termos  “como, assim como, tal como, igual a, que nem”, entre muitos outros. A comparação também pode ser feita a partir de verbos, como “parecer” e “assemelhar-se”.

    Exemplos: 

    Essa garotinha é linda como uma princesa.

    A família está reunida que nem na noite de Natal.

     

  • Na comparação os dois termos vêm expressos e unidos por nexos comparativos (como, tal, qual, assim como...)


    Saia, como um anão no meio de enormes gigantes de conto de fada."

  • FIGURAS DE PALAVRAS (TROPOS)

    a) Comparação: feito de forma explicita, com conectivos de comparação (com tal, tal qual, igual)

                   Ex: Eu sou Oficial tal como você / Você é como uma flor

    b) Metáfora: nasce de comparações entre seres, por meio da analogia, sem conectivos.

                   Ex: Aquela mulher é uma rosa

  • FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

    Elipse – Omissão de termo... “Somos” – “Nós”.

    Zeugma – Omissão de termo que já apareceu.

    Pleonasmo – Repetição de uma ideia.

    Inversão ou Hipérbato – Alteração da ordem...

    Silepse – Concordância com o que está implícito.

    Polissíndeto – Repetição de conectivos.

    Anacoluto – Termo solto na frase.

    Anáfora – Repetição de uma mesma palavra.

    FIGURAS DE PENSAMENTO

    Antítese – palavras contrárias. (vida e morte).

    Ironia – Sentido oposto ao real.

    Hipérbole – Exagero... (Morto de fome).

    Eufemismo – Suavizar

    Prosopopeia ou Personificação – característica humanas a seres inanimados.

    Gradação ou Clímax - progressão ascendente (Clímax) Decrescente (anticlímax). Hierarquia de termos.

    Apóstrofe – Vocativo

    Paradoxo – Oposição de Ideias. "Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar"

    Alegoria – Conjunto de Metáforas

    FIGURAS DE PALAVRAS

    Polissíndeto – repetição do mesmo conector.

    Catacrese – Ausência de termos específico. Ex.: Pé da mesa, Braço do Sofá.

    Metáfora: Comparação sem o “como”

    Comparação ou Símile: Comparação com o “como”.

    Perífrase: Substituição de um termo por outro equivalente. Rainha dos Baixinhos (Xuxa)

    Metonímia: Substituição do autor pela obra. A parte pelo todo. “A sala aplaudiu o professor.”

    Sinestesia: Mistura de sentidos. “Perfume doce” (Olfato + paladar)

    FIGURAS DE SOM

    Aliteração: Repetição de sons consonantais.

    Assonância: repetição de sons vocálicos.

    Paronomásia: Repetição de palavras com sons parecidos.

    Cacofonia: Som desagradável – “Vou-me Já.”.

    Onomatopeia: Sons de animais, ruídos ou coisas.

  • FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

    Elipse – Omissão de termo... “Somos” – “Nós”.

    Zeugma – Omissão de termo que já apareceu.

    Pleonasmo – Repetição de uma ideia.

    Inversão ou Hipérbato – Alteração da ordem...

    Silepse – Concordância com o que está implícito.

    Polissíndeto – Repetição de conectivos.

    Anacoluto – Termo solto na frase.

    Anáfora – Repetição de uma mesma palavra.

    FIGURAS DE PENSAMENTO

    Antítese – palavras contrárias. (vida e morte).

    Ironia – Sentido oposto ao real.

    Hipérbole – Exagero... (Morto de fome).

    Eufemismo – Suavizar

    Prosopopeia ou Personificação – característica humanas a seres inanimados.

    Gradação ou Clímax - progressão ascendente (Clímax) Decrescente (anticlímax). Hierarquia de termos.

    Apóstrofe – Vocativo

    Paradoxo – Oposição de Ideias. "Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar"

    Alegoria – Conjunto de Metáforas

    FIGURAS DE PALAVRAS

    Polissíndeto – repetição do mesmo conector.

    Catacrese – Ausência de termos específico. Ex.: Pé da mesa, Braço do Sofá.

    Metáfora: Comparação sem o “como”

    Comparação ou Símile: Comparação com o “como”.

    Perífrase: Substituição de um termo por outro equivalente. Rainha dos Baixinhos (Xuxa)

    Metonímia: Substituição do autor pela obra. A parte pelo todo. “A sala aplaudiu o professor.”

    Sinestesia: Mistura de sentidos. “Perfume doce” (Olfato + paladar)

    FIGURAS DE SOM

    Aliteração: Repetição de sons consonantais.

    Assonância: repetição de sons vocálicos.

    Paronomásia: Repetição de palavras com sons parecidos.

    Cacofonia: Som desagradável – “Vou-me Já.”.

    Onomatopeia: Sons de animais, ruídos ou coisas.

  • FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

    Elipse – Omissão de termo... “Somos” – “Nós”.

    Zeugma – Omissão de termo que já apareceu.

    Pleonasmo – Repetição de uma ideia.

    Inversão ou Hipérbato – Alteração da ordem...

    Silepse – Concordância com o que está implícito.

    Polissíndeto – Repetição de conectivos.

    Anacoluto – Termo solto na frase.

    Anáfora – Repetição de uma mesma palavra.

    FIGURAS DE PENSAMENTO

    Antítese – palavras contrárias. (vida e morte).

    Ironia – Sentido oposto ao real.

    Hipérbole – Exagero... (Morto de fome).

    Eufemismo – Suavizar

    Prosopopeia ou Personificação – característica humanas a seres inanimados.

    Gradação ou Clímax - progressão ascendente (Clímax) Decrescente (anticlímax). Hierarquia de termos.

    Apóstrofe – Vocativo

    Paradoxo – Oposição de Ideias. "Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar"

    Alegoria – Conjunto de Metáforas

    FIGURAS DE PALAVRAS

    Polissíndeto – repetição do mesmo conector.

    Catacrese – Ausência de termos específico. Ex.: Pé da mesa, Braço do Sofá.

    Metáfora: Comparação sem o “como”

    Comparação ou Símile: Comparação com o “como”.

    Perífrase: Substituição de um termo por outro equivalente. Rainha dos Baixinhos (Xuxa)

    Metonímia: Substituição do autor pela obra. A parte pelo todo. “A sala aplaudiu o professor.”

    Sinestesia: Mistura de sentidos. “Perfume doce” (Olfato + paladar)

    FIGURAS DE SOM

    Aliteração: Repetição de sons consonantais.

    Assonância: repetição de sons vocálicos.

    Paronomásia: Repetição de palavras com sons parecidos.

    Cacofonia: Som desagradável – “Vou-me Já.”.

    Onomatopeia: Sons de animais, ruídos ou coisas.

  • Como = Comparação

    Segue o BIZU e corre pro abraço!!!

  • Gabarito D

    Senhores, não é a primeira vez que observamos que a banca, cobra exaustivamente figuras de, de palavras. Dessa maneira, podemos destacar o uso da palavra COMO.

    Sendo portanto, a figura de palavra comparação

    Outros exemplos: Assim como, tal como...

  • A Comparação - essa figura consiste em considerar um conjunto de objetos para procurar suas semelhanças e diferenças. Uma comparação completa compreende quatro elementos: • o termo real • o termo figurado • o conector • o ponto de comparação Assim, na frase Heitor é forte como um touro, Heitor é o termo real, touro é o termo figurado, como é o conector e forte é o ponto de comparação.

    Metáfora - é uma espécie de comparação abreviada em que o conector não aparece expresso: Heitor é um touro, com os mesmos elementos da comparação. A metáfora aproxima duas realidades distintas. Trata-se da substituição de um termo “normal” por um outro pertencente a um campo semântico diferente, mas com semelhanças possíveis. A metáfora pode apresentar elementos implícitos e, algumas vezes, pode assumir a forma de uma perífrase: A pérola das Antilhas (=Haiti)