SóProvas


ID
1796368
Banca
FUNCAB
Órgão
CRF-RO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Você sabe com quem está falando?

      Não nos parece uma tarefa fácil conciliar desejos (que geralmente são ilimitados e odeiam controles) e a questão fundamental de cumprir regras, seguir leis e construir espaços públicos seguros e igualitários, válidos para todos, numa sociedade que também tem o seu lado claramente aristocrático e hierárquico. Um sistema que ama a democracia, mas também gosta de usar o “Você sabe com quem está falando?”. O nosso amor simultâneo pela igualdade e, a seu lado, o nosso afeto pelo familismo e pelo partidarismo governados pela ética de condescendência tão nossa conhecida, que diz: nós somos diferentes e temos biografia; para os amigos tudo, aos inimigos (e estranhos, os que não conhecemos) a lei!

      O resultado dessa tomada de posição, básica numa democracia, é simples, mas muitas vezes ignorado entre nós: a minha liberdade teoricamente ilimitada tem de se ajustar à sua, e as duas acabam promovendo uma conformidade voluntária com limites, com fronteiras cívicas que não podem ser ultrapassadas, como a de furar a fila ou a de dar uma carteirada.

      Na sua simplicidade, a fila é um dos melhores, se não for o melhor, exemplos de como operam os limites numa democracia. Seus princípios são simples e reveladores: quem chega primeiro é atendido em primeiro lugar. Numa fila, portanto, não vale o oculto. Ou temos uma clara linha de pessoas, umas atrás das outras, ou a vaca vai para o brejo. Quando eu era menino, lembro-me bem de como era impossível ter uma fila no Brasil.As velhas senhoras e as pessoas importantes (sobretudo os políticos) não se conformavam com suas regras e traziam como argumento para serem atendidos, passando na frente dos outros, ou a idade, ou o cargo, ou conhecimento com quem estava atendendo, ou algum laço de família. Hoje, sabemos que idosos e deficientes não entram em fila. Mas estamos igualmente alertas para o fato de que um cargo ou um laço de amizade não faz de alguém um supercidadão com poderes ilimitados junto aos que estão penando numa fila por algumas horas.

      Do mesmo modo e pela mesma lógica, ninguém pode ser sempre o primeiro da fila (e nem o último), como ninguém pode ser campeão para sempre. Se isso acontece, ou seja, se um time campeão mudar as regras para ser campeão para sempre, então o futebol vai pros quintos dos infernos. Ele simplesmente acaba com o jogo como uma disputa. Na disputa, o adversário não é um inimigo; numa fila, quem está na frente não é um superior. O poder ilimitado e congelado ou fixo em pessoas ou partidos, como ocorre nas ditaduras, liquida a democracia justamente porque ele usurpa os limites nos quais se baseia a fila.

                                                                                                                               DA MATTA, Roberto

                                                                                                      (Adaptado de revistatrip.uol.com.br.)

Em “nós somos diferentes e temos biografia", o autor utiliza um recurso expressivo que consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido, denominado:

Alternativas
Comentários
  • Quando você diz: "Leio Machado de Assis" , "Li ontem Rocha lima", isso nos dá ideia de Metonímia.


  • Metonímia: substituição por aproximação

  • Não vi metonímia. vi silepse:

    Nós somos diferentes e (nós) temos biografia.

  • a) Eufemismo: recurso utilizado para atenuar um pensamento desagradável ou chocante;

     

    b) Hipérbole: recurso de expressão que engrandece ou diminui de forma exagere;

     

    c) Sinestesia: Consiste no cruzamento de palavras que transmitem sensações diferentes. Tais sensações podem ser físicas ou psicológicas; 

     

    d) Silepse: Ocorre quando a concordância se faz com a ideia subentendida, e não com os termos expressos.

     

    e) Metonímia: É emprego de um nome por outro em virtude de haver entre eles algum relacionamento. Correto!

    recurso expressivo que consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido

     

     

  • Creio que a metonímia reside no emprego de biografia. Decerto, essa palavra foi utilizada pelo autor para avivar, tornar mais pitoresca, a ideia de diferença, representando-a pela ideia - esta real, de sentido literal - de importância. Na realidade, pura e simplesmente, o autor poderia ter dito: temos importância. Mas não. Prefereriu valer-se de um termo que intesificasse esse sentido. Existem um sem número de hipóteses de metonímia. A classificação, às vezes, é muito difícil. Talvez, nesse caso, haja a substituição da causa pelo efeito. Houve a substituição da importância - dos feitos de uma pessoa, das ações que executou em vida - pelo efeito - a biografia, o interesse por descrever e publicar os aspectos da vida de uma pessoa. Enfim, subjaz no uso de biografia a ideia mais ou menos assim: sou tão importante, tão superior, que tenho até biografia. Por fim, pode-se concluir, perfeitamente, que o autor lançou mão do processo de substituir uma palavra por outra em razão da contiguidade, da relação de sentido entre ambas. Sem dúvida, biografia nos evoca a ideia de importância, de relevo, de superioridade, pois nem todo mundo é biografado; biogafia não é algo banal.

     

  • Respondi pela característica que o enunciado deu.

     

    Gabarito "E"

  • Rogério Silva, se houve alguma assertiva apontando Zeugma tu poderias ficar em dúvda, mas silepse não. Dentre as figuras de omissão existentes (silepse, zeugma e assíndeto), caberia, na questão, relacionar apenas a zeugma, vez que seria a omissão de um termo já expresso na frase.

     

  • Fui na bica , E

  • Não havia encontrado a metonímia até ler o comentário de @Pedrito

    Realmente... ao falar "temos biografia", o autor quer demonstrar a superioridade... relacionada com o título do texto... "Você sabe com quem está falando?"...

    Não está no sentido denotativo de possuir biografia (narração oral, escrita ou visual dos fatos particulares das várias fases da vida de uma pessoa ou personagem), mas sim de pertencer a uma classe mais favorecida.

  • Gabarito E.

    A metonímia ocorreu na parte "temos biografia", onde o autor utilizou desse termo ao invés de "temos importância", "termos uma história".

    Metonímia = troca de um termo por outro de mesma similaridade. O próprio enunciado entrega a resposta na parte que fala "o autor utiliza um recurso expressivo que consiste em empregar um termo no lugar de outro"

  • GABARITO: LETRA E

    ACRESCENTANDO:

    Aliteração ⇝ Repetição de consoantes.

    Anacoluto ⇝ É a mudança repentina na estrutura da frase.

    Anáfora ⇝ Repetição de palavras em vários períodos ou orações.

    Antítese ⇝ Ideias contrárias. Aproximação sentidos opostos, com a função expressiva de

    enfatizar contrastes, diferenças.

    Antonomásia ⇝ Consiste em designar uma pessoa ou lugar por um atributo pelo qual é

    conhecido.

    Apóstrofe ⇝ Consiste no uso do vocativo com função emotiva.

    Assíndeto ⇝ A omissão de conectivos, sendo o contrário do polissíndeto.

    Assonância ⇝ Repetição de encontro vocálicos.

    Catacrese ⇝ Desdobramento da Metáfora. Emprega um termo figurado como nome de certo

    objeto, pela ausência de termo específico.

    Comparação ⇝ Compara duas ou mais coisas.

    Conotação ⇝ Sentido figurado.

    Denotação ⇝ Sentido de dicionário.

    Elipse ⇝ Omissão.

    Eufemismo ⇝ Emprego de uma expressão mais leve.

    Gradação/ Clímax ⇝ Sequência de ideias. Crescentes ou decrescente.

    Hipérbato ⇝ Inversão sintática.

    Hipérbole ⇝ Exagero em uma ideia/sentença.

    Ironia ⇝ Afirmação ao contrário.

    Lítotes ⇝ Consiste em dizer algo por meio de sua negação.

    Metáfora ⇝ Palavras usadas não em seu sentido original, mas no sentido figurado.

    Metonímia ⇝ Substituição por aproximação.

    Neologismo ⇝ Criação de novas palavras.

    Onomatopeias ⇝ Representação gráfica de ruídos ou sons.

    Paradoxo ⇝ Elementos que se fundem e ao mesmo tempo se excluem.

    Paralelismo ⇝ Repetição de palavras ou estruturas sintáticas que se correspondem quanto ao

    sentido.

    Paronomásia ⇝ Palavras com sons parecidos.

    Perífrase ou circunlóquio ⇝ Substituição de uma ou mais palavras por outra expressão.

    Personificação/ Prosopopeia ⇝ Atribuição de sentimentos e ações próprias dos seres

    humanos a seres irracionais.

    Pleonasmo ⇝ Reforço de ideia.

    Polissíndeto ⇝ O uso repetido de conectivos.

    Silepse ⇝ Concordância da ideia e não do termo utilizado na frase e possui alguns tipos. Pode

    discordar em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e pessoa (sujeito na

    terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa do plural.

    Símile ⇝ É semelhante à metáfora usada para demonstrar qualidades ou ações de elementos.

    Aproximação por semelhança.

    Sinédoque ⇝ Substituição do todo pela parte.

    Sinestesia ⇝ Quando há expressão de sensações percebidas por diferentes sentidos. Uma sensação visual que evoca um som, uma sensação auditiva que evoca uma sensação tátil, uma sensação olfativa que evoca um sabor, etc.

    Zeugma ⇝ Omissão de uma palavra que já foi usada antes.

    FONTE: RITA SILVA QC