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ID
1813291
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Além do Bastidor

    Começou com linha verde. Não sabia o que bordar, mas tinha certeza do verde, verde brilhante.
    Capim. Foi isso que apareceu depois dos primeiros pontos. Um capim alto, com as pontas dobradas como se olhasse para alguma coisa.
   Olha para as flores, pensou ela, e escolheu uma meada vermelha.
    Assim, aos poucos, sem risco, um jardim foi aparecendo no bastidor. Obedecia às suas mãos, obedecia ao seu próprio jeito, e surgia como se no orvalho da noite se fizesse a brotação.
    Toda manhã a menina corria para o bastidor, olhava, sorria, e acrescentava mais um pássaro, uma abelha, um grilo escondido atrás de uma haste. O sol brilhava no bordado da menina. 
    E era tão lindo o jardim que ela começou a gostar dele mais do que de qualquer outra coisa. 
    Foi no dia da árvore. A árvore estava pronta, parecia não faltar nada. Mas a menina sabia que tinha chegado a hora de acrescentar os frutos. Bordou uma fruta roxa, brilhante, como ela mesma nunca tinha visto. E outra, e outra, até a árvore ficar carregada, até a árvore ficar rica, e sua boca se encher do desejo daquela fruta nunca provada.
    A menina não soube como aconteceu. Quando viu, já estava a cavalo do galho mais alto da árvore, catando as frutas e limpando o caldo que lhe escorria da boca.
    Na certa tinha sido pela linha, pensou na hora de voltar para casa. Olhou, a última fruta ainda não estava pronta, tocou no ponto que acabava em fio. E lá estava ela, de volta na sua casa.
    Agora que já tinha aprendido o caminho, todo dia a menina descia para o bordado. Escolhia primeiro aquilo que gostaria de ver, uma borboleta, um louva-deus. Bordava com cuidado, depois descia pela linha para as costas do inseto, e voava com ele, e pousava nas flores, e ria e brincava e deitava na grama. 
   O bordado já estava quase pronto. Pouco pano se via entre os fios coloridos. Breve, estaria terminado.
   Faltava uma garça, pensou ela. E escolheu uma meada branca matizada de rosa. Teceu seus pontos com cuidado, sabendo, enquanto lançava a agulha, como seriam macias as penas e doce o bico. Depois desceu ao encontro da nova amiga.
    Foi assim, de pé ao lado da garça, acariciando-lhe o pescoço, que a irmã mais velha a viu ao debruçar-se sobre o bastidor. Era só o que não estava bordado. E o risco era tão bonito, que a irmã pegou a agulha, a cesta de linhas, e começou a bordar.
    Bordou os cabelos, e o vento não mexeu mais neles. Bordou a saia, e as pregas se fixaram. Bordou as mãos, para sempre paradas no pescoço da garça. Quis bordar os pés mas estavam escondidos pela grama. Quis bordar o rosto mas estava escondido pela sombra. Então bordou a fita dos cabelos, arrematou o ponto, e com muito cuidado cortou a linha.

COLASANTI, Marina. Além do Bastidor. In: Uma ideia toda azul. 22ª ed. São Paulo: Global, 2003. p. 14-17. 

“O produtor [do texto] elabora um projeto de dizer e desenvolve esse projeto, recorrendo a estratégias linguísticas, textuais, pragmáticas, cognitivas, discursivas e interacionais, vendo e revendo, no próprio percurso da atividade, a sua produção".

KOCH, Ingedore. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009


Nessa perspectiva, leia as afirmativas sobre o texto.

I. No oitavo parágrafo, lê-se a consequência da busca empreendida pela menina na ênfase dada ao verbo no pretérito perfeito que inicia o parágrafo, marcando ação, acontecimento, rompimento de uma maneira estratégica, pois surge abruptamente, parece deslocado dos parágrafos anteriores.

II. Além da marca de temporalidade, as figuras “noite" e “manhã" sugerem a quebra da continuidade de ações na construção do saber, a qual é reiterada pelos verbos “corria", “olhava", “sorria", no tempo pretérito imperfeito.

III. Nos sete primeiros parágrafos, a menina cria o mundo dela, e nos sete últimos parágrafos a menina passa a habitar o mundo que criara.

Está(ão) correta(s) somente a(s) afirmativa(s): 


Alternativas
Comentários
  • Eu hein... Não sei dizer que a formatação do texto está errada, mas a contagem dos parágrafos, para mim, não bate com os itens I e III. Entendo que "a consequência da busca empreendida pela menina" está na expressão "Foi no dia da árvore", que - no texto que vejo -, aparece como início do 6º parágrafo. Ou será que eu q tô fantasiando?

  • Desisto de interpretação de texto da FUNCAB.

  • A banca considerou duas afirmativas corretas: I e III.

     

    A afirmativa II está incorreta. Além da marca de temporalidade, as figuras “noite” e “manhã” sugerem a continuidade de ações na construção, e não a quebra da continuidade como afirma o item.

     

    GABARITO: "D"

  • Não tem como localizar os termos, o texto está pessimamente formatado. Próxima

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