- ID
- 1817086
- Banca
- FUNDEP (Gestão de Concursos)
- Órgão
- CRQ 2ª Região-MG
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Agrotóxicos sem veneno
No bê-á-bá da Agronomia se aprende que um inseto
somente pode ser considerado uma praga se causar
danos econômicos às plantações. Isso porque, na
natureza bruta, folhas e grãos são normalmente
mastigados pelos bichinhos, que se reproduzem no limite
estabelecido por seus predadores naturais. Quando, por
qualquer motivo, se rompe o equilíbrio do ecossistema,
altera-se a dinâmica das populações envolvidas naquela
cadeia alimentar. Advêm problemas ecológicos.
[...]
Pois bem, nem o aumento dos humanos, que já
ultrapassaram 7 bilhões de habitantes, nem a expansão
rural, que já ocupa 37% da superfície da Terra, cessaram.
Embora a tecnologia tenha conseguido notáveis
sucessos, o vetor básico continua atuando: novas bocas
para alimentar exigem mais alimentos, que pressionam
o desmatamento, que aumenta o desequilíbrio dos
ecossistemas, que favorece o surgimento de pragas e
doenças. Trajetória da civilização.
A safra brasileira tem batido recordes, ampliando
o uso de defensivos agrícolas. Além do mais, nos
trópicos o calor e a umidade favorecem o surgimento
de pragas e doenças nas lavouras. Graças, porém, ao
desenvolvimento tecnológico, nos últimos 40 anos se
observou forte redução, ao redor de 90%, nas doses
médias dos inseticidas e fungicidas aplicados na roça.
Quer dizer, se antes um agricultor despejava dez litros
de um produto por hectare, hoje ele aplica apenas um
litro. Menos mal.
Fórmulas menos tóxicas, uso do controle biológico e
integrado, métodos de cultivo eficientes, inseticidas
derivados de plantas, vários elementos fundamentam um
caminho no rumo da sustentabilidade. Os agroquímicos
são mais certeiros, menos agressivos ao meio ambiente
e trazem menores riscos de aplicação aos trabalhadores
rurais. Nada, felizmente, piorou nessa agenda.
Surge agora, nos laboratórios, uma geração de
moléculas que atuam exclusivamente sobre o
metabolismo dos insetos-praga, bloqueando sinais
vitais. Funcionam de forma seletiva, combatendo-os
sem aniquilar os predadores naturais, nem afetar insetos
benéficos ou animais mamíferos. No sentido ambiental,
configuram-se como pesticidas não venenosos, deixando
de ser “agrotóxicos". Sensacional.
Existe, ainda, contaminação de alimentos por agrotóxicos
tradicionais. O problema, contudo, difere do de outrora,
quando resíduos cancerígenos dominavam as amostras
coletadas. Hoje a grande desconformidade recai sobre o
uso de produtos químicos não autorizados para aquela
lavoura pesquisada, embora permitidos em outras.
Raramente se apontam resíduos químicos acima dos
limites mínimos de tolerância.
Isso ocorre por dois motivos. Primeiro, o governo tem
sido extremamente lerdo no registro de novos defensivos
agrícolas. Segundo, mostra-se muito onerosa, para
as empresas, cada autorização de uso para lavouras
distintas.
Resultado: inexistindo produto “oficial" para o canteiro de
pimentão, por exemplo, o horticultor utiliza aquele outro
vendido para tomate. O problema, como se percebe, é
mais agronômico, menos de saúde.
Muita gente critica os defensivos químicos, considera
agrotóxico um palavrão. Mesmo na agricultura orgânica,
imaginada como solução milagrosa, todavia, se permite
utilizar caldas químicas elaboradas com sulfato de cobre,
hidróxido de cálcio e enxofre.
Resumo da história: na escala requerida pela população,
as lavouras sempre exigirão pesticidas contra organismos
que as atacam. Importa o alimento ser saudável.
GRAZIANO, Xico. Agrotóxicos sem veneno. Opinião. Estadão,
São Paulo, 5 mar. 2013. Disponível em: <http://zipnet.met/bxR9nQ> Acesso em: 7 out. 2015 (adaptado).
De acordo com o texto, é possível afirmar que: