Aristóteles, no ano 335 a.C., dissecou princípios e práticas
da arte dramática em sua Poética. Para o filósofo, mestre
supremo dos roteiristas, a tragédia era a forma mais perfeita e
exaltada da arte dramática, a única capaz de proporcionar
lições duradouras e catarses poderosas.
As tramas dramáticas, segundo ele, devem incluir
elementos essenciais: um grande obstáculo ou reversão de
fortuna, e uma lição a ser extraída da provação do protagonista.
A reversão da fortuna deve provir de um erro do protagonista.
Aristóteles usa a palavra grega hamartia − que vem da prática
do arqueirismo e significa, literalmente, “errar o alvo” − para
qualificar esse erro ou falha. Há algo de subjetivo, algo que vem
da própria personalidade do protagonista, que o faz errar o alvo
e, dessa forma, reverter sua fortuna. Ele é otimista demais,
talvez altivo e arrogante, julgando-se, quem sabe, com o direito
nato ao alvo. Nesse sentido, drama e comédia são os dois lados
do mesmo espelho em que se debruça a alma humana. Nós, na
plateia, que conhecemos bem flechas e alvos, somos
purificados, do mesmo modo, por lágrimas ou risos.
(Adaptado de: Ana Maria Bahiana. Como ver um filme, Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, formato ebook, 2012)
O drama é uma espécie de fonte inspiradora da narrativa
cinematográfica: no final das contas, quase todos os filmes −
até mesmo as comédias e os longas-metragens de animação −
poderiam, sem grande dificuldade, ser encaixados nessa
categoria. O drama filmado é uma das respostas à nossa fome
ancestral por catarse − queremos, precisamos ver o pior que
acontece aos personagens para encontrarmos algum conforto
no nosso inventário de tormentos e perdas.
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