Ser autor
O processo de iniciação à escrita deve ser cercado de alguns
cuidados. Talvez o principal seja o de estimular a criança a
assumir a autoria dos seus primeiros textos. Uma fase prévia de
reprodução é inevitável. Experiências pedagógicas mostram o
entusiasmo da meninada, ao ver, no papel, seus primeiros
desenhos gráficos a falarem de alguma coisa. Outras experiências
já provam que tal entusiasmo vai arrefecendo a partir da terceira
série. O que parece acontecer, pelo que andei lendo (as palavras
são minhas), é que os alunos vão sendo freados em seus intentos
comunicativos. Como? Por um lado, surgem os ditongos, os
hiatos, os tritongos (e a semivogal!), listas de aumentativos e de
diminutivos de menos ou nenhuma valia, de superlativos eruditos
(amaríssimo, dulcíssimo, macérrimo, que tal?), enfim, muita
memorização, para nada, de palavras isoladas, fora de um
contexto, como costumam dizer os estudiosos da linguagem.
Boas puxadas de orelha levei, porque, ao decorar certos verbos
considerados irregulares, não tinha guardado a forma caibo! Um
amigo me contou que, ao escrever uma carta, vacilou no plural
de anão e apelou para esta inusitada expressão: “um anão e
outro anão”! Por outro lado, nasce cedo para os estudantes a
cultura do erro, que marca ainda o ensino e que impregna a
nossa sociedade, sem que ela se dê conta do processo.
(Carlos Eduardo Falcão Uchoa)
“O que parece acontecer, pelo que andei lendo (as palavras são
minhas), é que os alunos vão sendo freados em seus intentos
comunicativos. Como? Por um lado, surgem os ditongos, os
hiatos, os tritongos (e a semivogal!), listas de aumentativos e de
diminutivos de menos ou nenhuma valia, de superlativos eruditos
(amaríssimo, dulcíssimo, macérrimo, que tal?), enfim, muita
memorização, para nada, de palavras isoladas, fora de um
contexto, como costumam dizer os estudiosos da linguagem".
Infere‐se desse segmento do texto que