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ID
1832779
Banca
FGV
Órgão
TJ-RO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

“Sua majestade, o bebê” é a expressão encontrada por Freud (1914) para designar o investimento libidinal dos pais sobre a criança na formação de seu ego. Mais do que simplesmente uma fase evolutiva, corresponde a uma estase da libido que nenhum investimento de objeto permite ultrapassar completamente. Para tanto, Freud lança o conceito de:

Alternativas
Comentários
  • RESPOSTA "E"

    vejamos, 

    Freud em "Introdução ao narcisismo" (1914) escreveu:

    ... se considerarmos a atitude daqueles pais especialmente ternos com seus filhos, temos de reconhecer que essa atitude é um novo despertar e uma reprodução do próprio narcisismo, do qual os próprios pais tinham desistido havia tempo (...) Ao mesmo tempo, esses pais também tendem a suspender, em favor da criança, todas as aquisições da civilização que seu próprio narcisismo fora obrigado a respeitar, e tornam a reivindicar, pela criança, privilégios dos quais tinham desistido havia tempo (...) Doença, morte, renúncia do prazer, restrições impostas à vontade pessoal não devem ter validade para ela; as leis da natureza e da sociedade devem ser revogadas em seu favor, ela deve mais uma vez se tornar realmente o centro e cerne da criação – aquela "Sua Majestade o Bebê" que outrora os pais se sentiam (...) No ponto mais vulnerável do sistema narcísico – a imortalidade do ego, que a realidade questiona tão fortemente –, se consegue segurança refugiando-se na criança.

    Dessa reflexão freudiana, gostaria de frisar quatro pontos fundamentais:

    1. Os pais, quando um filho nasce, vivem uma reativação do próprio narcisismo infantil. Narcisismo do qual tinham desistido por causa dos vínculos e das limitações com que se depararam na vida adulta;

    2. em nome dessa reativação, os pais fantasiam que seu bebê possa desfrutar de uma moratória. Como dizer que precisamente para ele todos aqueles limites impostos pela sociedade podem ser momentaneamente suspensos e não valerem. Em suma, os pais reivindicam para ele todos aqueles privilégios dos quais eles próprios, ao contrário, tiveram de desistir. Tudo o que se interpõe limitando a felicidade ou o bem-estar do homem deve ser alvo de moratória: doença, morte, renúncia do prazer, restrições e leis não devem valer para ele;

    3. leis naturais e sociais devem ser revogadas. A criança se coloca no centro da criação como um pequeno soberano: sua majestade a criança;

    4. diante da tomada de consciência de que a própria vida é alvo de pesados limites, até temporais, já que ninguém é imortal, os pais procuram segurança na criança, prolongando-se narcisicamente em sua vida.

     

    extraído Contrato narcisista e clínica do vazio

     http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142008000200006