SóProvas


ID
1833274
Banca
CAIP-IMES
Órgão
IPREM
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Melhor a lenda

 (...)
Quem não ouviu contar que Nero mandou incendiar Roma e, do seu terraço, contemplava o fogo enquanto tocava cítara e declamava seus poemas? O historiador romano Suetônio registra essa versão setenta anos após a morte do personagem. A cena combina com o imperador sanguinário, mas não teve confirmação como fato histórico. É mais interessante continuar acreditando que os vikings usavam aqueles capacetes de chifres, fantasia criada em ilustrações do século XIX, que tornavam-nos mais assustadores, do que substituir a imagem por outra mais real, depois que escavações nos túmulos mostraram que não havia um só capacete de chifres entre os despojos dos guerreiros nórdicos.
E por aí vai. A realidade é que o pintor Van Gogh decepou apenas o lóbulo da orelha, não a concha inteira; elefantes não têm cemitério; não eram três as caravelas de Colombo quando veio para estes lados, pois a Santa Maria era uma nau, maior e mais larga; Walt Disney não desenhou o camundongo Mickey; etc, etc.
Quando a lenda é mais interessante do que o fato original, ela triunfa na imaginação popular e muitas vezes na história escrita. Ficou famosa entre os cinéfilos uma frase de um jornalista na cena final do filme de John Ford O Homem que Matou o Facínora, de 1962. Resumindo, curto. Um advogado citadino, que nem sabia atirar, fica famoso por ter matado em duelo um perigoso bandido do oeste, e se elege senador. Muito tempo depois, no funeral do verdadeiro matador do bandido, que era o mocinho e eliminou o facínora atirando escondido nas sombras, o senador conta a verdadeira história ao jornalista e este se recusa a publicá-la, dizendo: 
“Isto é o oeste, senhor. Quando a lenda vira verdade, ficamos com a lenda" (This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend). Essa frase tem um precedente histórico em Machado de Assis. Na crônica do dia 15 de setembro de 1876, ele abre um tópico com uma contestação da história oficial do grito da independência, em 7 de setembro de 1822: “Grito do Ipiranga? Isso era bom antes de um nobre amigo, que veio reclamar pela Gazeta de Notícias contra essa lenda de meio século. Segundo o ilustrado paulista não houve nem grito nem Ipiranga. (...) Durante cinquenta e quatro anos temos vindo a repetir uma coisa que o dito meu amigo declara não ter existido. Houve resolução do Príncipe D. Pedro, independência e o mais; mas não foi positivamente um grito, nem ele se deu nas margens do célebre ribeiro"
Machado argumenta que seria fácil mudar a história em futuras edições dos livros, mas ficaria difícil refazer tantos versos escritos. O Hino Nacional já contava então 47 anos e dizia que o grito retumbante fora ouvido pelas margens plácidas do Ipiranga. Conclui o Machado: “Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. (...) Eu prefiro o grito do Ipiranga: é mais sumário, mais bonito e mais genérico". 

Ivan Angelo
Disponível em: http://vejasp.abril.com.br

Após a leitura do texto, analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta.

I- Mesmo na história, por serem mais interessantes que o fato original as lendas viram verdade e prevalecem.

II- A história de que Nero mandou incendiar Roma e, do seu terraço, contemplava o fogo enquanto tocava cítara e declamava seus poemas foi escrita após setenta anos de sua morte.

III- As fantasias do século XIX eram assustadoras porque foram inspiradas nos vikings que usavam aqueles capacetes de chifres.

IV- Van Gogh não cortou a orelha inteira, os elefantes não têm cemitério, Colombo não veio para a América com três caravelas e Walt Disney não desenhou o Mickey.

V- Até Machado de Assis prefere a lenda à história verdadeira do Hino Nacional.

Alternativas
Comentários
  • Eu coloquei como "D" todos os ítens estão corretos.

    Gabarito diz "C" Somente 3 estão corretos.

    Alguém sabe qual é o errado? Seria o III ( que alega que os vikings usavam capacetes)?

    III- As fantasias do século XIX eram assustadoras porque foram inspiradas nos vikings que usavam aqueles capacetes de chifres.

    Achei que fosse verdadeira... O texto afirma que "eram assustadoras somente porque os vikings usavam capacetes de chifres, mas na verdade eles nunca usaram...

    Será que o entendimento é esse???

    Agradeço quem puder opinar.

  • Altina, eu tbm respondi a letra D,não sei tbm qual seria a incorreta

    eu considerei a história dos vikings correta, pq no texta fala que foi inspirada neles, mesmo não sendo real...

    mas agora realmente tenho dúvidas.

    quem puder nos ajudar

  • E aí, qual seria a errada?

    I- Mesmo na história, por serem mais interessantes que o fato original as lendas viram verdade e prevalecem.

    II- A história de que Nero mandou incendiar Roma e, do seu terraço, contemplava o fogo enquanto tocava cítara e declamava seus poemas foi escrita após setenta anos de sua morte.

    III- As fantasias do século XIX eram assustadoras porque foram inspiradas nos vikings que usavam aqueles capacetes de chifres.

    IV- Van Gogh não cortou a orelha inteira, os elefantes não têm cemitério, Colombo não veio para a América com três caravelas e Walt Disney não desenhou o Mickey.

    V- Até Machado de Assis prefere a lenda à história verdadeira do Hino Nacional. 

  • Marquei o item B, porém não era o gabarito.

     

    Tudo indica que os itens errados são:

    I - Mesmo na história, por serem mais interessantes que o fato original as lendas viram verdade e prevalecem. (O texto fala que muitas vezes isso ocorre, o que delimita a afirmação) PS: Entendo que esse item poderia ser considerado verdadeiro, mas vai saber a intenção da banca...

     

    III - As fantasias do século XIX eram assustadoras porque foram inspiradas nos vikings que usavam aqueles capacetes de chifres. (As fantasias eram assustadoras, mas os vikings não usavam capacetes de chifres)

     

    GABARITO C

  • Boa noite a todos!

    Encontrei tempos depois comentarios na rede sobre esta questão. Ela mistura interpretação e compreensão nas 4 alternativas.

    A maioria dos comentários foi exatamente como a visão do colega LUCAS ALVES. 

    o conectivo "muitas vezes" é o que não dá a certeza completa do fato tornando FALSA a alternativa e não verdadeira como eu havia pensado inicialmente... porisso temos 3 CORRETAS - gabarito letra "C".

    Interpretação é bem mais complexo que a compreensão, pois temos que "advinhar nas mensagens subliminares" o que pensa o autor....

    Obrigada pelos comentários,

    Sorte a todos nós!!!

  •  

    Ola pessoal! acredito que as erradas são:

    I - Não é sempre que a lenda vira verdade e prevalesce.

    Quando a lenda vira verdade, ficamos com a lenda"

    v -   pois no trecho abaixo Machado de Assis não diz que prefere a lenda, ele contesta a história inicial..

    “Grito do Ipiranga? Isso era bom antes de um nobre amigo, que veio reclamar pela Gazeta de Notícias contra essa lenda de meio século. Segundo o ilustrado paulista não houve nem grito nem Ipiranga. (...) Durante cinquenta e quatro anos temos vindo a repetir uma coisa que o dito meu amigo declara não ter existido. Houve resolução do Príncipe D. Pedro, independência e o mais; mas não foi positivamente um grito, nem ele se deu nas margens do célebre ribeiro"

    Bons estudos!

  • É importante perceber as diferenças entre as bancas. A Caipimes adota um modelo de interpretação mais direta, ao pé da letra mesmo...

     

    I- Mesmo na história, por serem mais interessantes que o fato original as lendas viram verdade e prevalecem. CORRETA

    II- A história de que Nero mandou incendiar Roma e, do seu terraço, contemplava o fogo enquanto tocava cítara e declamava seus poemas foi escrita após setenta anos de sua morte. CORRETA

    III- As fantasias do século XIX eram assustadoras porque foram inspiradas nos vikings que usavam aqueles capacetes de chifres. ERRADA, observem no texto que a imagem foi criada no século XIX, portanto, não poderiam ser inspiradas, na verdade foi na própria época que se criou essa imagem sem fundamentação com o aspecto histórico.

    IV- Van Gogh não cortou a orelha inteira, os elefantes não têm cemitério, Colombo não veio para a América com três caravelas e Walt Disney não desenhou o Mickey.CORRETA

    V- Até Machado de Assis prefere a lenda à história verdadeira do Hino Nacional. ERRADA, o Hino está baseado na lenda, logo, não tem história verdadeira no Hino Nacional.