SóProvas


ID
1834717
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Marilândia - ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Bento Rodrigues tem cor de tragédia e cheiro de morte

    O cheiro de morte cerca Bento Rodrigues inteiro. É o cheiro da decomposição dos animais que a avalanche de lama soterrou no começo de novembro, após o rompimento da barragem do Fundão. E tem a cor da tragédia: o marrom das casas, das árvores e dos pássaros que mergulham nas poças de água cheias de rejeitos de minério. Um vazio marrom domina todo o centro do extinto distrito de Mariana. As casas que não foram levadas viraram escombros.  
   Dentro e em volta delas, os rastros do caos: roupas, panelas, sofás, brinquedos e documentos espalhados, motos soterradas, carros destruídos, cachorros e galinhas abandonadas. É clichê, mas é real: o lugar virou cenário de filme   pós‐apocalíptico. Com direito até a um cartão postal: a imagem do carro carregado pela lama e colocado caprichosamente sobre o muro de uma casa. Só algumas poucas casas e um ginásio permaneceram quase intactos – e foi ali onde centenas de pessoas se abrigaram à espera do resgate. 
     A lama que saiu da barragem da Samarco, mineradora que pertence à Vale e à anglo‐australiana BHP Billiton, devastou também outras áreas próximas de Mariana. A pequena cidade de Barra Longa perdeu casas e a praça principal – os bancos e as árvores deram lugar aos caminhões de limpeza. Mas ainda não se compara visualmente ao estrago de Bento Rodrigues. A lama varreu de vez o distrito, tirou o ponto do mapa. Por ali nunca mais vão existir casas, bairros ou a famosa fábrica artesanal de geleia de pimenta? A Samarco, responsável pela destruição, pretende reconstruir Bento em outro lugar. Ali talvez vire até outra barragem (os moradores contam que a mineradora já cobiçava comprar as casas e o terreno de Bento Rodrigues há algum tempo).
    Por ora, 356 pessoas que viviam por lá estão hospedadas em hotéis de Mariana. Há 22 dias, essas pessoas vivem sob as regras do hotel, com horário pré‐determinado para comer, sem espaço para as crianças brincarem. Perderam não só a casa e o bairro. Perderam a vida que levavam. Boa parte agora deles passa o dia em frente aos hotéis. E volta e meia os funcionários da Samarco aparecem para perguntar por uma ou outra pessoa para falar sobre indenização ou oferecer uma casa alugada. 
    Mas nem depois dessa tragédia toda, do maior desastre ambiental da história do Brasil, a Samarco perde poder ou moral em Mariana. Pouca gente se atreve a falar mal da mineradora – e muitos ainda a defendem. “Não fala mal da Samarco por aí que o pessoal fica bravo", avisou um morador. Toda a história da cidade está ligada à mineração. Se antes o ouro guiava a economia da região, hoje é o minério de ferro. 80% da economia local é ligada direta ou indiretamente à atividade. É daí que vem todo o poder das mineradoras: a maior parte da população trabalha lá e tem medo de perder a única fonte de renda. Mas enquanto a Samarco fatura milhões com a exploração de minérios, a cidade segue pobre e corrupta (foram 7 prefeitos em 5 anos). 
    E essa “mãezona" abandonou as crias no momento da tragédia. Ou melhor: expôs todos eles ao perigo. Passou anos sem colocar em ação um programa emergencial, mesmo a barragem do Fundão sendo classificada de alto risco, e ainda aumentou a produção de rejeitos no último ano. Foi por isso que as pessoas de Bento Rodrigues não receberam alarmes, foi a comunicação dos funcionários pelo rádio que salvou a vida de dezenas de pessoas. Agora a Samarco trabalha para tentar reparar os irreparáveis danos causados às vítimas (sem qualquer questionamento do governo municipal ou estadual: o acompanhamento psicossocial, por exemplo, é feito por funcionários da mineradora). Até lá, espera‐se que a barragem de Germano, muito maior que a do Fundão, não tenha o mesmo fim que a outra.
(Carol Castro, Felipe Floresti. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/bento‐rodrigues‐tem‐cor‐de‐tragedia‐e‐cheiro‐de‐morte.   Acesso em: 01/12/2015.)

Pouca gente se atreve a falar mal da mineradora – e muitos ainda a defendem. ‘Não fala mal da Samarco por aí que o pessoal fica bravo’, avisou um morador. Toda a história da cidade está ligada à mineração. Se antes o ouro guiava a economia da região, hoje é o minério de ferro. 80% da economia local é ligada direta ou indiretamente à atividade.” (5º §) De acordo com o trecho anterior, analise as afirmativas a seguir.

I. Muitos dos atingidos pelo desastre ambiental não se opõem publicamente contra a mineradora por temerem represálias por parte desta.

II. Apesar de todas as perdas sofridas, a maior parte da população se abstém de qualquer comentário por temer a perda de sua fonte de renda.

III.A mineradora é defendida por muitos dos atingidos porque trouxe prosperidade financeira às famílias local.

Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)

Alternativas
Comentários
  • não entendi a lógica do item I. Mal escrito, "opor...contra", ele diz: "pouca gente se atreve". Portanto, "muitos não se opõem"... Ou o quê?


  • Essa daí, sem dúvidas, foi a pior e mais mal assombrada organizadora q já conheci em toda minha vida.


  • Vamos lá!

    I. Muitos dos atingidos pelo desastre ambiental não se opõem publicamente contra a mineradora por temerem represálias por parte desta. Em nenhum momento no trecho em destaque da questão as pessoas estão sendo ameaçados, sofrendo represálias ...a maioria até defende a mineradora Samarco.

    II- Correta, Se antes o ouro guiava a economia da região, hoje é o minério de ferro. 80% da economia local é ligada direta ou indiretamente à atividade.
    III.A mineradora é defendida por muitos dos atingidos porque trouxe prosperidade financeira às famílias local. Cuidado!!! Acredito que a maioria que errou colocou essa certa. 80% da economia local é ligada direta ou indiretamente à atividade. Em nenhum momento o texto especificou que é  prosperidade financeira às famílias local. Local aí está como um todo.
    Bons estudos.
  • Apesar do termo "represálias" não ser citado. fica subentendido que as pessoas tem medo de "reclamar". se tem medo.... Muito subjetivo.

  • Errei porque coloquei a alternativa I também como correta, ou seja,descartei apenas a III. 

    Nao entendi porque a I tá errada!

  • Da pra eliminar o item III, pois o texto não fala em "prosperidade financeira".

    Com relação ao item I, conseguimos eliminar relendo o quinto parágrafo. Em nenhum momento, temos represália por parte da empresa. 


    5º §

    Pouca gente se atreve a falar mal da mineradora – e muitos ainda a defendem. “Não fala mal da Samarco por aí que o pessoal fica bravo", avisou um morador. Toda a história da cidade está ligada à mineração. Se antes o ouro guiava a economia da região, hoje é o minério de ferro. 80% da economia local é ligada direta ou indiretamente à atividade. É daí que vem todo o poder das mineradoras: a maior parte da população trabalha lá e tem medo de perder a única fonte de renda. Mas enquanto a Samarco fatura milhões com a exploração de minérios, a cidade segue pobre e corrupta (foram 7 prefeitos em 5 anos).

  • Resposta: Letra A.

    A questão é capciosa! É feita para o candidato errar...

    Analisemos cada opção isoladamente.

    Proposição I: Conquanto a ideia de perder a fonte de renda após falar mal da mineradora seja facilmente associada à ideia de represália, não há informações suficientes para alcançar-se essa conclusão. Embora o trecho seguinte, no parágrafo quinto, afirme haver temor por perda de empregos, esse não é necessariamente decorrente de represálias: pode referir-se, por exemplo, à interdição de continuidade das atividades mineradores pelo Estado, após inúmeras avaliações negativas pela população. Além disso, o texto não apresenta qualquer indício de prática de represálias praticadas pela Samarco. Consequentemente, afirmar essa possibilidade é conclusão extratextual, extrapolando as ideias apresentadas pelos autores; a alternativa, pois, é FALSA.

    Proposição II: No quinto parágrafo, após o trecho citado no comando da questão, os autores afirmam: "É daí que vem todo o poder das mineradoras: a maior parte da população trabalha lá e tem medo de perder a única fonte de renda". Consequentemente, a alternativa é VERDADEIRA.

    Proposição III: Ao final do quinto parágrafo, os autores asseveram: "Mas enquanto a Samarco fatura milhões com a exploração de minérios, a cidade segue pobre e corrupta (foram 7 prefeitos em 5 anos)". Evidentemente, a prosperidade financeira não foi distribuída entre as famílias locais; a alternativa, logo, é FALSA.

    Espero ter contribuído...

    Abraços!

  • 2) Muitos dos atingidos pelo desastre ambiental não se opõem publicamente contra a mineradora por temerem represálias por parte desta.

    Além dos comentários sobre as represálias serem uma conclusão extratextual, extrapolando as ideias apresentadas pelos autores, também acredito que a palavra publicamente  da questão seja incorreta. 

    Publicamente, a meu ver, dá a entender que eles não reclamam em público, mas reclamam em particular. E o texto diz o contrário, na verdade mesmo com todos os problemas, a maioria dos cidadãos defende a mineradora, não reclamando nem em público nem em particular.

    ‘Não fala mal da Samarco por aí que o pessoal fica bravo’, avisou um morador.

  • Nossa, Renato Bocx.. vc não conhece as outras bancas mesmo.. rs, essa é uma das mais facinhas, nem se compara com a subjetividade e complicação de questões em outras bancas na interpretação de texto..

  • Errei  porque não seguir o conselho do meu colega " não deduz nada, se não está escrito não é verdade".

  • O interessante é que o comando da questão cita um trecho, muito embora tenhamos que ler o p. 5º todo para entender a III, por exemplo.

  • Erros em vermelho:

    I. Muitos dos atingidos pelo desastre ambiental não se opõem publicamente contra a mineradora por temerem represálias por parte desta.

    II. A mineradora é defendida por muitos dos atingidos porque trouxe prosperidade financeira às famílias local.

    Rumo ao IFPB, faltam 4 dias !!