SóProvas


ID
1837906
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

       Só! Achava-se outra vez só! Outra vez no meio do silêncio, em frente do nada!...[...]
      A ideia do suicídio, repelida pelo amigo, afastada pela sua presença, veio então erguer-se outra vez como um fantasma ao pé do cadáver de Faria. [...]
    -Morrer!... oh! não, não!-exclamou!;-não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o revolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe? de recompensar alguns amigos. [...]
    Puseram o suposto morto na padiola. Edmundo entesou-se para melhor figurar de defunto. O cortejo, alumiado pelo homem da lanterna, que ia adiante, subiu a escada.
   De súbito, o ar frio e forte da noite banhou o prisioneiro, que logo reconheceu o vento do nordeste. Foi uma repentina sensação, repassada de angústias e de delícias. [...]
     E logo Dantès sentiu-se atirado para um enorme vácuo, atravessando os ares como um pássaro ferido, caindo, sempre com um terror indescritível que lhe gelava o coração. Embora puxado para baixo por algum objeto que lhe acelerava o rápido voo, pareceu-lhe, contudo, que essa queda durava um século. Por fim, com pavoroso ruído, entrou como uma seta na água gelada, que lhe fez dar um grito, sufocado imediatamente pela imersão.
     Dantès tinha caído ao mar, para o fundo do qual o puxava uma bala de 36, presa aos pés.
     O mar era o cemitério da fortaleza de lf. [...]
    Dantès, atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco, tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo, procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo conseguiu cortála no momento em que se sentia asfixiar. Depois, dando-lhe um pontapé, subiu livre à tona da água, enquanto a bala levava para desconhecidos abismos a serapilheira que ia sendo a sua mortalha.

DUMAS, Alexandre. O conde de Monte Cristo. Porto: Lello &
Irmão, s/d. p.178-182; p. 183. (Fragmento).

Sobre a tipologia, no texto em análise, pode-se afirmar corretamente que:

Alternativas
Comentários
  • Ao falarmos em narração, logo nos remete à ideia do ato de contar histórias, sejam estas verídicas ou fictícias.

    E para que essa história seja dotada de sentido, ela precisa atender a critérios específicos no que se refere aos seus elementos constitutivos. Dentre eles destacam-se:

    Espaço - É o local onde acontecem os fatos, onde as personagens se movimentam. Existe o espaço “físico”, que é aquele que caracteriza o enredo, e o “psicológico”, que retrata a vivência subjetiva dos personagens.

    Tempo - Caracteriza o desencadear dos fatos. É constituído pelo cronológico, que, como o próprio nome diz, é ligado a horas, meses, anos, ou seja, marcado pelos ponteiros do relógio e pelo calendário.

    O outro é o psicológico, ligado às lembranças, aos sentimentos interiores vividos pelos personagens e intrinsecamente relacionados com a característica pessoal de cada um.

    Personagens - São as peças fundamentais, pois sem elas não haveria o próprio enredo.

    Há a predominância de personagens que se destacam pelos atos heroicos, chamadas de principais, outras que se relacionam pelo seu caráter de oposição, as antagonistas, e as secundárias, que não se destacam tanto quanto as primárias, funcionando apenas como suporte da trama em si.

    Narrador - É aquele que narra a história, atuando como um mediador entre a história narrada e o leitor/ouvinte. Classifica-se em três modalidades:

    Narrador-personagem - Ele conta e participa dos fatos ao mesmo tempo. Neste caso a narrativa é contada em 1ª pessoa.

    Narrador-observador - Apenas limita-se em descrever os fatos sem se envolver com os mesmos. Aí predomina-se o uso da 3ª pessoa.

    Narrador Onisciente - Esse sabe tudo sobre o enredo e os personagens, revelando os sentimentos e pensamentos mais íntimos, de uma maneira que vai além da própria imaginação. Muitas vezes sua voz se confunde com a dos personagens, é o que chamamos de Discurso Indireto Livre.

    Todos estes elementos correlacionam entre si, formando o que denominamos de enredo, 
    que é o desencadear dos fatos, a essência da história, a qual se constituirá para um desfecho imprevisível que talvez não corresponderá às expectativas do leitor.

    Este, portanto, poderá ser triste, alegre, cômico ou trágico, dependo do ponto de vista do narrador.

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