SóProvas


ID
1839694
Banca
FCC
Órgão
TRT - 23ª REGIÃO (MT)
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aleia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu.  

      Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio conseguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma aparência que a mim lembrava vagamente um olho.

      Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos. Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada região do Jardim Botânico.

      Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu. Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.

      Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos mulungus, só me ficou a memória − essa memória mínima.

(Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Disponível em: http://heloisaseixas.com.br) 

Quanto à ocorrência de crase, considere as frases abaixo.

I. No segmento ... encontrar um mulungu em meio à vegetação... (2° parágrafo), pode-se substituir corretamente o elemento sublinhado por “por entre", sem que nenhuma outra alteração seja feita.

II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

III. Uma redação correta para o segmento ... na hora de ir para casa (3°parágrafo), caso se substitua a preposição "em" por "a", é: "à hora de ir para casa".

Está correto o que consta em 

Alternativas
Comentários
  •  

    Gabarito: letra D - II e III, apenas.

    I. No segmento ... encontrar um mulungu em meio à vegetação... (2° parágrafo), pode-se substituir corretamente o elemento sublinhado por “por entre", sem que nenhuma outra alteração seja feita.

    ''Em meio a alguma coisa'' - leva-se crase. Se colocarmos ''por entre'' - alguma coisa-  a preposição A é suprimida, já que a nova formulação não pede a mesma. Portanto, há alteração a ser realizada.

    II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

    Caso de crase facultativa (antes de pronome possessivo), com isso, pode suprimir que não haverá incorreção.

    III. Uma redação correta para o segmento ... na hora de ir para casa (3°parágrafo), caso se substitua a preposição "em" por "a", é: "à hora de ir para casa".

    Temos uma estrutura de locução adverbial de tempo e, quando estamos diante desta , podemos usar a regência ''a'' ou ''em''.

    Notem que no texto tem a presença da preposição em + o artigo a (na hora...). Nessa linha, quando pede para substituir em por a devemos colocar a crase, pois o artigo está presente na construção.

     

    Esta última se alguém discordar avise-me, pois não fiquei com tanta certeza.

    Bons estudos a todos.

  • III. Uma redação correta para o segmento ... na hora de ir para casa (3°parágrafo), caso se substitua a preposição "em" por "a", é: "à hora de ir para casa".

    Nao consegui observar a preposicao EM, na frase e nem no texto... alguem explica?


  • Marlon Marcon, acredito na seguinte observação:

    NA = EM + A

    À = A + A

  • Só eu que achei sem sentido "à hora de ir para casa"? 

  • Achei esse: à hora(...) um tanto sem sentido, mas segui a regra friamente. 

  • Na alternativa II, caso a estrutura (a minha) estivesse no plural a crase seria obrigatória.

  • Só complementando o que a nossa colega Clarice Gomes mencionou.

     

    O artigo feminino é facultativo diante de pronome possessivo. Mas, para a crase ser facultativa, esse pronome possessivo deve ser feminino singular:

    Vejamos alguns exemplos:

     

    "Refiro-me à minha colega" - crase facultativa

    "Refiro-me a minha amiga" - crase facultativa

    "Refiro-me às minhas colegas" - crase obrigatória

    "Refiro-me a minhas colegas" - crase proibida

  • "à hora de ir para casa"??? Achei bem estranho...

  • Desceu quadrado essa II, solicitei comentário.

  • a II realmente está correta, porque trata-se de um caso em que a crase tem seu uso de modo facultativo:

     

    Antes de Pronomes Possessivos Femininos o uso do acento indicativo de crase é facultativo, isto é, dependerá da preferência do escritor:

    Referiu-se a minha viagem. Ou: Referiu-se à minha viagem.

  • I. ERRADO - Se houver a substituição a frase ficará: encontrar um mulungu por entre à vegetação (por entre o quê? Não existirá mais essa crase)

    II. CERTO - Diante de pronome possessivo feminino, a crase é facultativa

    III. CERTO - A expressão "na hora de ir para casa" já dá pra matar a questão ai. O "na" é a contração da prep. EM + art. A, ou seja, pede a preposição. Se substituo por "à hora de ir para casa", apenas troquei as preposições: A prep. + A art. = À.

  • Não sei, entendo que a II se tirar a crase muda o sentido.

    Mas percebo que a FCC tá batendo muito nessa tecla de que se tirar a crase de uma oração o sentido permanece o mesmo. =(

  • II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

     

    entao ficaria assim:::

     

    II. No segmento Disse isso AAAAAA minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

  • Se retirado o artigo definido ('a') da frase "DISSE ISSO À MINHA AVÓ E ELA RIU", o resultado é "DISSE ISSO A MINHA AVÓ E ELA RIU". Há, na transformação, dupla interpretação, quais sejam:

    a) DISSE ISSO A MINHA AVÓ E ELA RIU = não se modifica o sentido;

    b) MINHA AVÓ DISSE ISSO E ELA RIU = aqui ocorre mudança no sentido do segmento.

    Gabarito contestável.

  • II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

    Suprimento o artigo, automaticamente a crase deve ser proibida, portanto, a frase deveria ser corrigida sim, retirando a crase de "à minha avó".
    Questão errrada!!!

  • Na II não muda o sentido porque devemos analisar o contexto, e não há dupla interpretação porque o trecho faz referência ao final do parágrafo anterior.

  • Banca estranha. A gente pensa que e pegadinha, mas não é. 

    Teria que tirar o acento grave e nao somente o artigo definido. 

  • Questão errada, porque na II, se suprimir o artigo a crase não vai acontecer, ficando somente a preposição "a", que faz mudar o sentido da frase. Afffff

  • Gabarito letra D.

     

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  • estranha essa FCC...

    com esse exercício aprendi que posso escrever tanto "Passarei em casa na sesta", quanto "Passarei em casa à cesta" ainda q soe diferente. Também aprendi q crase facutativa é supressão do artigo "a" (ou da preposição a).

     

     

  • A alternativa III eu acertei ao fazer a substituição da frase "à hora de ir pra casa" por "ao tempo de ir pra casa", podendo confirmar  a necessidade do artigo+preposição.

  • Disse isso ao meu pai  ---- Disse isso a meu pai

    Disse isso a minha vó ----  Disse isso á minha vó

     

    Eu - sujeito oculto

    Disse - verbo no passado do indicativo

    Isso - objeto direto

    A - artigo definido

    Minha - pronome possessivo

    Vo- sujeit

     

    Dica -- terntar fazer a substituicao de palavras, pra ver se pode ter crase ou nao;

     

     

    a -

  • I. No segmento ... encontrar um mulungu em meio à vegetação... (2° parágrafo), pode-se substituir corretamente o elemento sublinhado por “por entre", sem que nenhuma outra alteração seja feita.

    REGRA: NÃO SE CRASE DEPOIS DE PREPOSIÇÃO,

    ENTRE + À = ERRADO

    II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

    REGRA: ANTES DE PRONOME POSSESSIVO FEMININO NO SINGULAR QUE NÃO SUBENTENDAM PALAVRA = A CRASE SERÁ FACULTATIVA

    MINHA = PRONOME POSSESSIVO

    III. Uma redação correta para o segmento ... na hora de ir para casa (3°parágrafo), caso se substitua a preposição "em" por "a", é: "à hora de ir para casa". 

    EM ( PREPOSIÇÃO ) + A ( ARTIGO ) = NA

    A ( PREPOSIÇÃO ) + A( ARTIGO ) = À

  • disse isso minha avó = disse isso a minha avó?

  • Manuela, na verdade, fica assim:

    disse isso à minha avó = disse isso a minha avó (PRONOME POSSESSIVO FEMININO = CRASE FACULTATIVA)

     

  • Ok, a crase é facultativa no II, mas se retirada gera duplo sentido. Questão sacana e altamente questionável. Deveria ter sido anulada.

  • Pessoal tem que retornar ao texto. Fica bem claro que o sujeito do item II é oculto, pois logo depois esse segmento vem: "... e ela riu", logo, na minha opinião, não gera ambiguidade em relação ao sujeito e objeto indireto.  

  • III) à hora de - locução adverbial com palavra feminina. É o mesmo que à espera de...

  • à hora de - não acho estranho como alguns comentaram. É como fiz isso "à época". Completamente diferente se tirar a crase.

  • I. Incorreto. Vegetação é substantivo feminino e requer o artigo "a". A expressão "em meio a" exige a preposição "a"; por outro lado, a expressão "por entre" não exige preposição. Com a substituição o correto seria: "por meio a vegetação" (sem o uso da crase). 
    II. Correto. O uso de crase é facultativo diante do pronome possessivo feminino no singular, no caso "minha". Por fim: "disse" é verbo transitivo direto e indireto - disse algo (OD) a alguem (OI) - portanto sua regência requer preposição. Logo, "disse isso a minha avó" estaria correto. 
    III. Correto. O substantivo feminino "hora" requer o artigo definido "a". A expressão "na hora de" é uma locução adverbial de tempo que contrai a preposição necessária "em" + artigo "a". A expressão "à hora de" é substituição apropriada requerendo, igualmente, preposição. Na dúvida, intessante utilizar a dica de substituir o substantivo feminino por um equivalente masculino, por exemplo: "que me restava na palma da mão ao tempo de ir para casa".

  • A unica reposta correta: meu deus estão formulando questões que deve-se especializar na área para saber a resposta, concurso público está deixando de ser democrático para o ingresso no serviço, à medida que, as questões longe de avaliar a capacidade de inteligência, avalia a capacidade de memorização, de retenção de informação e não de sua articulação, do contrário não teriam questões tão especificas que até professor de gramática tem dificuldade para responder, assim cria-se um perfeito autômato, um bossal, uma mera peça de engrenagem em pleno século XXI solícito/disponível perante um sistema político e economicamente imundo. E tanto estudo para quê? Apenas para se contentar com uma remuneração de 5, 10 mil e fechando e acomodando-se no seu mundo, e “sem saber” subsidiando essa estrutura que precisa de revolução, acorda brasil!!! Vamos dá um basta nesses terroristas que dizem ser nossos representantes, mas na realidade só representam os seus. O importante nao deveria ser quanto voce ganha ou pode ganhar, mas uma qualidade de vida digna/igual para todos.

  • Temos 3 casos de crase facultativa:

    1º - Antes de nome de mulher;

    ex: Agradeci à Maria.  

    ou 

    Agradecia a Maria.

    2º Antes de pronome possessivo feminino (determinante)

    ex: Assistiu à minha aula

    ou 

    Assistiu a minha aula.

    3º Depos de preposição "até"

    ex: Fui até à padaria.

    ou

    Fui até a padaria.

     

    Dica: Memorizar a seguinte frase: "Até a minha Maria"

  • Temos 3 casos de crase facultativa:

    1º - Antes de nome de mulher;

    ex: Agradeci à Maria.  

    ou 

    Agradecia a Maria.

    2º Antes de pronome possessivo feminino (determinante)

    ex: Assistiu à minha aula

    ou 

    Assistiu a minha aula.

    3º Depos de preposição "até"

    ex: Fui até à padaria.

    ou

    Fui até a padaria.

     

    Dica: Memorizar a seguinte frase: "Até a minha Maria"

  • a II é passível de debate mesmo..

     

     

  • Suprimir a crase na II muda O SENTIDO.... PAU NA FCC! kkk

  • II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

    Em destaque o solicitado - ou seja suprimir "à" - ficarí​a,  Disse isso minha avó e ela riu...  (inverte o sentido - minha avó passou a dizer e não eu)

  • Pessoal, na afirmativa número II, falou-se apenas na supressão do artigo " a " (a preposição " a " não pode ser suprimida e o enunciado não falou nada sobre isso). Portanto ficaria assim: " Disse isso a minha avó e ela riu ". Não há alteração de sentido nem erro gramatical já que, nesse caso, o artigo antes do pronome possessivo é facultativo.

  •  No segmento ... encontrar um mulungu em meio à vegetação... (2° parágrafo), pode-se substituir corretamente o elemento sublinhado por “por entre", sem que nenhuma outra alteração seja feita.

    ENTRE JÁ É PREPOSIÇÃO.

    SE HOUVER A SUBSTITUIÇÃO.. FICARÁ DUAS PREPOSIÇÕES JUNTAS. 

     

  • Realmente o item II fica ambíguo se for retirado o artigo "a". Mas se fizermos uma frase no masculino, a ambiguidade desaparece e talvez por isso tenha sido considerada correta.

    1) Disse isso ao meu avô e ele riu.

    Disse isso a meu avô e ele riu.


    2) Disse isso ao meu avô e ela riu.

    Disse isso a meu avô e ela riu.


    Vejam que não há ambiguidade. Mas se fizermos isso com a frase dada pela FCC a coisa se complica bastante, ainda mais que a FCC perguntou pelo sentido. Se tivesse perguntado só pela correção, aí não haveria dúvidas. Mas a bendita pediu o "sentido". Aí ela foi maldosa.

    1) Disso isso à minha avó e ela riu. (= Eu disse algo para minha avó e ela riu.)

    Disse isso a minha avó e ela riu. (= Minha avó disse algo e a véia riu.)

  • Não concordo com o gabarito, por quê?

    veja bem :
     Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. 

    Para mim, era preciso alterar também o NA palma da mão por uma questão de paralelismo sintático. 

  • troca Na hora de ir para casa" Substituindo o EM por A = à hora de ir para casa

    Troca pelo masculino = AO horário de ir para casa = Preposição + Artigo = Crase obrigatória.

    A questão deixa clara a troca que ela quer que ocorra.