SóProvas


ID
1844740
Banca
FCC
Órgão
TRT - 23ª REGIÃO (MT)
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aleia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu.

      Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio conseguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma aparência que a mim lembrava vagamente um olho.

      Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos. Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada região do Jardim Botânico.

      Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu. Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.

      Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos mulungus, só me ficou a memória − essa memória mínima.

(Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Disponível em: http://heloisaseixas.com.br) 

Quanto à ocorrência de crase, considere as frases abaixo.

I. No segmento ... encontrar um mulungu em meio à vegetação... (2°parágrafo), pode-se substituir corretamente o elemento sublinhado por “por entre", sem que nenhuma outra alteração seja feita.

II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

III. Uma redação correta para o segmento ... na hora de ir para casa (3°parágrafo), caso se substitua a preposição "em" por "a", é: "à hora de ir para casa".

Está correto o que consta em 

Alternativas
Comentários
  • Letra B

    I - Se fosse tirar "em meio" e colocar "por entre" seria necessário suprimir a preposição contida na crase, para não ficar com duas preposições seguidas.

    II - O artigo definido contido na crase pode ser suprimido.

    III - na = em + a

          à = a + a

     

    Animus!

  • II: quando houver "meu, minha, seu, sua" (pronomes possessivos no SINGULAR), o uso da crase é facultativo.

  • I. Errada.

    Encontrar um mulungu em meio à vegetação => encontrar um mulungu por entre a vegetação. (ocorre alteração, pois é suprimido o sinal de crase).

    II. Correta.

    Disse isso à minha avó e ela riu => No segmento Disse isso a minha avó e ela riu (o uso de crase é facultativo antes de pronomes possessivos)

    III. Correta.

    Na (em+a) hora de ir para casa => à (a+a) hora de ir para casa. 
     

  • II - [...] sem prejuízo para o sentido ??? Fiquei na dúvida aí ... =/

  • II. No segmento Disse isso à minha avó e ela riu... (3° parágrafo), pode-se suprimir o artigo definido sem prejuízo para o sentido e a correção.

    ASSERTIVA MAL FORMULADA.  

    PARA MANTER A CORREÇÃO GRAMATICAL É NECESSARIO AJUSTAR O ACENTO GRAVE INDICATIVO DE CRASE AO SUPRIMIR O ARTIGO DEFINIDO "A".

    LOGO, MANTERIA O SENTIDO ORIGINAL,MAS NÃO A CORREÇÃO. POIS FICARIA APENAS A PREPOSIÇÃO, QUE TORNA  FRASE GRAMATICALMENTE CORRETA SE NÃO TIVER O ACENTO GRAVE.

    A QUESTÃO DO ACENTO DEVERIA ESTAR EXPRESSA.

  • Não consegui entender por que está certo o item III. Alguém poderia me ajudar por favor?

     

  • Natália Oliveira,

    na frase  - na hora de ir para casa (3°parágrafo) -, o na é o equivalente a "em + a". Dessa forma, caso eu troque o "em" pela preposição "a", a junção seria a (da preposição trocada) + a (o artigo que já estava presente no "na"), o que levaria ao à (a craseado).

     

     

  • II - O artigo definido contido na crase pode ser suprimido.

    Pode, mas muda o sentido, contrariando o que a banca pediu. CadÊ p professor???

  • Na minha opinião deve-se retornar ao texto, pois fica claro que o sujeito do item II é oculto. Ao continuar a leitura vem o segmento: "... e ela riu", logo, a meu ver, não gera ambiguidade em relação ao sujeito (oculto - eu - que também subtende-se ao ler o parágrafo anterior) e objeto indireto (a/à minha avó).  

  • Veja a resolução detalhada desta questão em:

    https://www.youtube.com/watch?v=JBAtSZBu_Po

    Bons estudos a todos!

  • Pra galera que perguntou se haveria mudança de "sentido" na supressão de uma crase e tal, vai uma OPINIÃO: nos casos de crase facultativa, acredito que não muda o sentido nem a correção, afinal, é "facultativa". Caso alguém tenha alguma resposta concreta me avisa, por favor! 

  • Um obs: Não é o uso da crase que é facultativo e sim o uso do artigo. Caso o artigo seja usado, a crase será obrigatória!

  • Confesso que fiquei em dúvida na II aí o que eu fiz pra ter certeza foi criar outra frase pra ver como se comportaria a ausencia de artigo.

    No segmento Disse isso à minha avó e ela riu..  verbo dizer é VTDI pq Disse Algo a alguém aí criei outra frase com VTDI pra ficar mais claro

    Comprei um carro PARA minha avó. a ausencia do Artigo não prejudica a correção da frase.

     

  • Bruna Barbosa, seu comentário está equivocado.

    pronomes possessivos FEMININOS no singular(minha, sua) seria o correto em relação ao que você falou (crase facultativa). meu e seu são masculinos e antes de palavra masculina não há crase.

  • II - se o "à" for suprimido como pedido, muda o sentido da frase - minha avó passa a ter dido e não eu.

  • Antes de pronome possessivo feminino SINGULAR a CRASE É FACULTATIVA:

    minha /tua / sua / nossa / vossa.

    exemplos:

    a) Eu me referi à sua vaga; quem se refere se refere a (prep) + optou por usar o artigo “a”

    b) Eu me referi a sua vaga. Não optou por usar o artigo “a”

    Sem substantivo, porém, o acento grave é obrigatório se houver preposição: “Eu me referi à sua”

  • Polyelber Ferreira, só complementando: O uso da crase é facultativo diante de pronomes possessivos femininos.

  • I - Quando mudamos " em meio " para "por dentre" Ocorre a perda da Crase

    II - "Minha" é Pronome Possessivo - Em pronomes possessivos é facultativo o uso de crase

    II- Substituir a preposição "Em" + por "A" = A + A -> À, Ou seja, esta correta