- ID
- 1846438
- Banca
- CONSULPLAN
- Órgão
- CBM-PA
- Ano
- 2016
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Tempos loucos – Parte 2
Os adultos que educam hoje vivem na cultura que incentiva ao extremo o consumo. Somos levados a consumir de
tudo um pouco: além de coisas materiais, consumimos informações, ideias, estilos de ser e de viver, conceitos que
interferem na vida (qualidade de vida, por exemplo), o sexo, músicas, moda, culturas variadas, aparência do corpo, a
obrigatoriedade de ser feliz etc. Até a educação escolar virou item de consumo agora. A ordem é consumir, e
obedecemos muitas vezes cegamente a esse imperativo.
Quem viveu sem usar telefone celular por muito tempo não sabe mais como seria a vida sem essa inovação
tecnológica, por exemplo. O problema é que a oferta cria a demanda em sociedades consumistas, que é o caso atual, e
os produtos e as ideias que o mercado oferece passam a ser considerados absolutamente necessários a partir de então.
A questão é que temos tido comportamento exemplar de consumistas, boa parte das vezes sem crítica alguma.
Não sabemos mais o que é ter uma vida simples porque almejamos ter mais, por isso trabalhamos mais etc. Vejam que
a ideia de lazer, hoje, faz todo sentido para quase todos nós. Já a ideia do ócio, não. Ou seja: para descansar de uma
atividade, nos ocupamos com outra. A vadiagem e a preguiça são desvalorizadas.
Bem, é isso que temos ensinado aos mais novos, mais do que qualquer outra coisa. Quando uma criança de oito
anos pede a seus pais um celular e ganha, ensinamos a consumir o que é oferecido; quando um filho pede para o pai
levá‐la ao show do RBD, e este leva mesmo se considera o espetáculo ruim, ensinamos a consumir, seja qual for a
estética em questão; quando um jovem pede uma roupa de marca para ir a uma festa e os pais dão, ensinamos que o
que consumimos é mais importante do que o que somos.
Não há problema em consumir; o problema passa a existir quando o consumo determina a vida. Isso é
extremamente perigoso, principalmente quando os filhos chegam à adolescência. Há um mercado generoso de oferta
de drogas. Ensinamos a consumir desde cedo e, nessa hora, queremos e esperamos que eles recusem essa oferta.
Como?!
Na educação, essa nossa característica leva a consequências sutis, mas decisivas na formação dos mais novos.
Como exemplo, podemos lembrar que estes aprendem a avaliar as pessoas pelo que elas aparentam poder consumir e
não por aquilo que são e pelas ideias que têm e que o grupo social deles é formado por pares que consomem coisas
semelhantes. Não é a toa que os pequenos furtos são um fenômeno presente em todas as escolas, sejam elas públicas
ou privadas.
Nessa ideologia consumista, é importante considerar que os objetos perdem sua primeira função. Um carro deixa
de ser um veículo de transporte, um telefone celular deixa de ser um meio de comunicação; ambos passam a significar
status, poder de consumo, condição social, entre outras coisas.
A educação tem o objetivo de formar pessoas autônomas e livres. Mas, sob essa cultura do consumo, esses dois
conceitos se transformaram completamente e perderam o seu sentido original. Os jovens hoje acreditam que têm
liberdade para escolher qualquer coisa, por exemplo. Na verdade, as escolhas que fazem estão, na maioria das vezes,
determinadas pelo consumo e pela publicidade. Tempos loucos, ou não?
(SAYÃO, Rosely. Tempos loucos – Parte 2. Disponível em:http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2006‐10‐01_2006‐10‐15.html.
Acesso em: dezembro de 2015.)
“Não há problema em consumir; o problema passa a existir quando o consumo determina a vida. Isso é extremamente perigoso, principalmente quando os filhos chegam à adolescência. Há um mercado generoso de oferta de drogas." (5º§) O verbo haver, utilizado no trecho em destaque, no sentido de existir, também pode ser empregado em algumas expressões que indicam tempo. Seu emprego está correto em: