- ID
- 1852777
- Banca
- UNA Concursos
- Órgão
- Prefeitura de Flores da Cunha - RS
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
As sandálias da humildade
Ignorar a existência de um problema equivale a eternizá-lo. Albert Einstein já dizia que só quando a gente reconhece uma limitação é que se torna capaz de superá-la.
Os japoneses entendem essa lição de forma clara. Dei-me conta disso com a reação das autoridades aos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, da OCDE, que compara o rendimento de secundaristas em diferentes países. Os estudantes do Japão alcançaram o quarto lugar em leitura e em ciências e o sétimo em matemática. Tais resultados representaram uma melhora da posição do Japão nas três matérias em relação ao exame anterior.
No entanto, não se viu discurso triunfalista; os resultados foram recebidos com sobriedade. A maioria dos comentários chamava a atenção para a importância de que se fizessem esforços ainda maiores para aprimorar a qualidade acadêmica e a competitividade internacional dos estudantes japoneses.
Na mesma avaliação, o Brasil também melhorou em leitura, matemática e ciências. As autoridades brasileiras saudaram os resultados como "grande avanço".
Talvez seja a influência da cultura japonesa em mim, mas acho muito cedo para nos vangloriarmos. Nesse campo, vejo mais batalha que vitória. Fizemos progressos, mas poderíamos ter feito muito mais. Entre 65 países avaliados, o Brasil ficou em 58º. Nossa posição é, em si, vergonhosa. Acabamos bem abaixo da média. Saímos reprovados.
Somos um país em desenvolvimento. Temos nossas limitações. No entanto, para superá-las, primeiro temos de reconhecê-las, como sugeriu Albert Einstein. Recentemente, o ministro dos Esportes anunciou que alguns dos estádios prometidos para a Copa não serão entregues no prazo contratado. Algo no planejamento ou na execução dos projetos falhou. Essas coisas acontecem. Todo mundo está sujeito a atrasos involuntários. Mas a primeira coisa que a gente faz quando se atrasa é desculpar-se. A segunda é explicar o atraso a quem teve de aguentá-lo.
O ministro não fez nem uma coisa nem outra. Comparou a Copa do Mundo a um casamento e os estádios a noivas, que sempre se atrasam. Esqueceu-se, no entanto, de considerar que, nos casamentos, a festa é paga com recursos privados. A construção dos estádios, porém, é financiada com verbas públicas. No caso da noiva, o atraso pode ser charme. No caso de obras públicas, atrasos nada mais são do que falhas, involuntárias ou não, de quem é responsável por construí-las.
Para corrigir esse tipo de problema, precisamos admitir sua existência. Somos um país em desenvolvimento. Temos o direito de errar. Mas, se não aprendermos com os nossos erros, ficaremos em desenvolvimento para sempre - ou, pelo menos, por mais tempo do que seria necessário. Uma vez mais, chegaremos atrasados.
Para acelerar o passo, talvez devêssemos calçar mais frequentemente as sandálias da humildade. Quem sabe elas tornem mais rápida a longa caminhada que, como país, ainda temos diante de nós.
(Alexandre Vidal Porto – Folha de São Paulo – adaptado)
A questão a seguir refere-se ao texto acima:
Considere os enunciados abaixo, atentando para as palavras sublinhadas:
I – “Os japoneses entendem essa lição de forma clara.”
II – “Os resultados foram recebidos com sobriedade.”
III – “nos casamentos, a festa é paga com recursos privados.”
IV – “Quem sabe elas tornem mais rápida a longa caminhada,...”
As palavras sublinhadas têm valor de adjetivo