Convencionou-se distinguir por completo a esfera do trabalho e a esfera das relações interpessoais, no entanto, o trabalho é permeado pela comunicação e interação do agentes. Segundo estudo desenvolvido por Peduzzi (1998), com base no processo de trabalho em saúde e na teoria do agir comunicativo de Habermas (1989, 1994), é justamente a relação recíproca entre estas duas dimensões complementares - trabalho e interação - que caracteriza o que denominamos de trabalho em equipe. Assim, o trabalho em equipe constituiria uma prática em que a comunicação entre os profissionais faz parte do exercício cotidiano do trabalho e os agentes operam a articulação das intervenções técnicas por meio da mediação simbólica da linguagem. Neste sentido, há que se considerar duas dimensões inerentes ao trabalho em equipe: a articulação das ações e a interação dos profissionais.
Quando a equipe é multiprofissional, a articulação refere-se a recomposição de processos de trabalho distintos e, portanto, a consideração das conexões e interfaces existentes entre as intervenções técnicas peculiares de cada área profissional, bem como a preservação das respectivas especificidades. A integração da equipe demanda, simultaneamente, preservar as difierenças técnicas e flexibilizar as fronteiras entre as áreas profissionais. A complexa conjugação entre especificidade, flexibilidade e articulação, torna-se ainda mais desafiadora a medida que, para além das difierenças técnicas entre as distintas áreas profissionais, expressa desigualdade entre os trabalhos especializados. Ou seja, evidencia a existência de valores sociais hierarquizando e disciplinando relações de subordinação entre as diferentes áreas de trabalho e seus respectivos agentes.
A interação é, aqui, entendida como uma prática comunicativa por meio da qual os envolvidos colocam-se de acordo quanto a um projeto comum. Os sujeitos constróem consensos sobre um plano de ação por meio de uma modalidade de comunicação dialógica - de dupla mão, em que os envolvidos partilham os enunciados que proferem e as normas e valores que subjazem esses proferimentos. Ou seja, colocam-se de acordo quanto ao que dizem e aos valores pressupostos compartilhando valores éticos (Habermas, 1989,1994).
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672000000700024
S. Freire