- ID
- 1866256
- Banca
- Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
- Órgão
- Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
- Ano
- 2016
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Às agressões humanas, a Terra responde com flores
Mais que no âmago de uma crise de proporções planetárias,
nos confrontamos hoje com um processo de irreversibilidade. A
Terra nunca mais será a mesma. Ela foi transformada em sua base
físico-química-ecológica de forma tão profunda que acabou perdendo
seu equilíbrio interno. Entrou num processo de caos, vale dizer,
perdeu sua sustentabilidade e afetou a continuação do que, por
milênios, vinha fazendo: produzindo e reproduzindo vida.
Todo caos possui dois lados: um destrutivo e outro criativo. O
destrutivo representa a desmontagem de um tipo de equilíbrio que
implica a erosão de parte da biodiversidade e, no limite, a redução
da espécie humana. Esta resulta da incapacidade ou de adaptar-se
à nova situação ou de mitigar os efeitos letais. Concluído esse processo
de purificação, o caos começa a mostrar sua face generativa.
Cria novas ordens, equilibra os climas e permite que os seres humanos
sobreviventes construam outro tipo de civilização.
Da história da Terra aprendemos que ela passou por cerca de
quinze grandes dizimações, como a do cambriano há 480 milhões
de anos, que dizimou de 80 a 90% das espécies. Mas, por ser mãe
generosa, lentamente, refez a diversidade da vida.
Hoje, a comunidade científica, em sua grande maioria, nos
alerta acerca de um eventual colapso do sistema-vida, ameaçando
o próprio futuro da espécie humana. Todos podem perceber as
mudanças que estão ocorrendo diante de nossos olhos. Grandes
efeitos extremos: por um lado estiagens prolongadas associadas à
grande escassez de água, afetando os ecossistemas e a sociedade
como um todo, como está ocorrendo no Sudeste de nosso país. Em
outros lugares do planeta, como nos USA, invernos rigorosos como
não se viam há decênios ou até centenas de anos.
O fato é que tocamos nos limites físicos do planeta Terra. Ao
forçá-los, como o faz a nossa voracidade produtivista e consumista,
a Terra responde com tufões, tsunamis, enchentes devastadoras,
terremotos e uma incontida subida do aquecimento global. [...]
E, apesar deste cenário dramático, olho em minha volta e vejo,
extasiado, a floresta cheia de quaresmeiras roxas, fedegosos amarelos
e no canto de minha casa as belle donne floridas, tucanos que
pousam em árvores em frente de minha janela e as araras que
fazem ninhos debaixo do telhado.
Então me dou conta de que a Terra é de fato mãe generosa: às
nossas agressões ainda nos sorri com flora e fauna. E nos infunde
a esperança de que não o apocalipse, mas um novo gênesis* está
a caminho. A Terra vai ainda sobreviver. Deus não permitirá que a
vida, que penosamente superou o caos, venha a desaparecer.
* Gênesis – termo grego que significa origem, nascimento, é o nome do primeiro livro da bíblia.
Leonardo Boff. Disponível em: https://leonardoboff.wordpress.com/2015/02/22/as-agressoes-humanas-a-terra-responde-com-flores/
- Adaptado.
Elipse é a omissão, numa enunciação linguística, de um termo que pode ser depreendido pelo contexto. Em “Cria novas ordens, equilibra os climas..." (segundo parágrafo), ocorre elipse do sujeito, que também se verifica em: