SóProvas


ID
1869739
Banca
FUNCAB
Órgão
Prefeitura de Santa Maria de Jetibá - ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      O encontro


      Maria da Piedade Lourenço era uma mulher miúda e nervosa, com uma cabeleira pardacenta, malcuidada, erguida, como uma crista, no alto da cabeça. Ludo não conseguia distinguir-lhe os pormenores do rosto. Todavia, deu pela crista. Parece uma galinha, pensou, e logo se arrepende por ter pensado aquilo. Andara nervosíssima nos dias que antecederam a chegada da filha. Quando esta lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma. Mandou-a entrar. A sala estava agora pintada e arranjada, soalho novo, portas novas, tudo isso às custas do vizinho, Arnaldo Cruz, que também fizera questão de oferecer as mobílias. Comprara o apartamento a Ludo, concedendo-lhe o usufruto vitalício do mesmo, e comprometendo-se a pagar os estudos de Sabalu até este concluir a universidade.

      A mulher entrou. Sentou-se numa das cadeiras, tensa, agarrada à bolsa como a uma boia de salvação. Sabalu foi buscar chá e biscoitos.

      Não sei como a hei de chamar.

      Pode chamar-me Ludovica, é o meu nome.

      Um dia poderei chamá-la mãe?

     Ludo apertou as mãos de encontro ao ventre. Podia ver, através das janelas, os ramos mais altos da mulemba. Nenhuma brisa os inquietava.

      Sei que não tenho desculpa, murmurou: Era muito nova, e estava assustada. Isso não justifica o que fiz.

      Maria da Piedade arrastou a cadeira para junto dela. Pousou a mão direita no seu joelho:

      Não vim a Luanda para cobrar nada. Vim para a conhecer. Quero levá-la de volta para a nossa terra.

      Ludo segurou-lhe a mão:

      Filha, esta é a minha terra. Já não me resta outra.

      Apontou para a mulemba:

      Tenho visto crescer aquela árvore. Ela viu-me envelhecer a mim.

      Conversamos muito.

      A senhora há de ter família em Aveiro.

      Família?!

      Família, amigos, eu sei lá.

      Ludo sorriu para Sabalu, que assistia a tudo, muito atento, enterrado num dos sofás:

      A minha família é esse menino, a mulemba lá fora, o fantasma de um cão. Vejo cada vez pior. Um oftalmologista, amigo do meu vizinho, esteve aqui em casa, a observar-me. Disse-me que nunca perderei a vista por completo. Resta-me a visão periférica. Hei de sempre distinguir a luz, e a luz neste país é uma festa. Em todo o caso, não pretendo mais: A luz, Sabalu a ler para mim, e a alegria de uma romã todos os dias.


AGUALUSA, José Eduardo.Teoria Geral do Esquecimento. Rio de Janeiro: Foz, 2012. 

A frase “Ela viu-me envelhecer a mim.”, como efeito expressivo, é exemplo de:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito B

     

    “Ela viu-me envelhecer a mim.”

     

    Pleonasmo é uma figura de linguagem usada para intensificar o significado de um termo através da repetição da própria palavra ou da ideia contida nela

    http://www.significados.com.br/pleonasmo/

  • A) hipérbole_  permite exprimir uma idéia de forma exagerada

    ex: Já disse um milhão de vezes a mesma coisa.

     

    B)gabarito.

     

    C)prosopopeia_ permite atribuir qualidades animadas a seres irracionais ou inanimados.

    ex: A sorte bate em sua porta.

     

    D)eufemismo_ tem objetivo de suavizar expressões chocantes.

    ex: Ele faltou com a verdade. (em vez de dizer "ele mentiu")

     

    E)anáfora_ é a repetição das mesmas palavras com a finalidade de reforçar uma idéia.

    ex: nada de educação, nada de saúde, nada de emprego. Este país está a beira de um precipício.

  • ANAFORA - REPETIÇÃO DE PALAVRAS

    HIPERBOLE - EXAGERO DE IDEIAS

    PROSOPOPEIA - DA VIDA A SERES INANIMADOS,

    EUFEMISMO - FRASES QUE SUAVIZAM

  • Letra B  pleonasmo,   repetição  também de  ideías.

  • Letra B

     

    PLEONASMO = Repetição desnecessária de ideias.

     “Ela viu-me envelhecer a mim.”

     

  • Aqui é fácil do fácil, B.

  • GABARITO: LETRA B

    Pleonasmo:
    Trata da repetição de significação de vocábulo ou de termos oracionais.
    - “Iam vinte anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quanto em visão com os da saudade via.” (Alberto de Oliveira)
    - Ao pobre nada lhe peço, ao rico nada lhe devo.
    - Médica, ela nunca o será.
    - Chorou um choro de profundo lamento.
    OBS: O pleonasmo vicioso diz respeito à repetição inútil e desnecessária de algum termo ou ideia na frase.
    Nesse caso não é uma figura de linguagem, e sim um vício de linguagem.

    FONTE: A gramática para concursos públicos / Fernando Pestana. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.