SóProvas


ID
1904050
Banca
INSTITUTO CIDADES
Órgão
Prefeitura de Itauçu - GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Texto

                                 O Padeiro


      Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento — mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.

      Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

      — Não é ninguém, é o padeiro!

      Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

      "Então você não é ninguém?

      " Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

      Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

      Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

      E assobiava pelas escadas.

                                                                                             Rubem Braga 

Sobre a “greve dos patrões”, o autor do texto:

Alternativas
Comentários
  • a) Apoia o movimento, mas lamenta por não ter pão fresco para o café da manhã. 

    Errada. Não há manifestação de apoio nem de repulsa à greve.

    b) Relativiza a caracterização dessa greve, que suspendeu o trabalho no turno da noite. 

    Certa. (...) me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve (...)

    c) Critica a greve por ser dos patrões e por buscar subsídios para insumos do pão. 

    Errada. Não é feita crítica por ser greve de patrões e não existe informação do objetivo da greve: (...) acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.

    d) Flexibiliza o conceito de greve porque esse movimento objetiva aumento no preço do pão. 

    Errada. Em que pese ocorrer essa flexibilização do conceito de greve, não existe informação do objetivo da greve (lock out)

  • Resposta letra "b" Relativiza a caracterização dessa greve, que suspendeu o trabalho no turno da noite.