SóProvas


ID
1907947
Banca
FCC
Órgão
SEDU-ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            As enchentes de minha infância

                                                                              Rubem Braga

      Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.

      Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.

      Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.

(BRAGA, Rubem. As enchentes de minha infância. In: Ai de ti, Copacabana. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962, p. 157) 

É correto afirmar sobre a crônica:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

  • Letra C.

    Vamos aos problemas de cada alternativa errada:

    a) Errado. O narrador situa-se no presente, mas os eventos narrados ocorrem no passado.

    b) Errado. Não há fantasia ou criticismo.

    d) Errado. A narrativa perspectiva o passado, sem retornar ao presente.

    e) Errado. O narrador não ridiculariza e ironiza o fato.

    Questão comentada pelo Prof. Bruno Pilastre