SóProvas


ID
1942099
Banca
CETREDE
Órgão
Prefeitura de Caucaia - CE
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                           TEXTO I                                                              

                                                         O Assalto

Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:

— Isto é um assalto!

Houve um rebuliço. Os que estavam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o guarda. Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de um admirável serviço de comunicação espontânea, sabia que se estava perpetrando um assalto ao banco. Mas que banco? Havia banco naquela rua? Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser assaltado? 

— Um assalto! Um assalto! — a senhora continuava a exclamar, e quem não tinha escutado, escutou, multiplicando a notícia. Aquela voz subindo do mar de barracas e legumes era como a própria sirena policial, documentando, por seu uivo, a ocorrência grave, que fatalmente se estaria consumando ali, na claridade do dia, sem que ninguém pudesse evitá-la.

Moleques de carrinho corriam em todas as direções, atropelando-se uns aos outros. Queriam salvar as mercadorias que transportavam. Não era o instinto de propriedade que os impelia. Sentiam-se responsáveis pelo transporte. E no atropelo da fuga, pacotes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai no chão, já não é de ninguém; é de qualquer um, inclusive do transportador. Em ocasiões de assalto, quem é que vai reclamar uma penca de bananas meio amassadas?

— Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante! 

O ônibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se, puseram o nariz para fora. Não se via nada. O motorista desceu, desceu o trocador, um passageiro advertiu:

— No que você vai a fim do assalto, eles assaltam sua caixa.

Ele nem escutou. Então os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo, na ânsia de saber, que vem movendo o homem, desde a idade da pedra até a idade do módulo lunar.

Outros ônibus pararam, a rua entupiu.

— Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas. Assim eles não

podem dar no pé.

— É uma mulher que chefia o bando!

— Já sei. A tal dondoca loira.

— A loura assalta em São Paulo. Aqui é morena.

— Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.

— Minha Nossa Senhora, o mundo está virado!

— Vai ver que está caçando é marido.

— Não brinca numa hora dessas. Olha aí sangue

escorrendo!

— Sangue nada, é tomate.

Na confusão, circularam notícias diversas. O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas tinham sido esmigalhadas a bala. E havia joias pelo chão, braceletes, relógios. O que os bandidos não levaram, na pressa, era agora objeto de saque popular. Morreram no mínimo duas pessoas, e três estavam gravemente feridas. 

Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto da convulsão coletiva. Era preciso abrir caminho a todo custo. No rumo do assalto, para ver, e no rumo contrário, para escapar. Os grupos divergentes chocavam-se, e às vezes trocavam de direção; quem fugia dava marcha à ré, quem queria espiar era arrastado pela massa oposta. Os edifícios de apartamentos tinham fechado suas portas, logo que o primeiro foi invadido por pessoas que pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pelo e contemplar lá de cima. Janelas e balcões apinhados de moradores, que gritavam: 

— Pega! Pega! Correu pra lá!

— Olha ela ali!

— Eles entraram na Kombi ali adiante!

— É um mascarado! Não, são dois mascarados!

Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma metralhadora, a pequena distância. Foi um deitar-no-chão geral, e como não havia espaço uns caíam por cima de outros. Cessou o ruído, Voltou. Que assalto era esse, dilatado no tempo, repetido, confuso? 

— Olha o diabo daquele escurinho tocando matraca! E a

gente com dor-de-barriga, pensando que era metralhadora!

Caíram em cima do garoto, que soverteu na multidão. A

senhora gorda apareceu, muito vermelha, protestando sempre:

— É um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro

assalto!

                                                                   Carlos Drummond de Andrade

Pode-se afirmar que o Texto I é

Alternativas
Comentários
  • Gabarito letra D

    Texto apresenta relatos de fatos vividos or personages e ordenados por sequencia. Como o narrador não faz parte da história, logo é narrado em 3° pessoa.

  • O texto apresenta uma evolução temporal, relatando um fato, por isso é narrativo. Como o narrador é obserdor e não personagem então representa narração em 3ª pessoa,

  •  a)dissertativo. 

    ERRADA. O texto dissertativo é dividido em dissertatido argumentativo e dissertativo expositivo/informativo, o texto não apresenta características de nenhum dos dois tipos. 

     

     b)narrativo sem passagens descritivas. 

    ERRADA. O texto apresenta sim, muitas passagens descritivas.

     

     c)narrativo com narrador em 1ª pessoa.

    O autor do texto não participa do texto em questão.

     

     d)narrativo com narrador em 3ª pessoa

    CORRETA. o texto é narrado na 3 pessoa 

     

     e)descritivo com passagens narrativas. 

    O texto é predominantemente narrativo com passagens descritivas (o contrário)

  • O narrador não se inclui na estória (conto, fábula). Diferente de história, que é um fato real. Narração em 3ª pessoa.

  • Eu nunca vi um texto descrever tão bem assim o Brasil e o brasileiro. KKK

    Triste. =/

  • Narrador em 3ª pessoa: Narrador em 3ª pessoa é aquele que não participa da ação, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então o narrador-observador. Exemplo: João estava andando pela rua quando de repente tropeçou em um pacote embrulhado em jornais.