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ID
1982386
Banca
VUNESP
Órgão
PM-SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O Brasil, a rotatória e os analfabetismos

    O caro leitor certamente já ouviu e/ou leu matérias a respeito do nosso analfabetismo funcional. Estudos recentes informam que apenas 24% dos brasileiros letrados entendem textos de alguma complexidade.

    Nossa dificuldade com o texto é inegável e não escolhe classe social. Não pense o leitor que ela é ”privilégio” de pobres ou de gente pouco escolarizada. A leitura de trabalhos de conclusão de curso de muitos e muitos alunos de letras (sim, de letras!) prova que a situação é dramática.

    O livro “Problemas de Redação”, do professor Alcir Pécora, mostra que alunos da primeira turma de estudos linguísticos de uma das mais importantes universidades do país concluíram o curso sem a mínima condição de ler e/ou escrever de acordo com a escolaridade formal que detinham.

   Mas o nosso analfabetismo não é apenas verbal, ou seja, não se limita ao que é expresso por meio da língua; ele é também não verbal, isto é, abrange também a dificuldade para lidar com signos que não se valem da palavra escrita ou dita, mas, por exemplo, de imagens, de cores etc.

   Boa parte da barbárie brasileira pode ser demonstrada pelo que se vê no trânsito das nossas cidades. Ora por falta de vergonha, ora por analfabetismo verbal e/ou não verbal + falta de vergonha, os brasileiros provamos, um bilhão de vezes por minuto, que este país não deu certo.

   Uma das situações que acabo de citar pode ser ilustrada pelos semáforos. Decerto os brasileiros conhecemos o que significam os signos não verbais (as três cores) que há nos “faróis” ou “sinaleiras”. O desrespeito ao significado desses signos não decorre do analfabetismo (verbal ou não verbal), mas da falta de vergonha.

   Agora a segunda situação. Nada melhor do que as rotatórias para ilustrá-la. Em todos os muitos cantos do mundo pelos quais já passei, a rotatória é tiro e queda: funciona. Os motoristas conhecem o significado desse signo não verbal e respeitam-no. No Brasil, o que mais se vê é gente entrando a mil na rotatória, literalmente soltando baba, bestas-feras que são. Quando me aproximo de uma rotatória e já há um carro dentro dela, paro e dou a preferência. Começa a buzinação. A ignorância é atrevida, arrogante, boçal. Mas eu aguento: enquanto o outro não passa, faço movimentos circulares com a mão para mostrar ao outro motorista que aquilo é uma rotatória e que ele, por ter entrado antes, é quem tem a preferência. Quase sempre alguém fura a fila e passa exibindo outro signo não verbal (dedo médio em riste), mais um a traduzir o nosso elevado grau de barbárie.

   Não sou dos que dizem que este país é maravilhoso, que a nossa sociedade é maravilhosa. Não há solução para a barbárie brasileira que não comece pela admissão e pela exposição da nossa vergonhosa barbárie de cada dia sob todas as suas formas de manifestação. A barbárie é filha direta da ignorância e se manifesta pelo atrevimento inerente à ignorância. Falta competência de leitura, verbal e não verbal; falta educação, formal e não formal. Falta vergonha. Falta delicadeza. Falta começar tudo de novo. É isso.

(Pasquale Cipro Neto, Folha de S.Paulo, 20 de março de 2014. Adaptado)

A frase do texto, reescrita, que se mantém correta, considerando as regras de uso do acento indicativo de crase, é:

Alternativas
Comentários
  • A) A falta de vergonha dos brasileiros......... (falta crase na letra A)

    B) O desrespeito as trê cores do semáforo............. (falta crase na letra A, quando o numeral é acompanhado de um substantivo feminino ele é acompanhado do fenômeno da crase)

    C) à nosso analfabetismo.......... (à palavra nosso é um pronome indefinido, ou seja, não ocorre o fenômeno crase)

    D) se deve à falta............. (ocorre a crase, podemos substituir a palavra falta pela palavra governo e assim ficaria se deve "ao governo", sempre que a palavra feminina puder ser substituída por uma masculina e antes desta puder ser empregada a palavra "ao", ocorre a crase.

    E) refere-se a preferência............... (faltou a crase, quem se refere se refere a alguma coisa ou a alguem.

  • Na verdade guilherme, à palavra nosso é um pronome possessivo. Meu, Seu, Nosso, Vosso, e etc... É facultativo(opcional) À crase antes de pronomes possessivos!!! logo poderia ser - à ( ou a) nosso analfabetismo.

  • Achei que falta era verbo ;-;
  • Acrecente-se o anafalbetismo A falta de vergonha na cara = Tinha que ter crase.