SóProvas


ID
1999408
Banca
AOCP
Órgão
Sercomtel S.A Telecomunicações
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            A arte perdida de ler um texto até o fim

                A internet é um banquete de informações, mas só aguentamos as primeiras garfadas

                                                                                                                                   Danilo Venticinque

   Abandonar um texto logo nas primeiras linhas é um direito inalienável de qualquer leitor. Talvez você nem esteja lendo esta linha: ao ver que a primeira frase deste texto era uma obviedade, nada mais natural do que clicar em outra aba do navegador e conferir a tabela da copa. Ou talvez você tenha perseverado e seguido até aqui. Mesmo assim eu não comemoraria. É muito provável que você desista agora. A passagem para o segundo parágrafo é o que separa os fortes dos fracos.

   A internet é um enorme banquete de informações, mas estamos todos fartos. Não aguentamos mais do que as duas ou três primeiras garfadas de cada prato. Ler um texto até as últimas linhas é uma arte perdida. No passado, quem desejasse esconder um segredo num texto precisava criar códigos sofisticados de linguagem para que só os iniciados decifrassem o enigma. Hoje a vida ficou mais fácil. Quer preservar um segredo? Esconda-o na última frase de um texto – esse território selvagem, raramente explorado.

   Lembro-me que, no Enem do ano retrasado, um aluno escreveu um trecho do hino de seu time favorito no meio da redação. Tirou a nota 500 (de 1000), foi descoberto pela imprensa e virou motivo de chacota nacional. Era um mau aluno, claro. Se fosse mais estudioso, teria aprendido que o fim da redação é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino de futebol. Se fizesse isso, provavelmente tiraria a nota máxima e jamais seria descoberto.

   Agora que perdi a atenção da enorme maioria dos leitores à exceção de amigos muito próximos e parentes de primeiro grau, posso ir direto ao que interessa. Quem acompanhou as redes sociais na semana passada deve ter notado uma enorme confusão causada pelo hábito de abandonar um texto antes do fim. Resumindo a história: um jornalista publicou uma coluna em que narrava uma longa entrevista com Felipão num avião. A notícia repercutiu e virou manchete em outros sites, até que alguém notou que o entrevistado não era Felipão, mas sim um sósia dele. Os sites divulgaram erratas e a história virou piada. No meio de todo o barulho, porém, alguns abnegados decidiram ler o texto com atenção até o fim. Encontraram lá um parágrafo enigmático. Ao final da entrevista, o suposto Felipão entregava ao jornalista um cartão de visitas. No cartão estavam os dizeres “Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”. A multidão que ria do engano do jornalista o fazia sem ler esse trecho.

   Teria sido tudo uma sacada genial do jornalista, que conseguiu pregar uma peça em seus colegas e em milhares de leitores que não leram seu texto até o fim? Estaria ele rindo sozinho, em silêncio, de todos aqueles que não entenderam sua piada?

   A explicação, infelizmente, era mais simples. Numa entrevista, o jornalista confirmou que acreditava mesmo ter entrevistado o verdadeiro Felipão, e que o cartão de visitas do sósia tinha sido apenas uma brincadeira do original.

   A polêmica estava resolvida. Mas, se eu pudesse escolher, preferiria não ler essa história até o fim. Inventaria outro desenlace para ela. Trocaria o inexplicável mal-entendido da realidade por uma ficção em que um autor maquiavélico consegue enganar uma multidão de leitores desatentos. Ou por outra ficção, ainda mais insólita, em que o texto revelava que o entrevistado era um sósia, mas o autor não saberia disso porque não teria lido a própria obra até o final. Seria um obituário perfeito para a leitura em tempos de déficit de atenção.

   Se você chegou ao último parágrafo deste texto, você é uma aberração estatística. Estudos sobre hábitos de leitura demonstram claramente que até meus pais teriam desistido de ler há pelo menos dois parágrafos. Estamos sozinhos agora, eu e você. Talvez você se considere um ser fora de moda. Na era de distração generalizada, é preciso ser um pouco antiquado para perseverar na leitura. Imagino que você já tenha pensado em desistir desse estranho hábito e começar a ler apenas as primeiras linhas, como fazem as pessoas ao seu redor. O tempo economizado seria devidamente investido em atividades mais saudáveis, como o Facebook ou games para celular. Aproveito estas últimas linhas, que só você está lendo, para tentar te convencer do contrário. Esqueça a modernidade. Quando o assunto é leitura, não há nada melhor do que estar fora de moda. A história está repleta de textos cheios de sabedoria, que merecem ser lidos do começo ao fim. Este, evidentemente, não é um deles. Mas seu esforço um dia será recompensado. Não desanime, leitor. As tuas glórias vêm do passado.

(http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/danilo-venticinque/noticia/2014/06/arte-perdida-de-bler-um-texto-ate-o-fimb.html)

Sobre as informações contidas no texto, pode-se afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Letra A.

     

     

    a) o autor do texto defende que há muita informação na internet para ser utilizada, porém as pessoas não leem literalmente, ou seja, não leem todo o conteúdo de um texto, somente superficialmente. - Correto.

     b) o autor do texto acredita que o aluno que produziu a redação do ENEM com o hino de seu time não possuía conhecimento de mundo e, por isso, era um péssimo aluno. - Errado, ele acha que o aluno não era estudioso: "Era um mau aluno, claro. Se fosse mais estudioso, teria aprendido que o fim da redação é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino de futebol."

     c) no texto, observa-se que o ato de ler não é necessário, uma vez que a sociedade já utiliza outros recursos para se comunicar e se expressar de modo eficaz, como as imagens. - Errado, ele acha que ler é importante: "Aproveito estas últimas linhas, que só você está lendo, para tentar te convencer do contrário. Esqueça a modernidade. Quando o assunto é leitura, não há nada melhor do que estar fora de moda."

     d) o autor acredita que se o jornalista que entrevistou o sósia do Felipão tivesse feito de propósito a publicação do texto mencionando, ou seja, a entrevista ter sido feita com o verdadeiro Felipão, seria uma péssima ideia. - Errado, ele não achou uma péssima ideia, porém teria feito de forma diferente: "Trocaria o inexplicável mal-entendido da realidade por uma ficção em que um autor maquiavélico consegue enganar uma multidão de leitores desatentos. Ou por outra ficção, ainda mais insólita, em que o texto revelava que o entrevistado era um sósia, mas o autor não saberia disso porque não teria lido a própria obra até o final. Seria um obituário perfeito para a leitura em tempos de déficit de atenção."

     e) no final do texto, o autor promove uma intertextualidade com um hino de clube de futebol, promovendo uma brincadeira entre as palavras e ao mesmo tempo sendo irônico com seu leitor, o que não é apropriado para um texto do gênero jornalístico. - Errado, no final ele promove uma intertextualidade com a real importância de se lê: "Se você chegou ao último parágrafo deste texto, você é uma aberração estatística. A história está repleta de textos cheios de sabedoria, que merecem ser lidos do começo ao fim."

  • Gabarito Letra A.

     

    A - GABARITO - O autor afirma realmente que contém muita informação na internet "l.5 A internet é um enorme banquete de informações" e que as pessoas não leem todo o texto "l.5 Ler um texto até o final é uma arte perdida". 

     

    B - Errada; O autor não diz que o aluno é péssimo por não possuir conhecimento de mundo e sim porque não era estudioso e não aprendeu que é no final da redação que é o melhor lugar para por o hino do clube. " l.10 e 11 - Se fosse mais estudioso, teria aprendido que o fim da redação é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino de futebol."

     

    C - Errada; Extrapola o texto.

     

    D - Errada; Ele não acharia péssimo, apenas faria de outra forma " l.26 Trocaria o inexplicável mal-entendido da realidade por uma ficção em que um autor maquiavélico consegue enganar uma multidão de leitores desatentos."

     

    E - Errada; MUITO CUIDADO. Aqui morou o perigo da questão. Realmente o autor promove uma intertextualidade com o hino do São Paulo F C, entretanto, a questão fica errada quando ele diz que a brincadeira e irônia são inadequadas ao genero jornalístico, o que não é verdade, pois uma das características dos textos jornalísticos é a interação com o leitor. 

  • Confesso que quase pulei a questão, pois o texto, nos primeiros parágrafos, quase me convenceu de que não era uma boa ideia perder meu tempo com um texto enorme, mas como é uma questão de interpretação de texto... Fazer o que neh!!!!!

  • A arte perdida de ler um texto até o fiminternet é um banquete de informações, mas só aguentamos as primeiras garfadas = gab. A

    "a"

    o autor do texto defende que há muita informação na internet para ser utilizada, porém as pessoas não leem literalmente, ou seja, não leem todo o conteúdo de um texto, somente superficialmente.

    Não precisamos nem perder tempo lendo o texto, posto que o texto afirma que somos "preguisos".

  • Sério, achei muito culto esse texto.!!!

     

  • Encotrei um erro de gramática no início do terceiro parágrafo que diz "Lembro-me que" e deveria ser assim:iembro-me de que ...ou lembro que.Pois os verbos lembrar e esquecer são transitivo direto e quando seguido de pronome oblíquo são transitivo indireto.Mas,assim mesmo,gostei muito do texto. 

  • Quem ai matou a questão so no tituo do texto.

     

  • Vale muito a pena ler as opções da questão primeiro antes do texto, pois nesse caso matou-se a questão apenas com o título - 

    A arte perdida de ler um texto até o fim 

    A internet é um banquete de informações, mas só aguentamos as primeiras garfadas

    Gab indubitavelmente (A)

  • Mas vale apena ler esse texto, adorei. 

  •  

    Gostei do texto, de fácil entendimento.

  • Dependendo do tempo da prova, da para responder sem ler, mas aqui no QC é interessante ler o texto até o fim. O texto é muito bom e pode ser, por exemplo, tema de alguma redação. 

  • Adorei o texto, muito didático e interage bem com o leitor, com certeza um dos melhores que já li

  • Mas que texto em ! Gostei !

  • Adorei o texto muito bom e uma licao para as pessoas q nao tem mais o habito de ler...

  • Eu também gostei do texto, show, bem dinâmico.

  • Excelente texto!

  • Bem legal o primeiro parágrafo do texto, o resto eu não li. kkkkkk Brincadeira!

    Gabarito: A

  • Já eu fico feliz quando encontro em questões de concursos textos tão gostosos de ler como esse :)

  • so errou a letra A quem nao leu a questao toda e pulou para a letra B. kkkkkkk

     

  • Vou te falar uma coisa, essa fiz sem ler o texto.

    Ai vc deve falar....."vai tomar $#@, não tem como..."

    rapaz, é so vc o jeito q as alternativas estão formuladas, ja dão um ar de absurdas ( o que tende a estar errado).

    "Ah mas só da pra saber isso lendo o texto". Não filho, o que eu quero dizer é que quando vc fazer muitas questões, vc automaticamente já terá uma apuração das repostas, o famoso : separar o trigo do joio.

    OBS: não faça isso na sua prova ou no seu estudo, isso é furada, entretanto temos q pegar as malícias de fazer questões, que neste caso resolvi assim.

    SUCESSO A TODOS!