- ID
- 2019532
- Banca
- FUNDEP (Gestão de Concursos)
- Órgão
- Prefeitura de Bela Vista de Minas - MG
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
A difícil arte de ser bizarro
Num dos maiores dicionários de língua portuguesa, bizarro recebe nove definições. Sete delas são
elogiosas. Bizarro é aquele que se destaca pela aparência bem cuidada, por modos e trajes elegantes,
briosos, nobres. O uso mais comum hoje é como sinônimo de esquisito, estranho e excêntrico. Essa definição
aparece por último, como informal e recente.
Talvez nenhum outro adjetivo combine mais com moda que “bizarro”, em todos os seus nove sentidos. O
que é bonito, garboso e elegante num dia pode virar esquisito e estranho no outro. O livro Última moda – Uma
história do belo e do bizarro, dos historiadores e jornalistas ingleses Barbara Cox, Carolyn Sally Jones, David e
Caroline Stafford (Publifolha), reúne boa parte da história de hábitos da moda de gosto e bom-senso duvidosos.
É divertido e informativo, mesmo para quem não está nem aí com moda – ou especialmente para essas pessoas.
As ousadias e sacrifícios mal disfarçavam o desejo de se diferenciar. Nas cortes, leis suntuárias ditavam
limites para o tipo de acessório e tecido que os súditos podiam usar para que não ostentassem roupas como
as da realeza. Não foi possível manter esse controle por muito tempo. À medida que a indústria da moda se
expandia e as classes mais pobres passavam a ter acesso a cópias dos acessórios reais, mais mirabolante a
moda da alta sociedade se tornava. A ideia de exclusivo viveu muito tempo da arte de dificultar a confecção, o
acesso à matéria-prima, até mesmo o uso dos artigos. Muitos dos trajes e acessórios que compõem o bizarro
na moda eram mais do que curiosidades estéticas para os olhos de hoje. Alguns prejudicavam a saúde e
chegavam a pôr em risco a vida de quem os usava. Armações de saias que levavam mulheres à histeria,
estruturas de vestidos inflamáveis, até tintas de roupas que matavam e maquiagens que envenenavam.
Conhecida como uma das mais belas jovens do Reino Unido, Maria Gunning, condessa de Coventry, era
adepta da base branca para o roso e para o busto e de ruge vermelho para as bochechas. Os cosméticos
continham chumbo. Abriram fissuras em seu rosto, infeccionaram e a levaram à morte aos 27 anos. Ela
passou seus últimos anos num quarto escuro para que ninguém a visse.
Os absurdos da moda foram terreno fértil para as críticas de costume do escritor francês Honoré de
Balzac, que afirmou: “A moda nada mais é que um ridículo que não teme objeções”. E que diverte – para
quem sobrevive a ela.
OSHIMA, Flávia Yuri. A difícil arte de ser bizarro. Época. São Paulo, Globo, n. 813, 23 dez.
2013, p. 84-86. (Fragmento)
Infere-se que, para a autora do texto, o livro Última moda – Uma história do belo e do bizarro merece ser lido
porque