SóProvas


ID
2036956
Banca
INSTITUTO MAIS
Órgão
Câmara de Santana de Parnaíba - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Caso de recenseamento

    Carlos Drummond de Andrade


    O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
    — Não quero comprar nada.
    — Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
    — Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém.
    Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim? 
    E fecha-lhe a porta.
    Ele bate de novo.
    — O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?
    — A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie, mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta respondera umas perguntinhas.
    — Não vou respondera perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
    A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
    — Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
    — Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele. 
    (Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
    — Que é que há? — resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
    — E esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada! 
    — Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.
    — Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo! 
    O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convence-o de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A ideia , de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.
    E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.
    — O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
    — Tenho três, sim senhor.
    — Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
    — Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
    — Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
    — Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
    — Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
    — Isso eu não sei, não me lembro.
    E, voltando-se para a cozinha:
    — Mulher, sabes o nome da Pipoca?
    A mulher aparece confusa.
    — Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
    Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
    — Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
    — Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente.
    Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

    Na frase: “O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias", o termo “aonde" está empregado de maneira correta. Assinale a alternativa na qual os termos “onde” e “aonde" estejam empregados INCORRETAMENTE. 

    Alternativas
    Comentários
    • Só acertei por causa do advérbio de lugar kkkk..

    • Qual o erro da letra a? Para mim, há duas respostas possíveis nessa questão!

    • Quem está, está em algum lugar, logo, em que = onde é não aonde. Letra B. 

    • onde mora? aonde vai?     

    •  

      Gabarito letra B

      Aonde é um advérbio que, assim como onde, indica lugar. Entretanto, só pode ser utilizado como indicativo de movimento, por isso deve ser usado ao lado de verbos que indiquem esse deslocamento (ir, levar, chegar, dirigir etc.). Acompanhe os exemplos:

      Aonde devo ir para resolver esse problema?

      Aonde você pensa que vai?

      Aonde devo dirigir-me a fim de resolver esta questão?

      http://escolakids.uol.com.br/onde-ou-aonde.htm

    • Mário Magalhães, na letra a o aonde dá ideia de movimento quando diz: aonde foram passar... Diferentemente da letra b que deixa explicito onde eles estão (lugar físico)

    • Parem de estudar pelo caderno da "tia" da 5º série hehe

       

      Não tem nada haver com verbo de movimento ou não, tem haver com a regência do verbo:


      verbo + em + onde = onde      ex: O lugar onde moro é perto.           > quem mora, mora em.

      verbo + a + onde = aonde       ex: O lugar aonde vou é perto            > quem vai, vai a

    • Não entendi, para mim a letra A está tão errada quando a letra B. Mais um concurso com banca louca, meu Deus, não aguento isso.

       

    • O macete da ideia de movimento e estaticidade geralmente funciona porque verbos que indicam movimento, em geral, pedem preposição. Se ficar dificil visualizar desta maneira, vá para a regência.

      Na letra A os proprietários da casa "foram", e quem vai, vai "a" algum lugar, portanto: aonde;

      Na letra B quem está está em algum lugar, portanto: onde;

      Na letra C, idem a letra B;

      Na letra D, por mais que estamos acostumados a utilizar a expressão "chegar em", o fazemos de maneira errada, já que chegar pede preposição; Portanto, quem chega, chega "a" algum lugar: "As notícias chegaram aonde (a + onde) ninguém havia pensado."

    • @Natália Campos 

      Quem chega, chega a algum lugar

      Quem vai, vai a algum lugar

      Por isso a letra A está correta

    • Alquimista Federal, pare de escrever "nada haver". O correto é "nada a ver".

    • A letra A) é estranha mesmo. Na locução verbal "foram passar", a regência é dada pelo último verbo, não pelo primeiro (regra geral de locuções verbais). Não seria um absurdo pensar dessa forma: "Quem vai passar um final de semana, vai passar EM algum lugar". Afinal, não é errado escrever: "Fulano passou o dia NO escritório". Ninguém diria algo como: "Eu vou passar o feriado A praia", mas sim "Eu vou passar o feriado NA praia".

       

      Acredito que a justificativa para a alternativa A) é que o verbo "passar" está empregado com sentido de algum outro verbo que pede a preposição "A", mas não tenho certeza.

    • O pronome relativo “aonde” é usado nos casos em que o verbo pede a preposição “a”, com sentido de “em direção a”.


      O pronome relativo “onde” pode ser usado quando o antecedente indicar lugar físico, com sentido de “posicionamento em”. Então é utilizado com verbos que pedem “em”.

      GABARITO -> [B]


       

    • Gabarito B


      O pronome relativo “onde” deve ser usado quando o antecedente indicar LUGAR FÍSICO (ainda que virtual, figurativo), com sentido de “posicionamento em”. Como preposição “em” também indica uma referência locativa, podemos substituir “onde” por “em que” e por “no qual” e variações.

      Ex: A academia onde treino não tem aulas de MMA. (treino na academia> academia na qual/em que treino...


      Veja que é inadequado usar o onde para outra referência que não seja lugar físico.

      xEx: Essa é a hora onde o aluno se desespera.

      Ex: Essa é a hora em que/na qual o aluno se desespera.


      O pronome relativo “aonde” é usado nos casos em que o verbo pede a preposição “a”, com sentido de “em direção a”.

      Ex: Gosto da cidade aonde irei.


      O pronome relativo arcaico “donde”, que equivale a “de onde”, é usado nos casos em que o verbo pede a preposição “de”, com sentido de “procedência”.

      Ex: O lugar donde você voltou é distante.


      Fonte: Estratégia Concursos



      Tudo posso Naquele que me fortalece!

    • Só um adendo, o aonde da alternativa insere uma oração substantiva objetiva direta.