SóProvas


ID
2067553
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Alumínio - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                 Em busca do tempo perdido

   Houve um tempo, já um pouco distante, em que fui perseguido tenazmente por uma mesma pergunta. Nas dezenas de entrevistas a que fui submetido, tive de responder que rodava mil e quinhentos quilômetros por semana. Isso não pareceria nada estranho aos repórteres se eu fosse um motorista profissional, mas era professor.

  O significado que a pergunta começou a formular em minha consciência, contudo, eclodiu passado algum tempo, quando uma repórter, com ar meio incrédulo, acrescentou: “Mas então quantas horas o senhor passa dentro do carro a cada semana?” Pronto, estava estabelecido o conflito íntimo. A partir de então comecei a fazer cálculos, a estabelecer porcentagens, comecei a me torturar. Quanto tempo da minha vida estava jogando fora por semana, por mês, por ano?

  Torturei-me durante algumas semanas com essa ideia. Pensei até em mudar de profissão. Jogar fora nas estradas meu precioso tempo pareceu-me de uma irresponsabilidade sem perdão.

  Dias depois me lembrei de um poema de Mario Quintana, lido há muitos anos e nunca mais encontrado. Era sobre a passagem do trem por uma estaçãozinha. Havia os que chegavam e havia os que partiam. Além deles havia os que não chegavam nem partiam, apenas ficavam olhando as pessoas nas janelas do trem e sonhando com o mundo além, o mundo possível se houvesse a coragem de partir. E ele arrematava com uns poucos versos em que dizia não importar a estação de partida nem a de chegada. O que vale mesmo, dizia o mago do Caderno H, é a viagem.

 O poema de Mario Quintana devolveu-me a paz. Sem me sentir culpado por estar jogando fora a vida pela janela do carro, voltei a usar o tempo das travessias, em que o corpo estava preso e condicionado a uns poucos movimentos mecânicos, para soltar a imaginação. Assim foi que, no azul do céu, quase sempre muito azul, debaixo do qual costumava viajar, começaram a surgir revoadas de palavras que aos poucos e aos bandos se combinavam, pintavam cores e formas, botavam algumas ideias respirando e de pé.


(Menalton Braff. www.cartacapital.com.br/sociedade/ em-busca-do-tempo-perdido-8754.html, 03.05.2014. Adaptado)

A partir da leitura do último parágrafo, conclui-se, corretamente, que o autor passou a usar o tempo em que dirigia para

Alternativas
Comentários
  • letra B

     

  • Gabarito: B

     

    "...em que o corpo estava preso e condicionado a uns poucos movimentos mecânicos, para soltar a imaginação. Assim foi que, no azul do céu, quase sempre muito azul, debaixo do qual costumava viajar, começaram a surgir revoadas de palavras que aos poucos e aos bandos se combinavam, pintavam cores e formas, botavam algumas ideias respirando e de pé."

  • não fala nada de textos verbais. questão bosta

  • No momento em que cita revoadas de palavras que aos bandos se combinavam (...) botavam algumas ideias respirando e de pé, fica claro que as palavras formavam ideias e ganhavam vida (de pé e respirando), o que dá a certeza nesse trecho é que ele viajava na maionese dentro do carro com algumas palavras que tinha em mente e que formavam ideias, pensamentos, e que em outras palavras é "projetar textos verbais a partir do exercício da imaginação", gabarito B.

    A letra B traduz "viajar na maionese" para uma linguagem formal. Quem nunca projetou textos verbais?

  • Se a pessoa não se coloca na posição de quem escreveu, talvez tenha dificuldade de responder. E se não consegue projetar textos verbais enquanto dirige, talvez não seja um problema de interpretação de texto, mas de como ocupa esse tempo. Excelente texto, daqueles cuja leitura é prazerosa. 

  • José Silva,  

     

    "Assim foi que, no azul do céu, quase sempre muito azul, debaixo do qual costumava viajar, começaram a surgir revoadas de palavras que aos poucos e aos bandos se combinavam, pintavam cores e formas, botavam algumas ideias respirando e de pé.

  • "começaram a surgir revoadas de palavras que aos poucos e aos bandos se combinavam"
    É bem diferente de:
    "projetar textos verbais a partir do exercício da imaginação."

    Projetar um texto vc tem que ter uma linha de raciocínio lógico, interconexão. E não ficar viajando na maionese.

    Mas... é fácil justificar um gabarito. 

  • Mais uma questão bizarra da nobre banca... se bem, que essa, dava pra matar por exclusão..... 

  • Não entendi a parte dos "verbais".