SóProvas


ID
207952
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A mulher pobre que chega ao caixa de um banco e não
consegue fazer entender sua situação - ela deve pagar uma
fatura de cartão de crédito que lhe foi enviado sem que pedisse,
e que jamais utilizou - é um exemplo corriqueiro do poder das
palavras e da fragilidade de quem não as domina. A mulher
acabará sendo despachada, sem resolver seu problema, pela
impaciência do bancário e de todos os que estão na fila. Duas
carências na mesma pessoa: a de recursos econômicos e a de
linguagem. Nem o conforto de um status prestigiado, nem a
desenvoltura argumentativa de um discurso.
Graciliano Ramos, no romance Vidas secas, tratou a
fundo dessa questão: suas personagens, desamparados retirantes
nordestinos, lutam contra as privações básicas: a de água, a
de comida... e a de linguagem. O narrador desse romance é um
escritor ultraconsciente de seu ofício: sabe que muito da nossa
identidade profunda e da nossa identificação social guarda uma
relação direta com o domínio que temos ou deixamos de ter das
palavras. Não há, para Graciliano, neutralidade em qualquer
discurso: um falante carrega consigo o prestígio ou a humilhação
do que é ou não é capaz de articular.
Nas escolas, o ensino da língua não pode deixar de
considerar essa intersecção entre linguagem e poder. O professor,
bem armado com sua refinada metalinguagem, pode,
evidentemente, reconhecer que há uma específica suficiência
na comunicação que os alunos já trazem consigo; mas terá ele
o direito de não prepará-los para um máximo de competência,
que inclui não apenas uma plena exploração funcional da
língua, mas também o acesso à sua mais alta representação,
que está na literatura?
(Juvenal Mesquita, inédito)

Atente para as seguintes afirmações:

I. No 1º parágrafo, insinua-se que o conforto de um status prestigiado e a desenvoltura argumentativa de um discurso não costumam ocorrer concomitantemente.

II. No 2º parágrafo, afirma-se que, para Graciliano Ramos, não existe neutralidade em qualquer discurso porque o poder das palavras não guarda necessária relação com outras esferas do poder.

III. No 3º parágrafo, admite-se que deixar um aluno estacionado no patamar de um uso linguístico que já é o seu constitui um modo de privá-lo tanto do poder objetivo como do caráter artístico da linguagem.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • I - ERRADO

    "Duas carências na mesma pessoa: a de recursos econômicos e a de linguagem. Nem o conforto de um status prestigiado, nem a desenvoltura argumentativa de um discurso." (Linha 7 - 10)
     

    II - ERRADO

    "O narrador desse romance é um escritor ultraconsciente de seu ofício: sabe que muito da nossa identidade profunda e da nossa identificação social guarda uma relação direta com o domínio que temos ou deixamos de ter das palavras. Não há, para Graciliano, neutralidade em qualquer
    discurso: um falante carrega consigo o prestígio ou a humilhação do que é ou não é capaz de articular." (Linha 14 - 20)
     

    III - CORRETO

    "O professor, bem armado com sua refinada metalinguagem, pode, evidentemente, reconhecer que há uma específica suficiência na comunicação que os alunos já trazem consigo; mas terá ele o direito de não prepará-los para um máximo de competência, que inclui não apenas uma plena exploração funcional da língua, mas também o acesso à sua mais alta representação, que está na literatura?" (Linha 22 - 29)