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ID
2088499
Banca
Aeronáutica
Órgão
CIAAR
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto II

                                       No aeroporto

      Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.

      Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. [...]

      Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. [...]

      Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 1107-1108.)  

O texto “No aeroporto” faz uma abordagem da realidade; não sendo, contudo, apenas uma reprodução da mesma. O autor apresenta

Alternativas
Comentários
  • A alternativa B "seu ponto de vista acerca da realidade tematizada." é considerada correta, pois, "o ponto de vista é de suma importância numa descrição, quer literária quer técnica. Não consiste apenas na posição física do observador, mas também na sua atitude, na sua predisposição afetiva em face do objeto a ser descrito." O ponto de vista do autor é explicitado pelo texto em primeira pessoa e por colocações como "vã e numerosa matéria atual", "extremamente parco de palavras", "não se digne de pronunciar nenhuma", "se faz entender admiravelmente", entre outras. O ponto de vista mental ou psicológico tem grande importância para a eficácia de uma descrição. É o elemento subjetivo, aquele que determina a impressão pessoal. A predisposição psicológica do observador - no caso em análise nos referimos ao narrador-personagem - propicia como resultado imagens do objeto descrito (no texto, o personagem descrito). Desse ponto de vista mental, decorre o estado de espírito do observador, suas idiossincrasias, suas preferências. Os aspectos mencionados acerca do personagem descrito (um amigo de um ano de idade) traduz o estado psíquico do observador, no qual se gravaram as impressões esparsas e tumultuadas captadas pelos sentidos, alheios ao crivo da razão ou da lógica.

    Já a alternativa A "os fatos demonstrando um aspecto poético." mostra-se inadequada ao enunciado da questão, devido ao fato de que por "aspecto poético" entende-se que tal texto deverá apresentar elementos poéticos, descritos pela função poética da linguagem, a saber: centrada na própria mensagem, valoriza a informação pela forma como é veiculada. O ritmo, a sonoridade e a estrutura da mensagem têm importância igual à do conteúdo das informações. É a função do estético.


    Fontes:

    GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever aprendendo a pensar. 27 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2010.

    SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática completa: teoria e prática. 31 ed. São Paulo: Nova Geração, 2011. 

  • Letra A

    A crônica apresentada pelo escritor com um destaque para elementos poéticos, dramáticos. Diante da descrição subjetiva dos atos de Pedro e até mesmo de sua aparência o narrador vai revelando, em tom poético, seu estreitamento efetivo com o personagem.