SóProvas


ID
2098156
Banca
FUMARC
Órgão
Câmara de Lagoa da Prata - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Viver para postar

                                        Gregório Duduvier

    Amo fazer aniversário. Quando era pequeno (continuo pequeno, eu sei, mas nessa época era bem pequeno), lembro da frase mágica: "Hoje você pode fazer o que você quiser" – e o que eu queria era muita coisa. Queria o Tívoli Park, o chico cheese, o Parque da Mônica, tudo ao mesmo tempo. Sempre acabava optando pelo Tívoli Park – Pasárgada da minha infância, onde era feliz – e sabia.

    Hoje já não tem Tívoli Park – minha Pasárgada fechou depois de diversos casos de assalto dentro do trem-fantasma – mas a memória dessa liberdade plena e irrestrita volta sempre que faço aniversário. Por isso, não reclamem se esta coluna flertar com a autoajuda. Hoje esse é o meu Tívoli Park.

    Ser feliz é a melhor maneira de parecer um idiota completo. Para muita gente, a felicidade dos outros é um acinte. E não estou falando dos invejosos. Não consigo acreditar que existam invejosos de mim, para mim essa paranoia com a inveja alheia é delírio narcísico.

    Estou falando dos cronicamente insatisfeitos – esses sim existem, e são muitos. Experimenta dizer que está feliz. O olhar vai ser fulminante, assim como a resposta mental: "Como é que esse imbecil pode ser feliz num país desses, num calor desses, com um dólar desses?".

    Aprendi que reclamar do calor ou do dólar não reduz a temperatura nem o dólar. Aprendi que a lei de Murphy só existe pra quem acredita nela. E aprendi que reparar na felicidade te ajuda a reconhecê-la quando esbarrar com ela de novo – e acho que isso foi o mais importante.

    "A gente só reconhece a felicidade pelo barulhinho que ela faz quando vai embora", dizia o Jacques Prévert. Dificílimo reconhecer a felicidade quando ela ainda está no recinto. Caso reconheça, é fundamental fotografar, escrever, desenhar, filmar. Para isso servem nossos smartphones: para estocar os mais diversos tipos de felicidade em pixels, áudios e blocos de nota. Às vezes a necessidade de registro pode parecer uma fuga do presente, mas, pelo contrário, é a documentação da felicidade que estica o presente para a vida toda.

    Sempre que se depara com os melhores momentos da vida – e no caso dele isso acontece quase todo dia – meu padrasto exclama, com voz de barítono: "Felicidade é isso aqui". Aproveito para dizer: hoje faço 29 anos e estou irremediavelmente feliz. Desculpem todos. Vai passar. Mas enquanto isso, aproveito para exclamar, antes que passe: "Felicidade é isso aqui”.

Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2015/04/1615741-viver-parapostar.shtml Acesso em:7 set. 2016.

Vocabulário:

Tivoli Park foi um parque de diversões localizado no bairro da Lagoa, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Funcionou de 1973 a 1995.

Todas as seguintes técnicas, com as finalidades indicadas, são usadas pelo autor na estruturação de seu texto, EXCETO:

Alternativas
Comentários
  • (C)

    Lendo o texto não é possível encontrar uma enumeração, para hierarquizar os caminhos para se obter a felicidade.

  • GABARITO C

     

    O autor utiliza sim a técnica da Enumeração, mas não para hierarquizar os caminhos para se obter a felicidade. Na verdade, o texto não trata em nenhum momento dos caminhos para se obter a felicidade. A técnica da Enumeração é usada para expor as partes de um todo, podendo ser ou não ordenados segundo uma ordem de importância. O autor utiliza essa técnica ao apresentar as ações que devem ser realziadas ao se reconhecer a felicidade; e também a utiliza ao expor os formatos em que a felicidade é "estocada" nos smartphones.

  • A enumeração é um recurso retórico que consiste na «adição ou inventário de coisas relacionadas entre si, cuja ligação se faz quer por polissíndeto1 quer por assíndeto2» (Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia). 

    É frequente a presença da enumeração nas descrições e nas narrações em que o narrador se preocupa em apresentar todas as particularidades de uma determinada situação, apresentando uma série de caraterísticas dos locais e do ambiente, listando as qualidades e os defeitos das personagens, referindo o processo pormenorizado das ações. Através deste recurso, o sujeito procura representar fidedignamente o pormenor da realidade sobre a qual falam/escrevem. «Entre os vários processos, podemos lembrar: o desenvolvimento da definição, o emprego de exemplos, o uso de comparações, contrastes, etc.» (Sebastião Cherubim, Dicionário de Figuras de Linguagem, 1973).

    São exemplos de enumerações:

    «A vida é o dia de hoje, / A vida é um ai que mal soa,/ A vida é sombra que foge, / A vida é nuvem que voa, / A vida é sonho ao leve, /que se desfaz como neve/ E como fumo se esvai» (João de Deus, A Vida).

    «Lavava roupas da Baixa, vestia, usava, lavava outra vez, levava» (Luandino Vieira, João Vêncio, 103).

    «O quinhão que me coube é humilde, pior do que isto: nulo. Nem glória, nem amores, nem santidade, nem heroísmo» (Otto Lara Resende, O Braço Direito, 10).

    Nota: Alguns retóricos propõem que à enumeração exaustiva se chame inventário.

    1 Polissíndeto é uma figura de sintaxe que se carateriza pelo «emprego reiterado de conjunções coordenativas, especialmente das copulativas ou aditivas» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 623). Assim, sempre que nos deparamos com construções em que se verifique a presença sistemática da conjunção e a ligar orações ou simplesmente outras estruturas. Exemplos: 

    «Ocupados com quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come» (Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, 92).

    «Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!» (Florbela Espanca, Sonetos, 59).

    2 O assíndeto, como figura de sintaxe, é um processo de encadeamento do enunciado que consiste na sucessão de palavras ou de orações de uma frase, marcada pela vírgula e sem a ocorrência de conjunção coordenativa. Exemplos: 

    «A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos» (Machado de Assis, Obra Completa, I, 1067).

    «Fulgem as velhas almas namoradas.../ Almas tristes, severas, resignadas,/ De guerreiros, de santos, de poetas» (Camilo Pessanha, Clepsidra, 48).

    fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-figura-de-retorica-enumeracao/31352

  • A enumeração existe no texto a justificativa dela é que está errada

  • Eu sou um asno mesmo, pois não consegui achar esse contraste de maneira alguma. Interpretação de texto é dose, prefiro gramática.

    Enumeração eu consegui encontrar. 

    Da vontade de largar tudo e ir embora, aí eu lembro que não tenho nada e permaneço aqui estudando.

  • Analisemos letra a letra.

    Letra A - CERTA - De fato! O autor afirma que o feliz é comparado a um bobo completo.

    Letra B - CERTA - De fato! O autor apresenta em campos opostos os felizes e os constantemente infelizes.

    Letra C - ERRADA - O texto não traz um receituário de como ser feliz. Apenas defende o posicionamento de que é necessário registrar e compartilhar os momentos de felicidade.

    Letra D - CERTA - O autor relata experiências próprias e de seus familiares - o pai, especificamente - de como registrar e compartilhar os momentos felizes.

  • Pessoal, vocês sabem se existe algum filtro ou alguma outra forma para remover essas questões repetidas?