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ID
2100469
Banca
IBFC
Órgão
MGS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Segundo Carneiro (1996) um processo terapêutico familiar, pode estar fundamentado em duas perspectivas teóricas: no Enfoque Sistêmico ou no Enfoque Psicanalítico. Sendo que ambas perspectivas não são excludentes, mas complementares. Na perspectiva sistêmica há uma preocupação com o comportamento e a busca de modificá-lo, enquanto que na perspectiva psicanalítica há uma preocupação em expressar os desejos inconscientes que estão na origem da disfunção familiar. Entretanto no enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar contribuem cada qual a seu modo, ao processo terapêutico. Considere as características adequadas de cada escola sistêmica:

I. Na Escola Estrutural a família se define em função dos limites hierárquicos nela existente. O terapeuta auxilia na transformação do sistema familiar desempenhando um papel de líder, identificando e avaliando a estrutura familiar e criando circunstâncias que permitam a transformação desta estrutura (delimita fronteiras, distribui tarefas, etc).

II. Na Escola Estratégica o que caracteriza o sistema familiar é a luta pelo poder, onde não se desenvolve uma superênfase ou subênfase nas dificuldades de viver em família. A resolução dos problemas ocorre em buscar os porquês e não as interações, objetivando a mudança do comportamento do paciente.

III. Na Escola de Milão se considera o problema que emerge nos mapas familiares, ou seja, a resistência a mudanças de padrões de comportamentos rotineiros. Um principio terapêutico fundamental para esta escola é considerar negativo a instalação de um ritual familiar, ou seja, estipular ações que todos os membros da família devem participar em busca de transformar comportamentos.

IV. Na Escola Construtivista o sistema familiar é considerado complexo, indeterminado e instável, sendo que uma crise gera um novo sentido neste sistema. O terapeuta nesta perspectiva interessa-se muito mais pelo processo de construção da realidade familiar e nos significados gerados no sistema, do que no comportamento a ser modificado.

Indique a afirmativa correta:

Alternativas
Comentários
  • Escola Estrutural

    Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um sistema que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas.

    As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa de cada subsistema e como participa. Para que o funcionamento familiar seja adequado, estas fronteiras devem ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as famílias são aglutinadas; fronteiras rígidas caracterizam famílias desligadas. Famílias saudáveis emocionalmente possuem fronteiras claras.

    A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente acessível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém os dados. A medida em que a terapia evolui, o terapeuta coloca questões, identifica os padrões transacionais e as fronteiras, levanta hipóteses sobre os padrões disfuncionais e obtém assim um mapa familiar.

    O terapeuta deve ajudar a transformação do sistema familiar, e para isto ele se une à família desempenhando o papel de líder, identifica e avalia a estrutura familiar, e cria circunstâncias que permitam a transformação da estrutura. As mudanças terapêuticas são alcançadas através das operações reestruturadoras, tais como: a delimitação de fronteiras, a distribuição de tarefas, o escalonamento do stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é uma terapia de ação, e o sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma determinada estrutura.

  • Escola Estratégica

    Jay Haley é um dos principais teóricos da Escola Estratégica juntamente com Jackson, Bateson, Weakland e Watzlawick.

    Para Haley (1976) o que caracteriza o sistema familiar é a luta pelo poder. Ele utiliza o termo estratégico para descrever qualquer terapia em que o terapeuta realiza ativamente intervenções para resolver problemas.

    A visão estratégica define o sintoma como expressão metafórica ou analógica de um problema representando, ao mesmo tempo, uma forma de solução insatisfatória para os membros do sistema em questão.

    Nesta abordagem há uma orientação franca para o sintoma e os problemas são vistos como dificuldades interacionais que se desenvolvem através da superênfase ou da subênfase nas dificuldades de viver. A resolução dos problemas requer a substituição dos padrões interacionais. A abordagem terapêutica é pragmática: trabalham-se as interações e evitam-se os porquês.

    O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos que, aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que visam a mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais freqüentemente utilizada sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando-se aparentemente o comportamento sintomático. Para Watzlawick et al (1967) o uso do paradoxo leva à substituição do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêutico.

  • Escola de Milão

    A principal representante deste grupo é Mara Selvini Palazzoli que, juntamente com Boscolo, Ceccin e Prata, fundou em 1967 o Centro para o Estudo da Família. Partindo dos mesmos pressupostos teóricos da Escola Estratégica, Palazzoli et al (1980) consideram que os problemas que emergem quando os mapas familiares não são mais adequados, ou seja, os padrões de comportamento desenvolvidos não são mais úteis nas situações atuais. Dada a tendência à homeóstase, os problemas surgem quando as regras que governam o sistema são tão rígidas que possibilitam padrões de interação repetitivos, homeostáticos e vistos como "pontos nodais" do sistema.

    Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação positiva dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam como positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência homeostática do sistema e não os comportamentos.

    Outro tipo de intervenção utilizada pelo grupo de Milão é o ritual familiar, ou seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros da família são levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário verbal sobre as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras substituem tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta deve ser bastante observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma determinada família.

  • Escola Construtivista

    No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de segunda ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A partir da concepção de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-se que a evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e assim sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como hipercomplexos e indeterminados, instabilidade e a crise ganham um novo sentido no sistema familiar. A crise não é mais um risco, mas parte do processo de mudanças, assim como o sintoma.

    Assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a considerar a autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organizados, da cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados por Humberto Maturana (1990).

    Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas no processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no sistema. A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para aquilo que o sistema permite a ele selecionar e compreender.

    Alguns terapeutas estratégicos podem ser citados como tendo incluído posteriormente na sua prática o modo de pensar construtivista; entre eles, os do grupo de Milão. Palazzoli et al (1980) estabelecem três princípios indispensáveis ao trabalho terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade. A hipótese formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da primeira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir todos os membros da família e fornecer uma conjetura que explique a função da relação. A circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a sessão baseando-se nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação que solicitou em termos relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do terapeuta que se alia a cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de coalizão ou sedução de qualquer componente do grupo familiar.

    O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de segunda ordem, questiona portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as intervenções terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na construção da interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções onde surgem os problemas.