O pungente amor
“A descoberta da poesia de Carlos Drummond de Andrade, em 1949, atingiu-me de maneira contraditória:
chocou-me e obrigou-me a mudar de rumo.
Para que se entenda melhor o que ocorreu, devo esclarecer que a poesia que fazia até ali nascera da leitura dos
parnasianos, com os quais aprendera a compor sonetos rigorosamente rimados e metrificados. Ignorava a poesia
moderna. Foi a leitura de Poesia até agora, de Drummond, que provocou o choque. Havia no livro um poema que falava
em „lua diurética‟. Fiquei perplexo: aquilo não podia ser poesia, disse-me, pois para mim era, por exemplo: „Ora direis,
ouvir estrelas, certo,/ perdeste o senso...‟ ou „Hão de chorar por ela os cinamomos...‟ Lua diurética não tinha nada a
ver...
Mas não conseguia largar o livro de Drummond. Lia e relia alguns dos poemas que mais me perturbavam. E
terminei tomando uma decisão: ler os críticos modernos para entender o que era de fato aquela poesia antipoética. [...]
A verdade é que, agora, quando releio alguns poemas de Drummond daquela época, me reconheço neles,
percebo que sua fala está entranhada na minha, que aprendi com ele „o pungente amor‟ da vida.”
(Texto de Ferreira Gullar. Revista Cult, n. 26. 1999)
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