Medo da velhice
À medida que fico maduro, tomo consciência de que a cidade
é feita para quem está no auge da saúde, com força total. São
frequentes as reportagens sobre os ônibus e peruas que não param
para idosos. Muitos motoristas fogem diante dos cabelos brancos.
Se entro numa loja e vejo uma senhora idosa examinando um artigo
em promoção, geralmente a vendedora está com ar impaciente.
Prefere atender gente com vontade de comprar mais depressa.
Nas famílias, as pessoas estão o tempo todo ocupadas. São
poucas as que têm disposição para passar uma tarde ou uma noite
conversando, preparando um jantarzinho melhor, trocando afeto.
O idoso é obrigado a entender que a vida do neto corre depressa,
e que ele não tem paciência com o ritmo mais lento do avô, para
as recordações e modo de ver o mundo.
Penso que nossos ancestrais sabiam lidar melhor com a velhice.
Viviam em cidades menores, os vizinhos se conheciam, e um
ajudava o outro. Na cidade grande, é sempre uma correria onde
frequentemente se esquecem os valores humanos. É duro olhar
para esse mundo e se perguntar:
– O que será de mim, quando for velho?
Talvez, se todos se fizessem a mesma pergunta, tudo poderia
melhorar a partir de agora.
(Walcyr Carrasco. Pequenos delitos e outras crônicas. Adaptado)
De acordo com o texto, à medida que amadurece, o autor
descobre que a cidade privilegia