SóProvas


ID
2147860
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
Prefeitura de São Lourenço - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

INSTRUÇÃO: Leia o texto I, a seguir, para responder à questão.
TEXTO I

O gato sou eu

– Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.
– Continuou dormindo.
– Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.
– Que espécie de gato?
– Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.
– A que você associa essa imagem?
– Não era uma imagem: era um gato.
– Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?
– Associo a um gato.
– Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser esse alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.
– Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.
– Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.
– Uma projeção do senhor?
– Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.
– Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.
– Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.
– Em quem o senhor está falando?
– Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.
– Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.
– Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.
– Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?
– Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.
– Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?
– Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.
– E eu insisto em dizer: não é.
– Sou.
– Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.
– Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…
– Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?
– É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.
– Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.
– Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.
– Já disse que o gato sou eu!
– Sou eu!
– Ponha-se para fora do meu gato!
– Ponha-se para fora daqui!
– Sou eu!
– Eu!
– Eu! Eu!
– Eu! Eu! Eu!
SABINO, Fernando. O gato sou eu. Disponível em: <http://zip. net/bnsb7J>. Acesso em: 8 out. 2015 (Adaptação).

Estão presentes no texto os seguintes elementos, EXCETO:

Alternativas
Comentários
  • O suspense se manisfeta na presença de um gato misterioso, por isso, a alternativa C está errada.

  • Não vi suspense no texto mas vi ambiguidade, neste trecho:

    – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?

    – Associo a um gato.

     

    O terapeuta estava associando a uma coisa e o paciente a outra.

     

    Significado de ambiguidade:

    Ambiguidade é a qualidade ou estado do que é ambíguo, ou seja, aquilo que pode ter mais do que um sentido ou significado.

    A ambiguidade pode apresentar a sensação de indecisão, hesitação, imprecisão, incerteza e indeterminação.

    fonte: https://www.significados.com.br/ambiguidade/

  • como assim não há ambiguidade? e essa frase aqui:

     Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.

    – Uma projeção do senhor?

    Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

     

    se isso nao é ambiguidade.....eu nao sei mais o que é!

    a frase dita pelo doutor sobre o eu foi tao ambígua que o paciente achou que o "eu" fosse o doutor, quando o "eu" na vdd é a identidade de cada ser humano

  • Humor = Ponha-se pra fora do meu gato.

    Suspense = - Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando. - Que espécie de gato?

    Ambiguidade = Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo (...) uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

    Contestação = E eu insisto em dizer: não é.

    Dica: fecha os olhos e marca a questão. Qualquer letra que marcar vai estar errada.

  • Para de fumar examinador...:(

  • - Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você. (entendi como ambiguidade).

    ???

     

     

     

  • tem que viajar demais nessas questões de interpretação... aff

  • Comecei a resolver as provas dessa banca. Ao corrigir com o gabarito apresentei muitas falhas que não conseguia entender. Me rendi a buscar outra forma de resolver questões pra tentar compensar os erros. Sigo sem entender e orando muito.

  • A ambiguidade é um recurso que é utilizado, na maioria das vezes, sem que haja uma intenção. Trata-se de uma indeterminação de sentido que palavras e expressões carregam, dificultando a compreensão do enunciado e, por isso, seu uso deve ser evitado.

    Logo, o recurso linguístico observado em algumas partes do texto trata-se do "duplo-sentido", em que o autor propositalmente emprega mais de um sentido a um mesmo termo, ou expressão, não configurando um erro gramatical. Sendo assim, o gabarito é letra C.