TEXTO - Mentira e verdade – Carlos Heitor Cony
Alguns estudiosos afirmam que a mercadoria mais importante
do mundo moderno é a informação. Pensando bem, foi sempre
mais ou menos assim. Quem detinha a informação era poderoso —
daí que a mídia foi elevada a quarto poder, tese contra a qual sempre
me manifestei, achando que a mídia é uma força, mas não o
poder.
Com a chegada da internet, suas imensas e inesperadas oportunidades,
o monopólio da informação pulverizou-se. Os jornais,
creio eu, foram os primeiros a sentir o golpe, os livros logo em
seguida, havendo até a previsão de que ele acabará na medida em
que se limitar ao seu atual desenho gráfico, que vem de Gutenberg.
Acontece que, mais cedo ou mais tarde, a mídia impressa
ficará dependente não dos seus quadros profissionais, de sua estrutura
de captação das informações. Qualquer pessoa, a qualquer
hora do dia ou da noite, acessando blogs e sites individualizados,
ficará por dentro do que acontece ou acontecerá.
Na atual crise que o país atravessa, a imprensa em muitas
ocasiões foi caudatária do que os blogs informavam duas, três vezes
ao dia. Em termos de amplidão, eles sempre ganharão de goleada
da imprensa escrita e falada.
O gigantismo da internet tem, porém, pés de barro. Se ganha
no alcance, perde no poder de concentração e análise. Qualquer
pessoa, medianamente informada ou sem informação alguma, pode
manter uma fonte de notícias ou comentários com responsabilidade
zero, credibilidade zero, coerência zero.
O mercado da informação, que formaria o poder no mundo
moderno, em breve estará tão poluído, que dificilmente saberemos
o que ainda não sabemos: o que é mentira e o que é verdade.
A afirmação de alguns estudiosos de que a informação é a mercadoria mais importante do mundo moderno apresenta, na crônica acima, a seguinte função textual: