- ID
- 2214697
- Banca
- SEGPLAN-GO
- Órgão
- SEGPLAN-GO
- Ano
- 2016
- Provas
-
- SEGPLAN-GO - 2016 - SEGPLAN-GO - Demais Cargos Superiores ( Administração, Direito, Economia, contabilidade e Relações Internacionais)
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- SEGPLAN-GO - 2016 - SEGPLAN-GO - Engenharia Elétrica
- Disciplina
- Português
- Assuntos
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QUANDO A COMIDA SAI DO LIXO
A culinária do lixo
Cerca de três mil pessoas do Distrito Federal alimentam-se do que é jogado fora nos contêineres dos supermercados e nas lixeiras das casas. Quem revira os restos sente vergonha da atividade e se diz cansado de pedir comida.
Faltam 15 minutos para as quatro da tarde e só agora será servido o almoço na casa da pernambucana Maria Zélia da Silva, 44 anos. Faz silêncio no local. O único barulho que se ouve é o choro de Luciano Alves, 7 anos. Caçula de seis irmãos, a criança chora porque não aguenta mais esperar pela refeição.
As panelas acabaram de sair do fogão e a comida está quente. Na mesa, há carne cozida, feijão e arroz. Salada de repolho, cenoura e couve-flor, além de frutas, como manga, mamão e banana. Como sobremesa será servido iogurte de morango. O cardápio seria saudável, se não fosse um porém: os ingredientes servidos na casa de Zélia não foram comprados na feira nem no supermercado. Saíram todos de três contêineres de lixo, do Guará e do Cruzeiro.
No Distrito Federal, pelo menos três mil pessoas comem alimentos de lixo. O levantamento é do engenheiro florestal Benício de Melo Filho. Ele defendeu uma tese de mestrado na Universidade de Brasília (UnB), no ano passado, sobre o valor econômico e social daquilo que se joga fora. Benício não direcionou seu trabalho para a questão dos alimentos, mas ressalta que as pessoas que vivem do lixo se alimentam na mesma fonte. “Os catadores levam todo tipo de comida para casa. Carne, queijo, refrigerante, frutas e legumes. Nada é desperdiçado”, descreve em seu trabalho.
Maria Zélia veio do município de Petrolândia (PE) para o DF no ano passado com toda a família. Buscava emprego. Não conseguiu vaga nem de diarista em casa de família e optou por sair pelas ruas remexendo lixo. “A gente cata papelão para vender. Mas não tem como sobreviver disso. Para meus filhos não passarem fome, comecei a pegar alimentos do lixo”, conta. De cabeça baixa, Zélia assume que sente vergonha de revirar o lixo em busca de comida. “Na minha terra, pobre não faz isso. Já pensou se meus parentes lá de Pernambuco ficam sabendo que eu vim para Brasília comer lixo?”
Fonte: CAMPBELL, Ulisses. Correio Web, Correio
Braziliense, 24 fev. 2002 / http://www.coreioweb.com br
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