TEXTO I
ENTREVISTA
Revista VEJA, 11/12/2013
VEJA – Por que criar uma lei para excluir da política
governantes que retrocedem na educação? Eles já
não são punidos pelo voto?
ENTREVISTADO – Historicamente, educação
pública não tira nem dá voto no Brasil. Isso porque
a grande maioria acha que, desde que não faltem
uniforme, material e merenda, está tudo muito
bem. Uma pesquisa do MEC chama atenção para
essa visão limitada sobre o que se passa de verdade
nas escolas brasileiras. Os pais dão nota 8,5 para o
ensino oferecido aos filhos. Isso mesmo: segundo
eles, estamos entre os melhores. Infelizmente,
o eldorado não resiste a uma consulta ao ranking
mundial. O último saiu na semana passada, e mostra
o Brasil em queda: era o 53% da lista; agora está
em 57º. entre 65 países. Mas o brasileiro continua
sendo generoso ao avaliar a educação – e, se está
tão satisfeito, não vai fazer pressão por mudanças.
Por isso, precisamos de um estímulo de fora,
institucional, para garantir pelo menos o mínimo:
que não voltemos atrás.
VEJA – Nenhum país do mundo implantou sistema
parecido com o que o senhor propõe. Por que daria
certo aqui?
ENTREVISTADO – As sociedades do mundo mais
desenvolvido encontram na própria cultura um
ambiente de intolerância com a má prestação
de serviços públicos. A Ásia, por exemplo, tem a
tradição milenar da responsabilização e da cobrança
de resultados; isso está enraizado em seu DNA,
não é necessário uma lei para criar a pressão. A
mesma coisa ocorre em países do Norte europeu,
como Noruega e Finlândia. No Brasil é diferente.
Precisamos de uma solução própria para esse
cenário de dormência em relação à nossa tragédia
educacional. Agora, não seremos os primeiros a
punir autoridades incapazes de zelar pela qualidade
na sala de aula. Na Inglaterra e nos Estados
Unidos, um resultado catastrófico pode levar até
ao fechamento de uma escola. Estou sugerindo
um caminho original, é verdade, mas foi o que me
pareceu mais factível.
A segunda pergunta do entrevistador tem argumentação apoiada: