Gabarito: C
" O espetáculo deve ser entendido, portanto, como suplementação de alienação. Ou seja, não mais apenas em relação ao fato de que o produtor não possui o que produziu, quer dizer, ao fato de que ele produz uma potência que lhe é estranha (DEBORD, 1997), que tem poder sobre ele próprio objetivamente, embora, na verdade, seja um poder que se origina do próprio sujeito. Além dessa projeção primeira, há uma segunda projeção que atinge o nível da própria subjetividade que busca na mercadoria individualidade e diferenciação (ou singularização). Assim, as mercadorias passam a ser portadoras de imagens de atributos que sem elas, supostamente, o sujeito não poderia ter em si mesmo, sobretudo sentimentos de potência face aos outros não dotados dos mesmos “poderes” emanados do objeto fetiche. Essas características passam a não mais se construírem nas relações com o outro, mas nas relações com o objeto-fetiche mercadoria e nas imagens idealizadas que se constituem em torno de tal objeto, sobretudo via publicidade. De qualquer modo, os sujeitos já não reconhecem a própria teia social como obra sua. E é essa a essência do espetáculo: o fato de sermos espectadores da mercadoria que objetivamente organiza a sociedade inteira. O que Debord denuncia não é o fato de que existem imagens, ou o fato de que existem técnicas de reprodução. O problema central é o fato de que essas imagens se tornam o sensível por excelência, e o espetáculo se erige não como um conjunto de imagens, “mas [como] uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (DEBORD, 1997: 14).
Fonte: A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO: UMA AUTOTRADUÇÃO COMO CRÍTICA Juliana Zanetti de PAIVA e Robson José Feitosa de OLIVEIRA