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ID
2274091
Banca
IDECAN
Órgão
UERN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Se eu fosse pintor...

      Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos jasmins e grandes campânulas roxas, por onde flutua uma borboleta cor de marfim, com um pouco de ouro nas pontas das asas.

      Mas logo depois, entre o primeiro plano e a casa fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros azuis tão rápidos e certeiros que seria impossível deixar de fixá-los, para dar alegria aos olhos dos que jamais ou viram ou verão.

      Mas o quintal da casa abandonada ostenta uma delicada mangueira, ainda como moles folhas de cor de bronze sobre a cerrada fronde sombria, uma delicada mangueira repleta de pequenos frutos, de um verde tenro, que se destacam do verde-escuro como se estivessem ali apenas para tornar a árvore um ornamento vivo, entre os muros brancos, os pisos vermelhos, o jogo das escadas e dos telhados em redor.

      E que faria eu, pintor, dos inúmeros pardais que pousam nesses muros e nesses telhados, e aí conversam, namoram-se, amam-se, e dizem adeus, cada um com seu destino, entre a floresta e os jardins, o vento e a névoa?

      Mas por detrás estão as velhas casas, pequenas e tortas, pintadas de cores vivas, como desenhos infantis, com seus varais carregados de toalhas de mesa, saias floridas, panos vermelhos e amarelos, combinados harmoniosamente pela lavadeira que ali os colocou. Se eu fosse pintor, como poderia perder esse arranjo, tão simples e natural, e ao mesmo tempo de tão admirável efeito? [...]

      Sinto, porém, que tudo isso por onde vão meus olhos, ao subirem do vale à montanha, possui uma riqueza invisível, que a distância abafa e desfaz: por detrás dessas paredes, desses muros, dentro dessas casas pobres e desses castelinhos de brinquedo, há criaturas que falam, discutem, entendem-se e não se entendem, amam, odeiam, desejam, acordam todos os dias com mil perguntas e não sei se chegam à noite com alguma resposta.

      Se eu fosse pintor, gostaria de pintar esse último plano, esse último recesso da paisagem. Mas houve jamais algum pintor que pudesse fixar esse móvel oceano, inquieto, incerto, constantemente variável que é o pensamento humano?

(MEIRELES, Cecília. Ilusões do mundo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. Adaptado.)

Tendo em vista a estrutura textual apresentada, pode-se afirmar acerca de elementos como: variedade de cores e tons, as conversas dos pássaros, as “folhas ainda moles” das mangueiras (...) que

Alternativas
Comentários
  • A predominância de elementos metafóricos para ilustrar a visão da autora permite o trabalho dos sentidos do leitor, onde a alternativa b preenche mais adequadamente o enunciado

  • No texto, há a presença da figura de linguagem sinestesia caracterizada pela presença de impressões sensoriais, sensações e sentimentos sendo a letra B a correta.


    Cuidado:

    metáfora = termos abstratos no lugar de termos concretos por assimilação mental


    Sinestesia = combinações de impressões sensoriais,sensações e sentimentos

  • fiquei em dúvida entre B e D e ñ sei pq D tá errada.

  • Acredito que a maior parte da galera ficou em dúvida nas alternativas B e D. Como a interpretação de texto da IDECAN é muito complexa, o melhor a fazer é tentar ir eliminando as questões, até ficar com a "menos errada" ou com a "mais correta". A alternativa D está errada pelos seguintes motivos:


    D) indicam que a finalidade do texto não é apenas descritiva, pois através de uma linguagem metafórica é possível estabelecer vínculos entre os elementos apresentados e indagações existenciais.


    1) Metáfora: é uma comparação implícita, não-direta. Você não utilizará comparativos clássicos, como a palavra "como". Ex: João é uma porta = João é grosso, ignorante.

    Veja o que o enunciado pede:

    "pode-se afirmar acerca de elementos como: variedade de cores e tons, as conversas dos pássaros, as “folhas ainda moles” das mangueiras (...) que"

    Esses elementos grifados não são metáforas para indagações existenciais. São, predominantemente, descrições da paisagem, e utilizam da figura de linguagem sinestesia para intensificar essa descrição. Isso valida a alternativa B:

    B) constituem um vocabulário sensorial cuja função é de grande relevância no processo descritivo que predomina no texto.


    2) A metáfora de "indagação existencial" acontece no último parágrafo:

    "Mas houve jamais algum pintor que pudesse fixar esse móvel oceano, inquieto, incerto, constantemente variável que é o pensamento humano?"

    Aqui a autora compara a vastidão do pensamento humano ao oceano. Ainda questiona se seria possível fixar (pintar, representar) o pensamento humano, já que ele é inquieto, incerto, variável (tal qual um oceano) . Ou seja, ela está fazendo uma reflexão, uma indagação existencial.



    Questão difícil.

    Espero ter ajudado.


    Bons estudos!

  • A IDECAN sempre com nível hard em português.