Mário de Andrade, autor do Modernismo brasileiro, teve um importante papel durante a fase
áurea da Semana de Arte Moderna de 1922. Nesse ano, o autor publicou Pauliceia Desvairada,
livro do qual foram extraídos os dois poemas seguintes: “Eu sou trezentos...” e “Inspiração”:
EU SOU TREZENTOS...
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, oh! Pireneus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.)
INSPIRAÇÃO
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!
(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.)
Em “Eu sou trezentos...”, fica clara a característica multifacetada que era atribuída ao autor
Mário, principalmente, por motivo de seu interesse cultural vasto: o próprio título indica isso.
Indique qual expressão, em “Inspiração”, tem esse mesmo sentido multifacetado, que está
diretamente associado às intenções do livro publicado em 1922: