SóProvas


ID
2332321
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Rio Branco - AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Uma estranha descoberta 

  Lá dentro viu dependurados compridos casacos de peles. Lúcia gostava muito do cheiro e do contato das peles. Pulou para dentro e se meteu entre os casacos, deixando que eles lhe afagassem o rosto. Não fechou a porta, naturalmente: sabia muito bem que seria uma tolice fechar-se dentro de um guarda-roupa. Foi avançando cada vez mais e descobriu que havia uma segunda fila de casacos pendurada atrás da primeira. Ali já estava meio escuro, e ela estendia os braços, para não bater com a cara no fundo do móvel. Deu mais uns passos, esperando sempre tocar no fundo com as pontas dos dedos. Mas nada encontrava.
 “Deve ser um guarda-roupa colossal!”, pensou Lúcia, avançando ainda mais. De repente notou que estava pisando qualquer coisa que se desfazia debaixo de seus pés. Seriam outras bolinhas de naftalina? Abaixou-se para examinar com as mãos. Em vez de achar o fundo liso e duro do guarda-roupa, encontrou uma coisa macia e fria, que se esfarelava nos dedos. “É muito estranho”, pensou, e deu mais um ou dois passos.
  O que agora lhe roçava o rosto e as mãos não eram mais as peles macias, mas algo duro, áspero e que espetava.
  – Ora essa! Parecem ramos de árvores!
  Só então viu que havia uma luz em frente, não a dois palmos do nariz, onde deveria estar o fundo do guarda-roupa, mas lá longe. Caía-lhe em cima uma coisa leve e macia. Um minuto depois, percebeu que estava num bosque, à noite, e que havia neve sob os seus pés, enquanto outros flocos tombavam do ar.
  Sentiu-se um pouco assustada, mas, ao mesmo tempo, excitada e cheia de curiosidade. Olhando para trás, lá no fundo, por entre os troncos sombrios das árvores, viu ainda a porta aberta do guarda-roupa e também distinguiu a sala vazia de onde havia saído. Naturalmente, deixara a porta aberta, porque bem sabia que é uma estupidez uma pessoa fechar-se num guarda-roupa. Lá longe ainda parecia divisar a luz do dia.
  - Se alguma coisa não correr bem, posso perfeitamente voltar.
  E ela começou a avançar devagar sobre a neve, na direção da luz distante.
  Dez minutos depois, chegou lá e viu que se tratava de um lampião. O que estaria fazendo um lampião no meio de um bosque? Lúcia pensava no que deveria fazer, quando ouviu uns pulinhos ligeiros e leves que vinham na sua direção. De repente, à luz do lampião, surgiu um tipo muito estranho.
  Era um pouquinho mais alto do que Lúcia e levava uma sombrinha branca. Da cintura para cima parecia um homem, mas as pernas eram de bode (com pelos pretos e acetinados) e, em vez de pés, tinha cascos de bode. Tinha também cauda, mas a princípio Lúcia não notou, pois ela descansava elegantemente sobre o braço que segurava a sombrinha, para não se arrastar pela neve.
  Trazia um cachecol vermelho de lã enrolado no pescoço. Sua pele também era meio avermelhada. A cara era estranha, mas simpática, com uma barbicha pontuda e cabelos frisados, de onde lhe saíam dois chifres, um de cada lado da testa. Na outra mão carregava vários embrulhos de papel pardo. Com todos aqueles pacotes e coberto de neve, parecia que acabava de fazer suas compras de Natal.
  Era um fauno. Quando viu Lúcia, ficou tão espantado que deixou cair os embrulhos.
  – Ora bolas! - exclamou o fauno.
 [...]
LEWIS, C.S. Uma estranha descoberta.In: As Crônicas de Nárnia .Tradução de Paulo Mendes Campos. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p.105-6. Volume único. 

Em “Pulou para dentro e se meteu entre os casacos, deixando que eles lhe afagassem o rosto.” há uma figura de linguagem, denominada:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D
    A prosopopeia é uma "figura de linguagem onde o orador empresta sentimentos humanos e palavras a seres inanimados e animais"(significados.com.br), é exatamente o que ocorre no texto uma vez que os casacos, na verdade, não podem afagar o rosto de ninguém.
    Segue a definição das demais figuras de linguagem citadas nas opções:
     

    Eufemismo: busca suavizar ou minimizar um termo "pesado" (ex: fulano "passou dessa para uma melhor").
    Hipérbole: exagerar em uma expressão (ex: beltrano "morreu" de rir).
    Catacrese: metáfora já absorvida no uso comum da língua, de emprego tão corrente que não é mais tomada como tal, e que serve para suprir a falta de uma palavra específica que designe determinada coisa (ex: "dentes" do serrote; virar um vaso de "cabeça" para baixo; o "nariz" do avião, etc.).
    Metonímia: trocar um termo por outro parecido mas que dá mais "clareza" à ideia que se quer transmitir, exemplo: Eu uso sempre “Bombril”. (palha de aço); Você precisa “ler Shakespeare” ("a obra" de Shakespeare).

  • a) eufemismo. – É a utilização de vocábulos mais leves, para suavizar determinadas mensagens (Ex: “A moça era desprovida de beleza” – desprovida no lugar de “feia”).

    b) hipérbole.  – Torna tudo muito exagerado, além do real (Ex: “Já te avisei um milhão de vezes”).

    c) catacrese.  – Quando se pretende nomear algo que não possui um nome específico. (Exs: “Pé da mesa” e “asa da xícara”)

    d) prosopopeia.  Gabarito – Atribui a seres irracionais ou a objetos ações, qualidades ou sentimentos inerentes aos seres humanos. (Ex: “As ondas beijavam a areia branca da praia”).

    e) metonímia. É a substituição de uma palavra por outra que guardam uma relação entre si, há uma proximidade de sentidos. (Ex: “A viagem à Lua significou um grande avanço para o homem” – A palavra homem foi empregada no lugar de “humanidade”).

     

     

  • EUFEMISMO – É a suavização de uma ideia para evitar o impacto de uma mensagem cruel, negativa ou ofensiva. Ex.: Você está faltando com a verdade!
    HIPÉRBOLE – É o emprego de uma forma exagerada para dar mais expressividade à mensagem. Ex.: Já te falei um milhão de vezes para não fazer mais isso!

    CATACRESE -  Metáfora já absorvida no uso comum da língua, de emprego tão corrente que não é mais tomada como tal, e que serve para suprir a falta de uma palavra específica que designe determinada coisa; abusão (p.ex.: braços de poltrona; cair num logro; dentes do serrote; nariz do avião; pescoço de garrafa; virar um vaso de cabeça para baixo etc.).

    PERSONIFICAÇÃO(ou Prosopopeia) – Consiste na atribuição de uma qualidade típica de seres animados — como fala, movimento, raciocínio, etc. — a seres não humanos ou objetos. Ex.1: O vento dança com as folhas das árvores. Ex.2: “Fiquei trêmulo, muito comovido / Com o livro palerma olhando pra mim.” (Mário de Andrade)

    METONÍMIA – baseia-se na substituição de um termo por outro, quando existe proximidade semântica entre eles.

    a) Substituição da obra pelo autor: “Ver um Portinari”, em vez de “Ver um quadro de Portinari”.

    b) Substituição do conteúdo pelo continente: “Tomar um copo d'água”, em vez de “Tomar a água que está no copo”.

    c) Substituição da parte pelo todo: “O bonde passa cheio de pernas / pernas brancas pretas amarelas”, em vez de “O bonde passa cheio de pessoas de todas as etnias”.

    d) Substituição da causa pelo efeito: “Vivo do suor do meu rosto”, em vez de “Vivo do meu trabalho”.

     

  •  D) Prosopopeia (personificação) - Atribuindo uma caracteristica humana ao casaco.

    “Pulou para dentro e se meteu entre os casacos, deixando que eles (os casacos) lhe afagassem o rosto.”

    Pessoas afagam (acariciam) não casacos.

  • Comparação:  ... e flutuou no ar COMO se fosse um príncipe.

     

    Metáfora:  sua boca é um cadeado.

     

    Catacrese:   os braços do mar.

     

    Metonímia:  Leio Drummond, o nosso poeta.

     

    Antítese:   Queria subir ao céu, queria descer ao mar.

     

    Eufemismo:  Era incapaz de apropriar-se do alheio (roubar)

     

    Gradação: Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata (sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia.

     

    Hipérbole: O travesseiro eu ensopei de lágrimas ardentes.

     

    Prosopopeia:  Dorme, ruazinha, é tudo escuro.

     

     

    Sinestesia:  As derrotas do Corinthians deixam um GOSTINHO de PRAZER nos adversários. (palavras que transmitem sensações)

    gab. D

  • Como toda figura de linguagem, a Personificação / Prosopopeia privilegia o aspecto conotativo.  Empresta ao texto a subjetividade própria deste estilo. E é considerada figura de pensamento, pelo fato de trabalhar com significados escondidos.  Ou seja que estejam implícitos na expressão ou vocábulo.

    E o “sol encantado” com sua beleza, “sorria”. (O sol se anima nestes versos. Se encanta com a beleza e ganha a capacidade de sorrir)

    As “ondas beijavam” a areia branca da praia. (Ondas praticam a ação de beijar.)

  • Dá vida a seres inanimados.