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ID
2332630
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Rio Branco - AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Preto é cor, negro é raça

  O refrão de uma marchinha carnavalesca, de amplo domínio público, oferece uma pista interessante para a compreensão do critério objetivo que a sociedade brasileira emprega para a classificação racial das pessoas: “O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor; mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o teu amor”.
  Escrita por Lamartine Babo para o Carnaval de 1932, a marchinha realça a ambiguidade das relações raciais, ao mesmo tempo em que ilustra a opção nacional pela aparência, pelo fenótipo. Honesto e preconceituoso em sua definição de negro, Lamartine contribui mais para o debate sobre classificação racial do que muitos doutores.
  Com efeito, ao contrário do que pensa o presidente eleito, bem como certos acadêmicos, os cientistas pouco podem fazer nesta seara, além de, em regra, exibirem seus próprios preconceitos ou seu compromisso racial com a manutenção das coisas como elas estão.
  Primeiro porque, como se sabe, raça é conceito científico inaplicável à espécie humana, de modo que o vocábulo raça adquire relevância na semântica e na vida apenas naquelas sociedades em que a cor da pele, o fenótipo dos indivíduos, é relevante para a distribuição de direitos e oportunidades.
  Segundo, porque as pessoas não nascem negras ou brancas; enfim, não nascem “racializadas”. É a experiência da vida em sociedade que as torna negras ou brancas.
   “Todos sabem como se tratam os pretos”, assevera Caetano Veloso na canção “Haiti”.
  Em sendo um fenômeno relacional, a classificação racial dos indivíduos repousa menos em qualquer postulado científico e mais nas regras que regem as relações, intersubjetivas, econômicas e políticas no passado e no presente.
 Negro e branco designam, portanto, categorias essencialmente políticas: é negro quem é tratado socialmente como negro, independentemente de tonalidade cromática. É branco aquele indivíduo que, no cotidiano, nas estatísticas e nos indicadores sociais, abocanha privilégios materiais e simbólicos resultantes do possível mérito de ser branco. Esse sistema funciona perfeitamente bem no Brasil desde tempos imemoriais.
  A título de exemplo, desde a primeira metade do século passado, a Lei das Estatísticas Criminais prevê a classificação racial de vítimas e acusados por meio do critério da cor. Emprega-se aqui a técnica da heteroclassificação, visto que ao escrivão de polícia compete classificar, o que é criticado pela demografia, que entende ser mais recomendável, do ângulo ético e metodológico, a autoclassificação.
   Há um outro banco de dados no qual o método empregado é o da autoclassificação: o Cadastro Nacional de Identificação Civil, feito com base na ficha de identificação civil, a partir da qual é emitida a cédula de identidade, o popular RG. Tratase de uma ficha que pode ser adquirida em qualquer papelaria, cujo formulário, inspirado no aludido Decreto-Lei das Estatísticas Criminais, contém a rubrica “cútis”, neologismo empregado para designar cor da pele. Assim, todas as pessoas portadoras de RG possuem em suas fichas de identificação civil a informação sobre sua cor, lançada, em regra, por elas próprias.
  Vê-se, pois, que o Cadastro Nacional de Identificação Civil oferece uma referência objetiva e disponível para o suposto problema da classificação racial: qualquer indivíduo cuja ficha de identificação civil, dele próprio ou de seus ascendentes (mãe ou pai), indicar cor diversa de branca, amarela ou indígena, terá direito a reivindicar acesso a políticas de promoção da igualdade racial e estará habilitado para registrar seu filho ou filha como preto/negro.
  Fora dos domínios de uma solução pragmática, o procedimento de classificação racial, que durante cinco séculos funcionou na mais perfeita harmonia, corre o risco de se tornar, agora, um terrífico dilema, insolúvel, poderoso o bastante para paralisar o debate sobre políticas de promoção da igualdade racial.
  No passado nunca ninguém teve dúvidas sobre se éramos negros. Quiçá no futuro possamos ser apenas seres humanos.
SILVA JÚNIOR, Hédio. Preto é cor, negro é raça. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 dez. 2002. Opinião, p.A3.

A frase “É a experiência da vida em sociedade que as torna negras ou brancas.”, como efeito expressivo, mostra:

Alternativas
Comentários
  • Gab. B

    A antítese foi bastante utilizada como recurso estilístico pelos autores do período Barroco, que encontravam nessa figura de linguagem a maneira ideal de expressar os conflitos fundamentais desse estilo: a oposição entre Deus e o diabo, Céu e Inferno, carne e espírito, amor e ódio, vida e morte. Por relacionar palavras opostas, a antítese é frequentemente confundida com o paradoxo, mas há diferenças. A antítese corresponde à aproximação de idéias diferentes em uma mesma sentença, mas cada palavra volta seu sentido para um referente. Já no paradoxo, a oposição de ideias se dá em relação a um mesmo referente. Consideremos as seguintes frases: “Eu corro enquanto o mundo pára” e “Estou correndo parado”. A primeira corresponde a uma antíteses e a segunda a um paradoxo.

    fonte:http://www.figurasdelinguagem.com/antitese/

  •    A) Linguagem hiperbólica > Liguagem exagerada.

    * B) Antítese> contrastes, palavras que se opõem. *

      C) Pleonasmo > repetição de ideia. Ex: Entrar para dentro.

      D) Paradoxo> falta de lógica, nexo.

      E) Metonímia > dão ênfase ao discurso. Ex: Um homem sem teto. > Um homem que não tem casa.

     

  •  Errei porque tentei relacionar "A experiência da vida" que é subjetivo com o fato de "tornar negras ou brancas". Por eliminação fui na letra A. :/

  • Antítese X Paradoxo

    Na antítese há PALAVRAS contraditórias, como: Negra/branca, grande/pequeno

    Enquanto no paradoxo, temo IDEIAS contraditórias: Os mesmos braços que transmitiam abrigo, hoje transmitem solidão.

    Sinalizem qualquer erro.

  • Não consegui perceber onde o autor tentou aproximar palavras de sentido opostos, são de fato antônimas, mas não houve essa intenção de aproximar lás,

    Ex. Eu vi a cara da morte e ela estava viva...