Leia o texto, para responder à questão.
O que é a paixão senão um sentimento imenso que nos
tira a razão? Quando estamos apaixonados, não queremos
nada, além daquilo ou daquele que nos hipnotizou.
Ficamos cegos e nada mais faz sentido. Tudo em nossa
volta se transforma em um nevoeiro, cinza e espesso, permitindo
ver apenas o que tanto queremos.
Todos nos apaixonamos, seja por alguém ou por algo, e
de repente nossos corações perdem a harmonia das batidas.
De repente somos fisgados por algo que nos conquistou.
Não somente os jovens, adultos ou velhos se apaixonam.
As crianças também. E, assim, um dia caí na armadilha de
um cupido mal-intencionado.
Eu era criança, não lembro minha idade, mas lembro que
aqui no hospital amanhecera. Dava para sentir o calor da luz
do sol e o silêncio que pairava no ambiente do quarto onde,
sozinho, eu ficava.
Em instantes, alguém, que estava ali para cuidar de mim,
entra no quarto. Havia uma vitrola e, para permitir um momento
agradável, essa que veio ser minha cuidadora pôs um
disco para tocar. Não tenho certeza, mas era um vinil com
canções românticas de uma dessas novelas.
Não sei como foi, mas lembro até hoje o nome dessa
que, naquele dia, me ofertou grande afeto. Seu nome era
Silvana, e lembro que ela tinha cabelos compridos e loiros.
Enquanto a música tocava, eu sentia que algo não estava
certo com ela. Parecia que, apesar de estar diante de mim,
estava com seu coração em outro mundo.
Mesmo assim, eu me sentia bem e feliz. Depois do
banho e do café da manhã, ela sai do quarto para outras
tarefas. Embalado pelas músicas da vitrola, fico vislumbrando
a paisagem da janela. Bem ao longe, em cima do prédio da
Faculdade de Medicina, em frente ao Instituto onde fico, uma
bandeira do Brasil dança ao ritmo do vento que a embala.
Muitos momentos, quando se é garoto, são como fotografias,
nas quais o maior sentimento que se expressa é a
solidão.
A música parou de tocar, e assim voltei meu olhar para
o quarto em que somente eu estava presente. Não demorou
muito para que Silvana voltasse e colocasse outro disco.
Poucas horas depois, irei dormir feliz, pois o carinho e o afeto
que Silvana me permitiu deixarão um doce conforto. Como o
filho de que a mãe cuida, fecho meus olhos, tranquilo e feliz.
Mas, infelizmente, nada dura para sempre. Veio outra
pessoa cuidar de mim no dia seguinte, e no lugar do afeto
que Silvana trazia, não veio o desprezo, mas alguém em
quem eu mal poderia encontrar conforto. Aos soluços, pedi
de volta a Silvana que tinha cuidado de mim no dia anterior.
A resposta das minhas súplicas foi que ela não viria mais.
(Paulo Henrique, Minha primeira paixão. Disponível em:
www.folha.uol.com.br. Acesso em 16.02.2016. Adaptado)
Ao falar da experiência da paixão, o narrador do texto a
caracteriza como